No dia 25 de Novembro comemoramos o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher. Em 1999, a Organização das Nações Unidas (ONU), através de Assembléia Geral estabeleceram esta data para a sensibilização e erradicação da violência contra as mulheres. O dia 25 de Novembro faz referência e homenagem às Irmãs Mirabal, perseguidas, presas e posteriormente assassinadas em 1960 pelo ditador dominicano Rafael Trujillo. Elas lutavam por igualdade de gênero, não apenas buscando soluções paliativas para a violência contra a mulher, mas sobretudo objetivando questionar sua dinâmica social através dos movimentos feministas em meio à ditadura Dominicana.
A violência foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) como o “uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações”.
No entanto, apesar de todos os esforços empreendidos por muitas mulheres no decorrer da Historia, a violência contra as mulheres ainda subsiste, faz parte do nosso convívio hodierno, de nossas raízes socioculturais, algumas vezes veladas, silenciosas e difíceis de ser identificadas (como a violência psicológica); outras totalmente ostensivas. É inegável que a mulher foi historicamente um grupo excluído e marginalizado. Neste processo sócio-histórico, a violência contra elas deve ser percebida e interpretada como uma construção sociocultural, mas infelizmente foi internalizada perigosamente como algo normal e muitas vezes legitimado. Por se tratar de uma construção social, a violência de gênero pode ser desconstruída. Sendo assim, a medida a ser tomada seria educar os meninos quanto ao respeito à mulher principalmente nas escolas; o substrato das mudanças que precisamos chama-se educação e respeito à cidadania.
A educação para transformações sociais é importante visto que quando se é negado o direito do outro de ter liberdade responsável dentro da sociedade em que construímos relações, inegavelmente serão criados estereótipos que repercutirão para todos, através da imposição de uma cultura de dominação. Vale à pena salientar que onde há dominação e imposição de poder, há violação de direitos humanos e portanto, violência, constrangimento, conflitos, sentimento de posse e objetificação do outro.
Apesar de todas as lutas, ainda existem mulheres que diante da violência física, psicológica, sexual e patrimonial não denunciam a violência. Diante deste contexto, surge dentre outras, uma reflexão, talvez a mais intrigante: quais seriam as motivações para que algumas mulheres não denunciassem as agressões sofridas, principalmente por seus parceiros? A questão é complexa e qualquer explicação generalista seria simplista, reducionista. Entre algumas explicações, existe a crença de que os assuntos de ordem familiar, mesmo se tratando de violência devem permanecer entre seus integrantes, pois de acordo com esta concepção, estes conflitos (agressões) devem permanecer no âmbito da esfera doméstica. A outra questão trata-se do ciclo da violência.
O ciclo da violência se caracteriza por um padrão de agressão caracterizado por 3 fases distintas: Criação e aumento da tensão até um ponto critico, que conduz à violência deflagrada, seguida da fase de amor ou reconciliação. Na fase de tensão, o comportamento do homem se torna diferente, mais ríspido e intolerante. Na fase 2 ocorre a agressão propriamente dita, seja física, psicológica, sexual ou mista. No entanto, na fase 3, o homem demonstra arrependimento do que fez e tenta se redimir, procurando contornar a situação através da amorosidade e companheirismo. Normalmente ele diz à mulher que estava passando por momentos difíceis no trabalho ou em outras áreas da sua vida, tenta justificar seu comportamento através do estresse diário, se arrepende, mudando sua conduta de modo que a mulher não rompa com a relação; pede desculpas, diz que se redimirá de seu comportamento agressivo, passando portanto para a fase 3: a da parcimônia. Como nesta última fase o parceiro se desculpou e se redimiu, a mulher acredita que não ocorrerão mais comportamentos agressivos, retornando à sua rotina normal e permanecendo na relação. No entanto, com o tempo pode iniciar-se novamente fase de tensão seguida por novas agressões, reiniciando assim todo o ciclo da violência.
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