Por Brian Gresko
Quando eu era criança, meus pais se certificavam de que eu ia para a escola e fazia as lições de casa dentro do prazo. E só. Eles não me acompanhavam quando eu ia brincar com meus amigos nem conheciam os pais deles. Minha mãe e meu pai tinham seus próprios amigos, a maioria dos quais não tinha filhos.
Quando tínhamos apresentações de Natal, meu pai nem sequer aparecia. Pra quê? Minha mãe já estava lá.
Hoje em dia, esse tipo de atitude – incentivadora, mas meio desinteressada – seria considerada praticamente negligência. Espera-se que os pais de hoje se envolvam. E estou falando de envolvimento a fundo. Isso significa aparecer em eventos e performances como o Concerto do Dia da Herança Hispânica, quando esperei mais de duas horas para ver a classe do jardim-de-infância do meu filho ficar dois minutos no palco. Distribuir lanches e presentinhos na festa de aniversário do seu filho. Ser um integrante ativo da comunidade, atuando como “companheiro de leitura” voluntário.
Ser monitor na hora do almoço, o que, numa sala de crianças de 5 anos, significa carregar caixas de leite para cima e para baixo e lembrar os meninos de que garfo não é aviãozinho para ser jogado para lá e para cá.
Na verdade, eu queria fazer como meus pais: ficar em casa. Não que eu seja pouco amistoso, mas, como a maioria dos introvertidos, sou alérgico a conversinhas e não gosto de estar cercado de pessoas batendo papo.
Mas aí vem a culpa. Trabalho em casa, e a escola do meu filho fica a duas quadras. Os professores precisam de ajuda. Por mais que eu queira negar, tenho tempo livre. Então um dia desse um professor perguntou se eu queria ser o “pai da sala” – coordenando a comunicação entre escola e pais e facilitando as interações entre as famílias dos alunos. Eu quase disse sim.
Ser o pai da sala vai contra minha natureza introvertida. Minha rotina de pegar meu filho na escola é digna de um filme de James Bond – entro e saio sem que ninguém perceba minha presença – e ela seria arruinada se eu tivesse de socializar. Apesar de admirar e apreciar o trabalho do grupo de pais e mestres, não quero participar de reuniões – na verdade, não quero que eles saibam que eu existo.
Especialmente depois de testemunhar as paixões despertadas pelo tema da excursão de fim de ano.
Ainda assim, quero ajudar e ser um bom pai moderno. Então, decidi fazer a coisa certa e esperei alguns dias para ver se alguém topava ser o pai da classe. Como ninguém se manifestou, aceitei a missão.
Estou na função há pouco mais de dois meses. Tem sido desafiador, mas a experiência tem sido excelente. Tive o prazer de conhecer pessoas ótimas e descobri que outros pais também se sentem intimidados em fazer amigos.
Portanto, caros introvertidos, acredito que vocês também possam se envolver com a escola dos seus filhos. Eis minha estratégia:
1. Limito ao essencial minhas comunicações com os outros pais.
Me pediram para reunir os emails e telefones dos pais, para que pudesse enviar mensagens sobre trabalhos voluntários e arrecadação de fundos. Mas não gosto ficar afogado em informações: na vida real ou online, não gosto de muito ruído. E tenho certeza que não sou o único.
Os professoras da sala do meu filho já haviam organizado um site da classe com um mural de mensagens e um sistema de emails. Então decidi usá-lo, postando informações ali. Quem quisesse, saberia onde encontrá-las. Quando preciso enviar mensagens diretamente para o email dos pais, elas são curtas e diretas.
O resultado disso é que as pessoas prestam atenção aos meus recados. Quando repassei uma mensagem pedindo doações de material de arte, alcançamos a meta em menos de 24 horas.
2. Converso com as pessoas individualmente e evito me envolver em discussões em grupo.
Quando preciso falar com as pessoas em tempo real, faço isso de modo privado. Me entendo bem com os professores e me sinto à vontade para perguntar como vão as coisas ou se eles precisam de ajuda. Também estou aprendendo o nome dos pais dos colegas do meu filho. Estou deixando isso acontecer naturalmente.
Não fico na porta da sala cumprimentando as pessoas ou reunindo os outros pais para tomar decisões. Interajo de um jeito que parece certo para mim e provavelmente para vários outros pais – não sou o único introvertido!
3. Tenho um motivo para conhecer as pessoas, e isso ajuda com minha ansiedade.
Percebi que meu papel na sala de aula aumenta minha confiança. Quando pergunto sobre o pai de algum aluno, não me sinto enxerido. É parte das minhas atribuições, tenho de conhecer todo mundo. Tenho a desculpa perfeita para criar conexões com os outros pais. É como se eu usasse um distintivo que diz: “Tudo bem falar oi para mim. Trabalho aqui”. Não sou simplesmente o “pai do Felix”.
4. Deixo meus instintos sociais me guiarem para que eu faça o que é necessário, não só o que me pedem.
Não vou me expor de maneiras que me deixem pouco à vontade. Como disse acima, dou valor aos pais que agem como animadores de torcida da escola ou que se incumbem de levantar recursos. Mas não é esse o papel que quero desempenhar. Em vez disso, faço o que posso e digo “sinto muito” quando se trata de algo que não posso ou não quero fazer. Para que as coisas funcionem, preciso fazer as coisas de acordo com meus termos. Do contrário, a classe do meu filho não terá um “pai”, e isso seria ruim para todos.
Descobri que tudo bem interagir de modo a me preservar, atuando nos bastidores. A sensação de ajudar os professores dos meus filhos é ótima. Quando me perguntaram se podia ler um poema no concerto de Natal, respondi que sim. Depois de lido o poema, peguei minha família e fui para o fundo do auditório, sem falar com ninguém. Afinal de contas, ainda sou introvertido.
TEXTO ORIGINAL DE SUPERINTERESSANTE
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