Por Josie Conti
Antes do contato direto com o “paciente”, os estudos de caso talvez sejam a maneira mais prática e eficiente de trazer a teoria para o entendimento prático. Entretanto, penso que as biografias são as mais ricas fontes de informação para quem quer entender como realmente uma patologia pode afetar a vida de uma pessoa em seus aspectos mais globais. Além disso, as biografias proporcionam a real oportunidade para o leitor compreender empaticamente os sentimentos, dores e dificuldades que uma pessoa passa para se adaptar (ou tentar se adaptar) apesar do adoecimento.
Conhecer a história permite que nos conectemos com o ser humano que existe por trás de um diagnóstico, que sintamos cada etapa de sua jornada.
Definitivamente um bom profissional de psicologia nunca deve abrir mão da leitura de biografias.
Abaixo indico algumas leituras que fizeram diferença na minha vida. Espero que elas possam tocar mais pessoas..
Essa biografia apresente com louvor o testemunho pessoal da médica e psicóloga Kay Redfield Jamison, autoridade internacional em doença maníaco-depressiva e uma das poucas mulheres catedráticas de medicina em universidades norte-americanas. A obra é a revelação da sua própria luta, desde a adolescência, com a doença, e de como a doença moldou sua vida.
Nesse livro o leitor será capaz de perceber claramente como as bruscas oscilações de humor acontecem em ondas, mudando drasticamente a rotina e maneira de pensar da autora. Mostra como ela lidou com o tratamento, o abismo dos episódios de profunda depressão e os picos de humor maníaco. Aborda também questões relacionadas ao suicídio.
A mesma autora escreveu um livro específico sobre o suicídio onde também usa os exemplos pessoais como base para o desenvolvimento teórico do tema chamado “Quando a noite cai: entendendo o suicídio.”
Na minha opinião, uma biografia realmente imperdível para qualquer um (a linguagem é acessível) que tenha interesse pelo tema.
“Os leitores deste livro são transportados, onda após onda, pelo poder de contar história de uma escritora, por sua mente lúcida e consciente de si mesma, por sua corajosa recusa a abraçar a auto-comiseração. Aqui está um sofrimento psiquiátrico tornado acessível, descrito numa prosa vigorosa, carregada, cativante.” Robert Coles
Sinopse
Autobiografia da engenheira e bióloga Temple Grandin, que bem cedo foi diagnosticada como autista. Conversando com o neurologista Oliver Sacks, ela pronunciou uma frase que dá bem a medida de como o mundo lhe parece estranho: “A maior parte do tempo eu me sinto como um antropólogo em Marte”*.
Até os três anos e meio, Temple só se comunicou por intermédio de gritos, assobios e murmúrios de boca fechada. Sua mãe percebeu que já aos seis meses ela não se aninhava no colo: ficava rígida, rejeitava o corpo que queria abraçá-la. Na escola, batia na cabeça das outras crianças. Em vez de argila ou massinha sintética, usava as próprias fezes para modelar e espalhava suas criações pelo quarto. Às vezes ignorava sons altíssimos, mas reagia com violência aos estalidos de uma folha de celofane. O cheiro de uma flor recém-colhida podia deixá-la descontrolada ou fazê-la refugiar-se em seu mundo interior. Somente quando já tinha quase trinta anos conseguiu dar um aperto de mão e olhar nos olhos de outra pessoa. Construiu uma “máquina de abraço” para pressioná-la sem o desconforto intenso que um outro corpo humano provoca nela.
O grau de autismo de Temple Grandin não é o mais alto, e por isso o mundo que ela criou não se parece com uma fortaleza onde ninguém pode entrar.
Temple se tornou uma profissional extremamente bem-sucedida. Projeta equipamentos e instalações para a pecuária. Todos os corredores e currais que desenha são redondos, pois o gado tem mais facilidade em seguir um caminho curvo – primeiro porque, não vendo o que há no fim do caminho, fica menos assustado; segundo porque o desenho curvo aproveita o comportamento natural do animal, que é descrever círculos. Ela faz uma analogia: com as crianças autistas é preciso agir do mesmo modo, isto é, trabalhando a favor delas, ajudando-as a descobrir e desenvolver seus talentos ocultos.
De certa forma, esta autobiografia nos diz que as pessoas todas podem se tornar menos “estranhas”.
Nota da página: Essa expressão usada por Temple Graudin foi utilizada pelo neurologista Oliver Sacks como título de um dos seus livros mais famosos: “Um antropólogo em marte“. Para quem, como eu, tem interesse por neuropsicologia, esse é um dos autores mais indicados pois, como excelente escritor, é capaz de descrever com maestria casos de extrema complexidade. Foi baseado em um de seus livros que o filme “Tempo de despertar” (estrelado por atores como Robert de Niro e Robin Willians) foi realizado.
Segunda nota: A história de Temple também foi gravada em cinema com o filme “Temple Graudin” lançado em 2010. No filme o enfoque é dado a como Temple revolucionou as práticas para o tratamento racional de animais em fazendas e abatedouros.
A extraordinária história real de Jean-Dominique Bauby, editor da revista ELLE que, aos 43 anos, sofreu um derrame que paralisou todo seu corpo, com exceção do seu olho esquerdo. Preso em um corpo sem movimento, mas completamente lúcido, ele se adapta para contar sua incrível história de vida.
Essa história mostra como a empatia de um profissional é capaz de proporcionar a ponte que liga uma pessoa lúcida, mas prese em um corpo inerte, de volta a realidade.
Ainda me arrepio ao lembrar das descrições do livro quanto a realidade do autor e de seu mundo paralelo de fantasias. Uma aprendizagem incrível para nos lembrar que NUNCA, jamais devemos subestimar o poder de compreensão de uma pessoa esteja ela no estado em que estiver.
Para os cinéfilos a boa notícia é que o filme homônimo foi lançado em 2007 e também pode ser encontrado.
Nota: Para quem quiser entender mais sobre o AVC existe uma outra biografia interessante chamada “A cientista que curou seu próprio cérebro: o relato da neurocientista que viu a morte de perto, reprogramou sua mente e ensina o que você também pode fazer.“ de autoria de Jill Bolte Taylor.
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