O nascimento de uma criança muda a vida de todos ao redor — principalmente da mãe da criança. Segundo os livros The Motherhood Constellation e The Birth of a Monster (“A constelação da maternidade e O nascimento de um Monstro”, em tradução livre), do psiquiatra Daniel Stern, dar à luz também é criar uma nova identidade, o que pode ser mais difícil do que ter um bebê.
A dinâmica familiar
O nascimento de um filho resulta inevitavelmente na mudança da dinâmica familiar. Uma criança possibilita a existência de novas relações, mas também pode estressar os relacionamentos já existentes.
No livro The Maternal Lineage (“A linha maternal”, em tradução livre), a psicanalista Paola Mariotti defende que a forma com que cada mulher cria seu filho é um reflexo de como ela foi criada pela mãe. Por mais que a mulher mude a forma de criação, ela tem como base a própria mãe e tenta repetir o que foi efetivo e melhorar o que não foi bom.
Ambivalência
A psicoterapeuta Rozsika Parker escreveu em Torn in Two: The Experience of Maternal Ambivalence (“Dividido em dois: A experiência da ambivalência materna”) sobre o desejo de manter a criança por perto, mas também querer distância física e emocional. Para ela, as relações mais próximas resultam nesse sentimento contraditório. Parker crê que ter um filho não é bom ou ruim, mas bom e ruim ao mesmo tempo.
Fantasia X realidade
Antes do bebê chegar, a mãe já cria inúmeras fantasias e ideias, baseadas nas histórias que conhece. É isso que defende Joan Raphael-Leff, psicanalista chefe do Centro Universitário Anna Freud de Londres. Para ele, se essas criações forem muito fortes, a realidade trazida com a chegada do bebê pode até decepcionar a mãe.
Culpa, vergonha e a “mãe boa o suficiente”
Também existe um padrão de “mãe ideal” que as mulheres cultivam. Muitas vezes, esse estereótipo é criado por propagandas, redes sociais, filmes… Diversas mães creem que o termo “boa o suficiente”, criado pelo pediatra e psiquiatra Donald Winnicott, é um tanto quanto acomodado. Por isso, elas sentem culpa por não serem melhores.
Além disso, muitas mães se sentem culpadas por terem de tomar decisões desafiadoras. O problema é ainda maior quando se trata de colocarem elas mesmas acima de seus filho. Para o especialista, isso causa vergonha.
A depressão pós-parto também é está envolvida. Para Rosemary H. Balsam, psiquiatra de Yale, muitos profissionais ignoram como a gravidez impacta a vida das mulheres e isso remonta a Freud. As mulheres têm a falsa ideia de que só há duas possibilidades: ou a depressão pós-parto ou a transição tranquila para a maternidade. O que é um erro.
Segundo a especialista precisamos considerar que, por mais que a mãe não esteja com depressão pós-parto, existem várias formas de passar por essa mudança e se transformar em mãe — o que não é nada fácil.
Imagem de capa: Shutterstock/Coffeemill
TEXTO ORIGINAL DE REVISTA GALILEU
"Tê-lo comigo é simplesmente uma prova do amor de Deus”, afirmou a mãe.
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