Chamamos de Autismo a condição clínica determinada por uma configuração neuropsicobiológica, que tem como resultado dificuldades na interação social, no desenvolvimento da linguagem e na abertura para interesses do mundo ao redor.
Neste artigo, nossa proposta é dar algumas dicas que facilitarão sua comunicação com um autista, seja ele seu filho(a), irmã(o) ou qualquer outro ente querido. Nossa finalidade, com esta iniciativa, é tornar um pouco mais fácil o convívio humano, facilitando, principalmente, a vida desses autistas. Quanto mais o cuidador ou o professor ou qualquer outra pessoa envolvida diretamente numa relação com um autista entender as particularidades do seu mundo, mais autêntica poderá ser a relação estabelecida e menos frustrante para os dois lados envolvidos.
O autista tem dificuldades importantes na interpretação de elementos não-verbais da linguagem. Isso quer dizer que sinalizações óbvias para os não-autistas, como perceber que uma pessoa está triste sem que ela verbalize este sentimento, mas os expresse pela sua mímica, tom de voz ou postura corporal, pode assumir a complexidade de um enigma para os autistas.
Deste modo, os outros seres humanos sempre estarão rodeados de uma aura de mistério e imprevisibilidade, fazendo com que a convivência social se torne uma fonte permanente de ansiedade para o autista, que só conta com a inteligibilidade do que é expressamente falado para se orientar quanto ao que esperar das outras pessoas.
Para o autista: E esse outro ser humano que se aproxima? O que será que ele quer? Vai me agredir? Tenho que reagir de algum modo específico? O que todas essas pessoas estranhas esperam de mim? Sou igual a elas? Não sou?
Assim, fica evidente o motivo da “paixão pelo imutável” dos autistas (expressão utilizada por Leo Kanner, que descreveu pela primeira vez o mundo dessas pessoas para os não-autistas).
Repetir sistematicamente rotinas para se vestir, para chegar ao trabalho, para se alimentar, etc., torna um pouco menos imprevisível o mundo à nossa volta. O “apego ao mesmo” gera sensação de segurança, da mesma forma que as surpresas (festas de aniversário, passeios, idas ao médico ou ao dentista) geralmente assustam muito os autistas.
O ambiente mais acolhedor para o autista é o ambiente conhecido, como seu quarto, seu quarteirão, a padaria da esquina. Por isso, ao sair com seu filho autista, leve o máximo de partes de seu ambiente doméstico junto (travesseiro, pedaços de brinquedos, peças de roupa, além, é claro, DE VOCÊ MESMO).
Quanto menos mudamos abruptamente nosso humor, e, portanto, o tom de nossa voz, nossas expressões faciais e nosso contato, mais nos tornamos um porto seguro e estável para nosso familiar autista. É difícil nos mantermos estáveis o tempo todo, mas é importante lembrar que mudanças repentinas em nosso comportamento lançam nosso ente querido autista no mais aterrador desamparo.
Por último, é importante lembrar que apesar de demonstrar pouca ressonância com o ambiente que o cerca, o autista NÃO DEVE SER VISTO COMO ALGUÉM QUE NÃO SENTE NADA! Muito pelo contrário! Sente muito, e de forma tão total, intensa e aterrorizante que vai conduzir sua vida (acompanhado das pessoas que se importarem com ele), na tentativa de sobreviver às inconstâncias, instabilidades e imprevisibilidades do caminho.
Sugestões de temas, dúvidas sobre algum conceito de nossos artigos? Participe da nossa nova coluna “Pergunte ao Psiquiatra”! Envie um e-mail para: mauricio.psicologiasdobrasil@gmail.com, que nosso colunista Dr. Maurício Silveira Garrote terá o prazer de respondê-lo!
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