Por Thais Carvalho Diniz, via Uol
Cerimônia, festa, roupas, madrinhas, padrinhos e outros tantos detalhes que envolvem um casamento certamente geram estresse. E, apesar de muitos noivos declararem que a expectativa traz um sentimento positivo, para outros pode virar um problema depois de ver o sonho concretizado. O termo “depressão pós-casamento” não existe oficialmente, mas é o nome dado à tristeza e frustração profundas que podem acometer os recém-casados.
Mais comum em mulheres, esse problema é considerado um estado depressivo, o que o difere da depressão. “A correria da preparação para a cerimônia pode ser muito estressante e colabora para gerar esse estado depressivo depois que tudo foi consumado. E é a somatória da fase pré-casamento com o choque da troca de papéis – de filho para marido/mulher – e de frustrações relacionadas às expectativas do dia a dia, que podem culminar nesse sentimento de tristeza profunda”, explica a psicóloga e escritora Olga Tessari.
Os sintomas são os mesmos de uma pessoa doente por depressão, como a tristeza profunda, angústia, medo e ansiedade. A diferença está no tempo de permanência, já que o estado depressivo é passageiro. “Isso só vai aparecer em pessoas com tendência à depressão, mesmo que a doença ainda não tenha se manifestado. O problema pode progredir e culminar em uma depressão, se não for tratado”, fala o psicólogo Alexandre Bez, especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami, nos Estados Unidos.
De acordo com Iracema Teixeira, psicóloga-doutora em relacionamento pela URFJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e presidente da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana), deve-se dar maior atenção quando os sintomas, inclusive a dificuldade de se adaptar à nova condição de vida, afetam o relacionamento afetivo-sexual e o equilíbrio das funções orgânicas –alterações no sono e na alimentação, por exemplo.
“Toda transição envolve mudanças profundas, externa e internamente. Pode ser muito complicado lidar com os desafios da vida conjugal, como o convívio diário sem o glamour da conquista, que podem levar a um estado de tensão contínuo. Muitos não sabem que viver junto dá trabalho. Não basta amar, é necessário criar novos comportamentos, sim, o que não significa ter de mudar a sua personalidade. É uma adaptação e exige paciência”, diz.
Prejuízos e medidas de tratamento
Não há um estudo feito sobre o número de separações no início da união que sejam decorrentes da depressão pró-casamento, mas, de fato, esse estado, se não tratado, pode culminar no divórcio, mesmo que haja amor e desejo de ficar junto.
“Esse tipo de problema pode colaborar para uma separação, justamente porque a pessoa no estado depressivo já não é mais aquela por quem seu parceiro se apaixonou e sonhava viver feliz. Por isso, uma vez detectada a situação, o casal deve procurar ajuda para evitar piores desdobramentos, visto que. nos dias atuais, as pessoas não procuram persistir por muito tempo nos relacionamento quando se deparam com dificuldades”, fala Olga.
O psicólogo Alexandre Bez alerta para outros fatores que podem ajudar a identificar e que também podem desencadear uma crise no relacionamento do casal. “Qualquer síndrome mental tem como característica o isolamento, e isso vai atrapalhar a sociabilidade do par. Cuidados com higiene também vão sendo deixados de lado e, consequentemente, pela tristeza e angústia profundas, há o afastamento sexual”.
“A pessoa deprimida pode apresentar intolerância, irritabilidade, falta de iniciativa no dia a dia. Muitas vezes, se força ao sexo agravando ainda mais a situação, levando ao surgimento de uma disfunção sexual, como, por exemplo, a erétil, aversão ao sexo, dispareunia (dor durante a penetração)”, exemplifica Iracema, que fala ainda que pressionar o par para ele melhorar pode agravar a situação.
Além da terapia convencional para a pessoa em estado depressivo, o casal pode buscar medidas práticas no dia a dia para ajudar a sanar o problema, pois reconhecer a crise nem sempre é o suficiente. Por isso, novas posturas devem ser adotadas pelos recém-casados.
“Dar atenção à qualidade da relação é muito importante. Não é porque são recém-casados que não precisam mudar nada. Nenhum relacionamento é perfeito e sempre precisará de cuidados, ainda mais em momentos de mudança. É preciso enxergar os pontos negativos e consertá-los”, finaliza Alexandre.