Por Frederico Mattos
Recebo muitas perguntas sobre como avaliar se acertaram na escolha de um bom profissional da psicologia. Acho tão delicada a questão que pode soar como crítica ou padronização profissional, mas ao longo da vida construí um critério pessoal, já que tive quatro excelentes terapeutas (e outros dois duvidosos). Um cognitivo-comportamental, um da daseinsanalyse, um junguiano e um psicanalista. Devo a esses mestres minha evolução pessoal e profissional, então deixarei aqui minhas considerações (e de outros colegas que também me compartilharam seus critérios) sobre o tema.
1. Ele precisa ser minimamente claro sobre seus métodos e objetivos
Mesmo os terapeutas com abordagens mais soturnas e promotoras de ausência de respostas e menos intervenção precisam estar abertos a conversar sobre seus procedimentos.
2. A abordagem dele é menos importante que a maneira como conduz a situação
Muitos se prendem à abordagem, mas é a condução que fará mais sentido. Já fiz terapia com existencialistas que com sua pinça questionadora faziam minha vida se movimentar tão poderosamente quanto os silenciosos psicanalistas, assim como os mais intervencionistas cognitivo-comportamentais. Então, o movimento é mais importante do que o guia intelectual que ele adota.
3. Ele criará angústia em você
Em vários momentos, você sairá pior do que entrou, mas não é regra. Então não espere sair da terapia sempre aliviado. Se quer sair relaxado, vá a um massagista.
4. Ele saberá apaziguar quando chegar o momento certo
O equilíbrio entre apimentado e doçura criará uma textura agridoce no processo. Às vezes é momento de cutucar e em outros de acolher e fazer transbordar as emoções dolorosas. Só uma coisa ou outra não traz crescimento.
5. Não terá a agenda à disposição de seus caprichos
Há pacientes que querem testar a firmeza do terapeuta mudando constantemente de dias e horários como se a terapia fosse um hobby. Os terapeutas inseguros atenderão aos apelos do paciente e deixarão que os conflitos extra-terapêuticos surjam no espaço terapêutico e por isso serão permissivos.
6. Não dormirá na sua sessão
Desatenção, sono, esquecimento, eventualmente, podem surgir em algumas situações, mas quando isso se repete constantemente comece a pensar em conversar sobre os motivos disso acontecer e levante esses pontos na terapia. A reação do terapeuta dirá se está aberto ou defensivo.
7. Não vai tratar você como uma mãe-coruja
O profissional mãe-coruja é aquele que passa a mão na sua cabeça e até quando você sabe que agiu de um jeito estranho, bizarro ou maldoso e tenta ver o lado gostosinho de tudo. O papel do terapeuta não é moral, dizer se você está certo ou errado, mas levantar questionamentos importantes (e às vezes delicados) sobre sua maneira de agir no mundo.
8. Você tem uma conexão emocional especial
Não é pessoal e não é apenas profissional, é um espaço fora das definições usuais, afinal a pessoa não é da sua família, não é seu amigão, mas tem uma conexão profunda com sua história. Esta intimidade não íntima define esse estado que tem um poder terapêutico enorme.
9. Ele respeitará o tempo máximo da sessão
Terapeutas que não sabem se estreitar no tempo estipulado estão confusos sobre o seu papel e segurança clínica. Em muitos momentos, farão sessões estendidas porque acham que tem que dar algum prêmio ou insight por serem pagos. O tempo mínimo da sessão pode variar de abordagem para abordagem. Há profissionais que entendem que o insight é mais importante que o tempo que se passa em sessão e não verá problema em terminar a sessão em menos tempo do que o estipulado.
10. Ele não terá todas as respostas do mundo
Elas não existem e nem se existissem ele as daria. Em casos onde há muito comprometimento emocional, é possível ser mais diretivo (aconselhador), mas de modo geral o percurso até oinsight precisa ser da pessoa atendida.
11. Evitará papo-furado
Há terapeutas que, por estarem perdidos no processo terapêutico, ocupam o tempo da sessão com assuntos cotidianos sem com isso fazer uma “amarração” terapêutica. Seja por necessidade financeira, carência pessoal ou apego ao paciente evitam interpretações ou intervenções precisas. Ou seja, o bom terapeuta não será enrolado pelas suas justificativas vagas sobre a vida.
12. Vai gerar confiança em você nas primeiras três sessões
Se você não consegue perder a sensação de desconforto de que algo não se encaixou com o profissional fique com o radar ligado. Não quer dizer que ele não seja competente, mas apenas que não é o seu terapeuta. No entanto, se TODOS os terapeutas que você achar não encaixarem, é possível que seja sua a indisponibilidade de se entregar a uma terapia.
13. Vai sacar suas defesas muito brevemente
Muitas pessoas conseguem dobrar a percepção do terapeuta com gentileza e agradabilidade excessiva. O bom terapeuta não vai se deixar seduzir por uma fala autopiedosa, vaga ou agradável se para o processo avançar achar necessário um confronto importante.
14. Vai cobrar a sessão quando você faltar mesmo que tenha uma boa explicação
Faltas não avisadas com tempo hábil (por imprevisto, doença, etc) são de responsabilidade de quem é atendido. O terapeuta fará o paciente ver que precisa arcar com seus impasses sem empurrar a responsabilidade financeira para os outros, inclusive ele próprio.
15. Vai tratar as dificuldades da própria relação terapêutica
A terapia em si é um espaço em que os conflitos do paciente se manifestam. A idealização, a raiva e a sedução que surgir no processo terapêutico são temáticas para desvendar os bastidores da personalidade em tratamento.
16. Tempo e dinheiro serão questões discutidas
O tempo das sessões é um momento sagrado, assim como o valor financeiro do processo todo. Não haverá constrangimento de nenhuma das partes de conversar sobre esses pontos.
17. Ele se abrirá para ser criticado
Psicólogos não são deuses e inevitavelmente cometerão erros que devem ser levantados no processo. Podem se enganar nos fatos, no tom, no exagero. Esses erros, aliás, podem suscitar bonitas conversas terapêuticas.
18. Interromperá o processo terapêutico quando necessário
Seja em altas completas, parciais ou pausas, ele dará espaço para voos individuais. Aliás, não criam dependência no paciente com ligações fora de hora ou uma constante postura “apoiadora” que infantiliza o outro e cria uma sensação de imprescindibilidade.
19. Ele tem uma vida pessoal realizada
Isso pode não ficar claro num primeiro momento, mas com o tempo você nota que a pessoa é problemática, estranha ou cheia de falas rancorosas, extremas ou preconceituosas. Se você achar que seu terapeuta é mais infeliz que você, dê uma pausa para notar se a presença do profissional faz sentido. Não é de perfeição que falamos, mas de alguém que esta minimamente consciente de seus pontos cegos, que se admite incompleto (como todo ser humano) e ainda assim está pronto para fazer uma escuta consciente de seus próprios conflitos.
20. O valor será equivalente à competência
Se um profissional está à altura desses critérios, saberá o exato valor do seu trabalho sem medo de ser questionado, afinal, entendeu que seu bisturi psicológico é precioso e raro. (Nem todo mundo que cobra caro é competente, bom deixar essa ressalva)
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