Por Lisa Esposito
Ressentimento é uma blusa velha e piniquenta que você não consegue jogar fora – porque, se jogar, como vai se esquentar? É parte da natureza humana: quase todo mundo guarda rancor.
Não é fácil libertar-se de ressentimentos que crescem a ponto de quase ganhar vida própria. Mas o alívio e a leveza que você vai sentir valem a pena. Abaixo, terapeutas explicam como os ressentimentos te prejudicam, e dão um passo-a-passo para deixar os rancores para trás.
Os imperdoáveis
O parceiro infiel, o pai ou mãe que não eram atenciosos, o ex-melhor amigo que te rejeitou. O bully do trabalho, o criminoso, até você mesmo, quando era jovem. A mágoa é real. E agora?
Depois de uma infidelidade, o ímpeto de se proteger da dor é normal, diz Jeff Harris, gerente do programa de assistência a funcionários da Universidade do Sul da Califórnia.
“Reconhecemos que fomos magoados e estamos impotentes e vulneráveis”, diz Harris, conselheiro licenciado para casais, famílias e crianças. “Não gostamos dessa vulnerabilidade, e tudo bem – isso faz parte da natureza adaptável do ser humano.”
Guardar um ressentimento pode ser uma “moeda de troca” que um dos parceiros pode usar a qualquer momento no relacionamento, diz Harris. “Não venha reclamar de mim – lembra daquela vez…?”
Mas manter o parceiro à distância por causa de uma desconfiança impede que o relacionamento se aprofunde, afirma Harris, mesmo quando um parceiro se desculpa e muda o comportamento.
Às vezes a desculpa nunca vem, é claro. Neste caso, é como uma “cicatriz” se formasse, diz Nancy Colier, psicoterapeuta e guia espiritual de Nova York.
“Podemos mostrar isso para os outros: ‘Fui injustiçada e estou com raiva’. É uma maneira de conseguir um pouco de afeto”, diz Colier. “Mas, em vez de uma expressão autêntica de afeto, isso se sedimenta na nossa identidade de alguém que foi injustiçado.”
Ressentimentos podem ser corrosivos para nossa saúde física e mental. Ficar preso num estado de raiva faz com que o corpo opere no modo luta ou fuga, explica Karen Swartz, psiquiatra da Universidade Johns Hopkins, em um artigo de julho de 2014 sobre o poder curador do perdão.
Hormônios liberados no sangue podem aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca. E o estado mental negativo e desconfiado pode afetar outros relacionamentos.
Os passos para deixar para lá
Ressentimentos levam tempo para crescer, e livrar-se deles é um processo. Você pode seguir esses passos por conta própria ou com a ajuda de um terapeuta.
1. Reconheça a mágoa. Você foi injustiçado, e isso é real. Descrever o que aconteceu e como você se sentiu é um começo – seja escrevendo um diário ou uma carta que você nunca vai enviar para a pessoa que te magoou. Contar essas verdades pode ser “um processo incrivelmente poderoso, quando você coloca os responsáveis numa cadeira imaginária e expressa sua raiva”, diz Colier.
E Harris aconselha: “Dê-se crédito pelo que você fez para tentar lidar com a ofensa original”.
2. Perdoe. Perdoar alguém que te magoou é um presente que você dá para si mesmo. Isso não significa que você tem de esquecer a ofensa.
Não se trata de fazer a outra pessoa agir de forma diferente. Pode ser até mesmo perdoar-se a si mesmo por algo que você tenha feito.
3. Entenda que perdoar não significa concordar. “Aceitação não significa concordância”, diz Harris. “As pessoas podem ter um bom senso de justiça e equidade e, apesar de entenderem logicamente – que é importante deixar para lá; que não se pode controlar tudo –, elas temem que, abandonando a briga, o culpado vai achar que saiu vitorioso, ou que a vítima concorda com o que foi feito.”
O que a aceitação realmente significa, diz ele, é: “Não posso voltar no tempo e criar uma nova versão do passado”.
4. Pergunte a si mesmo: por quê? As pessoas percebem que o ressentimento é um problema quando sentem que não conseguem evoluir, diz Colier.
A mágoa começa a parecer coisa antiga, que não importa mais tanto assim. Mas… deixar para lá parece ameaçador, diz ela, porque isso significa abrir mão da atitude:
“Olha o que aconteceu comigo”. Você também pode ter medo de perder o ressentimento, pois isso vai te deixar se sentindo vazio. Na verdade, você estará criando espaço para que sentimentos mais saudáveis ocupem aquele espaço.
5. Considere a troca. “Pense nos benefícios que você terá quando se comprometer a perdoar”, diz Harris. “Muitas vezes, estamos falando de paz de espírito, economia da energia pessoal desperdiçada com o ressentimento, uma sensação de liberdade e a capacidade de renovar a confiança de forma mais genuína.”
6. Não deixe que a raiva te defina. As pessoas conseguem perdoar injustiças terríveis, até mesmo crimes hediondos. “Fiquei muito tocado com os frequentadores da igreja da Carolina do Sul que, dias depois do atentado (que deixou nove mortos), vieram a público e discutiram abertamente o perdão do atirador”, disse Harris.
“Elas ainda tinham o direito de ver a Justiça ser feita. Mas não queriam que o ato violento de uma pessoa definisse suas vidas dali em diante.”
7. Preste atenção no que dizem os outros. Amigos próximos costumam ser boas referências quando você fala de mágoas do passado. Até mesmo os ouvintes mais pacientes vão se cansar.
Quando as pessoas disserem que você está parado, é hora de encontrar uma nova narrativa.
8. Mude a conversa. Se você é quem ouve os lamentos de algum amigo ou parente, diz Colier, pode perguntar por que a pessoa insiste em reviver o passado.
Mas, se estiver farto, seja direto. É “completamente aceitável” dizer (de forma gentil): “Não consigo mais ouvir isso. Não espero que você deixe para lá, mas também preciso de cuidados”.
9. Pratique. Empatia gera perdão. Reconhecer a perspectiva do outro – que ele ou ela também tem mágoas não-resolvidas ou que agir em causa própria pode causar conflitos inevitáveis com seus interesses – pode ajudar a lidar com a mágoa.
Um exercício: visualize uma corda grossa unindo você à pessoa que você quer perdoar e largue a corda. Afirmações diárias, escrever um diário, meditação e monitoramento dos pensamentos e atitudes também ajudam.
10. Não se passe por vítima. Colier lembra de uma mulher que passou anos reclamando da desatenção da mãe.
Não importava a vida adulta, tudo tinha a ver com essas questões do passado. No fim das contas, a mulher entendeu “como essa pessoa irritada e injustiçada sempre foi para ela”, diz Colier. “Ela começou a perceber que isso nunca a ajudou. Não tinha permitido que ela fosse vulnerável.”
11. Aceite-se. Deixar ressentimentos no passado gera revelações e transformações, como Colier viu no caso da mulher do item acima. “Surgiu uma pessoa completamente nova – com camadas, texturas, sentimentos”, diz ela.
12. Desenvolva graça. “Incentivo [as pessoas] a adotar uma forma avançada de perdão, que chamo de graça”, diz Harris. “Praticar a graça é deixar o perdão embalado e à disposição numa prateleira, pronto para uso quando uma pessoa importante da sua vida (parceiro, filho, pai ou colega de trabalho) te magoar.
Quando já perdoamos os outros por ofensas futuras, não criamos ressentimentos.”
(Texto publicado originalmente no U.S. News & World Report.)
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST
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