Uma animação que superará todas as suas expectativas no que se refere a humor, emoção e análise psicológica dos personagens.
Na nova animação dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha, “O Touro Ferdinando” (Ferdinand the bull), temos a apresentação de Ferdinando , uma touro doce e tranquilo que vê a vida com de forma leve e delicada, mas que, devido ao seu grande tamanho e imponência, um dia é confundido com um animal que oferece risco a sociedade e acaba sendo levado para ser um touro de touradas.
A animação que já concorre ao Oscar, foi lançada no Brasil no último dia 11 de janeiro e tem sido um sucesso. É impossível assistir essa versão baseada no clássico da literatura infantil homônimo e sair impune.
Após acompanhar a estréia em Belo Horizonte junto com minha sobrinha de 7 anos, elaborei para vocês uma série de razões que justificam a sua presença no cinema para que você descubra que, provavelmente, esse lindo trabalho artístico perpetuará ainda mais a imagem de clássico atemporal dessa história.
Boa leitura
Josie Conti
Uma das grandes sacadas da indústria da animação contemporânea é que ela descobriu que, para ter uma boa bilheteria, as animações devem ter características que agradem a todas as faixas etárias. “O touro Ferdinando” traz questionamentos sociais profundos e que regem a vida de todas das pessoas nas mais variadas fases de sua vida, tais como: que caminho seguir, escolha profissional, papel social a ser desempenhado, tipo físico e como ele se esquadra na sociedade ou mesmo as expectativas que recebemos em relação a tudo isso. Isso, claro, sem esquecer do peso que carregamos simplesmente por ter nascido em uma determinada família ou ambiente.
A animação aborda fortemente a questão da competividade e questiona até que ponto as pessoas podem ir para vencer. Também mostra que essa competitividade pode trazer isolamento social e solidão, mesmo que os personagens (e nós mesmos) estejam próximos de outras pessoas (ou animais! ? )
A animação dá bastante destaque para o papel amoroso do pai de Ferdinando e de sua representação em sua vida posterior, após sair de dentro da fazenda de treinamento para touros de tourada. Mostra, ainda, que as pessoas que mais amamos podem também nos escolher e serem escolhidas por nós, que existem novos lugares e diferentes caminhos a seguir.
Diferente da animação Okja, que aborda a questão da indústria da carne de uma maneira mais adulta, chocante e forte, “O Touro Ferdinando”, com um pouco mais de sutileza, também a aborda mostrando como é a realidade dos matadouros. Mostra, ainda a questão da descartabilidade daqueles que já não nos são úteis. Com relação as touradas, mais uma vez mostra que, apesar de ser um evento social, ela não faz sentido porque gera maltratos e uma morte injusta e dolorosa aos animais- e tudo isso por simples vaidade.
A animação é genial ao indicar que nossas escolhas podem ser arriscadas e trazer consequências. Deixa claro o quanto ser diferente, mudar ou mesmo questionar as pessoas que estão ao nosso redor é difícil (com cenas de bullying e discriminação). É possível fazer uma analogia com relação a qualquer classe social, étnica ou orientação sexual em que as pessoas sofrem com o preconceito simplesmente por serem diferentes.
“O touro Ferdinando”mostra como uma flor cresce quando encontra o terreno propício. Mostra, também, como as pessoas são felizes quando são aceitas e como todo o resto pode se tornar insignificante frente ao cultivo do que é essencial. No final das contas, nenhum risco é grande o bastante para salvar uma grande amizade.
Mais uma vez, de forma sutil e inteligente, mostra que nossas figuras mais confiáveis também podem errar, assim como nem sempre sabem o que é melhor para nós- mesmo que, em determinado momento, eles tenham feito o que podiam dentro daquela realidade em que estavam inseridos. Para além disso, indica como é possível perdoar aqueles que erraram conosco se soubermos que, naquele espaço de tempo, eles não tinham o conhecimento necessário para agir diferente.
Seja através dos personagens que são coadjuvantes do querido Ferdinando ou mesmo de suas peripécias- decorrentes de um animal de várias centenas de quilos- e que nem sempre cabe onde está- “O touro Ferdinando” e seus amigos garantem cenas para gargalharmos até perdermos o fôlego. Isso, claro, antes, durante e depois de nos emocionar novamente.
Vocês já perceberam no quanto entristecemos quando não podemos ser quem realmente somos? Calar nossos sentimentos e sensibilidade gera uma perda da própria identidade, dá margem para o adoecimento físico e emocional e faz com que nossos dias se arrastem. “O touro Ferdinando” sabe quem ele é e , aos poucos, vai mostrando aos outros que ser diferente não significa ser menos. Aliás, ser diferente pode ser muito mais!
Afinal, quantos de nós temos em nosso avesso essas mesmas indagações. É por isso que quando vemos essas características em um personagem que nos mostra como superou as dificuldades, também percebemos que, por mais complexa que a saída pareça ser, ela é possível também em nossas vidas.
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