10 coisas que devemos ou não fazer ao saber de casos de estupro

Por Thamires Andrade

O caso do estupro coletivo da jovem de 16 anos no Rio de Janeiro chocou a sociedade e tem sido um dos assuntos mais comentados na internet nos últimos dias. Com a grande repercussão, as reações observadas nas redes sociais foram as mais diversas. Desde gente culpando a vítima pelo que aconteceu até debates para desconstruir pensamentos machistas e da cultura do estupro –atos e comportamentos que legitimam a violência contra a mulher.

Para colaborar com um debate positivo sobre o assunto, o UOL reuniu dez coisas que se deve ou não fazer ao tomar conhecimento de casos de estupro.

Fontes: Luíse Bello, ativista e gerente de conteúdo e comunidade do site feminista Think Olga; Patricia Peck Pinheiro, advogada especialista em direito digital, e Thaysa Malaquias, ativista e integrante do coletivo feminista Não Me Khalo. 

O QUE FAZER

  1. Denunciar

    Ao receber um vídeo e/ou imagem que esteja expondo a intimidade de outra pessoa, a decisão mais correta é denunciar esse conteúdo para que ele pare de circular o mais rápido possível. Toda ferramenta social (Whatsapp, Facebook, Instagram, entre outras redes) possui um canal de denúncia, portanto, o primeiro passo é procurar esse espaço. Outros sites também são úteis para o cidadão comum que deseja denunciar esse tipo de material, como o Atendimento Cidadão (www.cidadao.mpf.mp.br) e o Digi-Denúncia (www.prsp.mpf.gov.br/aplicativos/digi-denuncia), ambos do MPF (Ministério Público Federal), e o Safernet Helpline (www.new.safernet.org.br/helpline). Essas denúncias auxiliam a estabelecer políticas públicas de combate a permanência desses conteúdos na rede, além de virar alvo de investigações que podem chegar em grupos de pedofilia, por exemplo. Outra opção possível para denunciar é ir em qualquer delegacia com o vídeo recebido.

  2. Protestar

    Uma boa maneira de protestar e mostrar indignação diante de casos como esse do Rio de Janeiro é escrever textos, discutir sobre o assunto com colegas, desconstruir pensamentos machistas de familiares e amigos e participar de manifestações nas ruas. O espaço virtual é um bom meio para disseminar conteúdo, no entanto, as pessoas tendem a ser mais agressivas na internet –muito porque se julgam protegidas pelo anonimato– do que em um debate presencial, quando se mostram mais empáticas.

  3. Conversar com quem tiver mandado vídeo e/ou imagem do crime

    Se quem tiver mandado o vídeo e/ou imagem com a intimidade de outra pessoa for algum familiar ou amigo, converse para que repense a postura. Você deve explicar que a ação de compartilhar/distribuir/possuir esse conteúdo é crime. Deixe claro que não deseja mais receber esse tipo de material novamente.

  4. Discutir sobre gênero nas escolas

    Para combater a cultura do estupro, é preciso abordar a temática de gênero nas escolas com as crianças. Ignorar temas como desigualdade de gênero, consentimento e o respeito ao corpo do outro faz com que o estupro vire um tema tabu. As crianças são expostas a questões de gênero desde cedo, basta pensar em alguns ditados machistas que escutam dos pais como “amarra suas cabras, que meu bode está solto”. Ao falar de gênero nas escolas, a conscientização sobre o tema será maior e, assim, a ação será focada na prevenção da violência contra a mulher e não só na punição dos casos.

O QUE NÃO FAZER

  1. Questionar o comportamento da vítima

    Não importa o comportamento que a pessoa tenha, nada anula o fato de que ela foi vítima de um crime. Quando uma mulher denuncia a violência que sofreu, a reação da sociedade machista é encontrar nela algum antecedente na sua conduta que a responsabilize por isso. “Será que ela procurou?”, “O que estava fazendo lá?” ou “O que ela estava vestindo?”. Os detalhes da vida pessoal dela não interessam a ninguém. Quem precisa ser investigado é o acusado e não a vítima. Não raro, a sociedade costuma inverter esses papéis e passa a investigar o passado de quem sofreu o estupro e não de quem cometeu.

  2. Fazer piada com o tema

    Pode parecer óbvio essa recomendação, no entanto, o estupro coletivo que aconteceu no Rio de Janeiro foi alvo de várias brincadeiras sem graça. Quem faz piada com um crime dessa magnitude não tem empatia com as mulheres em geral, já que isso pode acontecer com qualquer uma, independentemente de classe social, etnia e comportamento.

  3. Ficar na defensiva

    Muitos homens adotaram uma postura defensiva nas redes sociais, negando serem estupradores e fazerem parte da cultura do estupro. Em vez de ficar na defensiva, colocar-se fortemente contra a violência contra a mulher ajuda a combater futuros crimes. No Brasil, a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada. Colocar os 33 envolvidos no crime do Rio como monstros os afasta da realidade. Eles são homens comuns, machistas que se sentiram no direito de violar e agredir a jovem daquela maneira.

  4. Tratar estupro como ato sexual

    Muita gente acredita que o estuprador é um cara com tesão descontrolado. No entanto, o estupro não é um ato sexual, mas, sim, um ato de poder, domínio e desigualdade de gênero. É o domínio do estuprador sobre a vítima.

  5. Divulgar o vídeo e/ou imagem do crime

    Muitas mulheres ficaram indignadas com o crime e acabaram enviando o vídeo do estupro coletivo do Rio para outras pessoas. No entanto, ao compartilhar e/ou manter no seu celular um vídeo íntimo de alguém, a pessoa também está infringindo a lei. Nesse caso, pode ser responsabilizada por distribuir pornografia infantil, já que a vítima tem 16 anos. Em outras circunstâncias, a atitude poderia ser enquadrada como crime de difamação e contra a honra. O ideal é não se tornar mais um vetor a espalhar esse conteúdo nas redes sociais.

  6. Tentar se aproximar da vítima

    Adicionar a vítima no Facebook ou tentar qualquer outra aproximação é um ato invasivo. Já é muito que ela tenha de lidar com os danos psicológicos causados pela violência que sofreu. A pessoa não precisa ainda receber uma série de solicitações de amizade de gente que não conhece. Em casos muito noticiados, como o do estupro coletivo no Rio de Janeiro, a vítima recebe muita atenção da mídia, além de diversas mensagens de crítica e de apoio. O importante é preservá-la ao máximo e deixá-la segura. Mostrar apoio é legal, mas deixe o perfil pessoal da vítima fora disso.

TEXTO ORIGINAL DE UOL ESTILO

Psicologias do Brasil

Informações e dicas sobre Psicologia nos seus vários campos de atuação.

Share
Published by
Psicologias do Brasil
Tags: estupro

Recent Posts

O que a psicologia diz sobre pessoas que sempre chegam cedo a todos os lugares

A psicologia sugere que a pontualidade extrema pode estar ligada a mais do que apenas…

11 horas ago

Filme biográfico impressionante que acaba de estrear na Netflix é uma lição de vida para todos

Um filme emocionante que homenageia os esforços pouco conhecidos de mulheres destemidas, oferecendo uma lição…

12 horas ago

Você sabe qual é a primeira coisa que as visitas reparam na sua casa? Não é a bagunça!

Receber visitas em casa é sempre um momento especial, mas você já parou para pensar…

1 dia ago

Minissérie de suspense em 6 episódios na Netflix é tão envolvente que dá vontade de devorar

Uma obra que prende a atenção do início ao fim, recomendada para aqueles que apreciam…

1 dia ago

Novo filme da Netflix que não sai do TOP 10 está deixando todo mundo com uma pulga atrás da orelha

A trama original e intrigante deste filme tem impressionado os assinates da Netflix.

4 dias ago

Adolescência: por que psicóloga deu sanduíche a Jamie? Especialista explica

A psicanalista Karla Paulina Sánchez Horta destrinchou o terceiro episódio da minissérie da Netflix e…

4 dias ago