Por Talita Rosetti Souza Mendes*
Em 2011, conheci o livro “Os 13 porquês” , de Jay Asher, por meio de uma grande rede escolar carioca – onde trabalhava na época como professora de Redação. O professor com quem eu dividia a série havia feito essa escolha e, imediatamente, me adiantou suas razões para desenvolvermos um trabalho com os alunos. Na época, houve questionamentos, visto que o livro apontava certos tabus, apresentava temas sensíveis e, claro, mexia com o imaginário dos discentes. O livro foi mantido e muitas propostas bacanas com os adolescentes nasceram dessa experiência – esse é um dos motivos pelos quais escrevo esse texto.
Seis anos depois desse episódio na escola e dez anos após o primeiro lançamento da obra escrita, a série 13 REASONS WHY, baseada no livro, foi lançada pela rede Netflix, uma das mais visitadas por adolescentes brasileiros, o que significa que – longe dos muros das escolas – eles terão (ou já tiveram) acesso ao conteúdo, muitas vezes, de forma independente e, infelizmente, solitária.
Diante disso, pais, amigos e professores têm me perguntado o que eu – como educadora e profissional da linguagem – considero sobre o acesso de jovens ao com livro (cuja indicação etária é de 13 anos) + série (estrategicamente, creio eu, sem indicação etária pelo distribuidor). Muitos têm me feito, abertamente, a pergunta:
– Você permitiria que seus filhos adolescentes assistissem a essa série?
De forma franca, eu respondo: não só permitiria, como também faria um acompanhamento de como foram interpretadas as questões assistidas. De verdade, considero que jovens precisam entrar em contato com temas importantes para eles e para a sociedade, dialogando com seus pais, com seus amigos, com seus professores, com seus terapeutas e com quem mais se sintam à vontade para isso.
Em século XXI, proibir é tão ultrapassado quanto não assumir que precisamos conversar sobre violência sexual, alcoolismo, exclusão, depressão e bullying. É preciso acompanhar, conversar, ensinar e, sobretudo, dar espaço para que eles falem o que enxergam em seus meios sociais. Acreditem: eles contam seus segredos quando não têm medo e têm certeza de que podem contar conosco.
Muitos vão afirmar, categoricamente, que já viram aquelas cenas nos corredores das próprias escolas – que negligenciam, por diversas razões, o estado emocional de seus constituintes – uma das principais justificativas pelas quais educadores deveriam também se interessar pelo conteúdo.
Ter essas informações e fazer com que elas adquiram viés crítico é importante para todos nós, certo? Novamente, reitero que pais também precisam acompanhar o ritmo dos filhos. Isso não significa que tenham que estar ao lado do adolescente como fiscal no sofá da sala. Cada um pode ver a seu modo, em seu espaço, em seu tempo – com suas emoções preservadas. Podem, depois, conversar sobre a série durante uma atividade em família (almoço, jantar, caminhada). Diálogos comuns estreitam laços. Adolescentes precisam ouvir e se expressar: essa é a máxima de uma boa relação. Mais do que nunca, é disso que precisamos em um mundo com excesso de estímulos e com problemas emocionais à flor da pele.
Eu não tenho filhos ainda, mas trabalho com 450 adolescentes por ano. Jovens com histórias diferentes – que erram-e-acertam, que se descobrem, que desvendam o outro e a sociedade de maneiras, às vezes, incríveis – às vezes, tristes demais. Quase todos eles se identificarão com algum personagem da série. Isso é suficiente para que façamos um acompanhamento lúcido e nada careta sobre perdas e ganhos durante essa fase tão conturbada e lotada de conflitos que é a adolescência. Se é uma série para eles, certamente, é uma série para nós também.
“Você precisa aprimorar a forma como adolescentes cuidam uns dos outros” – diz um dos personagens a um adulto em um dos capítulos mais emblemáticos da temporada. Essa é a grande lição/missão que fica para nós: os adultos da relação. Assistam e tirem suas conclusões. O diálogo aqui também é aberto: deixem seus comentários sobre a experiência.
TEXTO ORIGINAL DE CONTIOUTRA