Por Luciana Galastri
Você é daqueles que odeia encontrar um conhecido na rua, não por que não goste da pessoa, mas porque precisa encontrar algum tópico e conversar por alguns minutos? E os silêncios constrangedores no meio da conversa? Não sabe o que fazer quando um colega está passando pela rua e faz contato visual e você precisa caminhar por alguns longos segundos até ele (afinal para onde olhar? você olha fixo para a pessoa? fica sorrindo? acena?)? E, pior dos cenários, quando você encontra o chefe em um lugar fora do trabalho (tipo o mercado)?
Não conheço ninguém que não sofra com a ansiedade social em algum nível – mesmo os mais extrovertidos sofrem com ela de alguma forma. Mas, por sorte, a ciência pode explicar algumas de nossas angústias e preocupações – e, talvez, espantar algumas delas. Confira esses fatos:
Por sorte isso não é verdade (a não ser naquela vez em que você estava com uma cebolinha no dente #brinks). Pesquisas mostraram que nosso cérebro é programado para achar que todo mundo está olhando para nós – especialmente quando a pessoa está olhando vagamente em nossa direção. Cientistas da Universidade de Sidney pediram que voluntários olhassem fotos de pessoas e determinassem qual era a direção dos olhares nas imagens. Em alguns casos, a resposta não era óbvia – a imagem podia estar borrada, a pessoa podia estar de óculos escuros, etc. Em geral, os voluntários acreditavam que as pessoas nessas imagens ambíguas estavam olhando para eles.
E essa nem é a pior parte. Quando pessoas estão, de fato, olhando para você, o seu cérebro faz com que você tenha uma facilidade maior em confundir suas expressões. Outro estudo pediu que voluntários vissem filmagens de pessoas que mostravam expressões faciais neutras ou de alguma emoção. Pessoas que se mostraram mais ansiosas afirmavam ver emoções negativas mesmo em faces neutras.
Você é tímido e precisa conversar com mais gente? Esqueça aquela conversa de ‘acreditar em você’. O que você precisa é que outros acreditem que você é mais extrovertido. Pesquisas mostram que sua personalidade muda de acordo com o que outras pessoas pensam de você. Quer exemplos? Cientistas pediram que voluntários gravassem duas entrevistas em vídeo. Na primeira, eles deveriam responder uma série de questões sobre como se sentiam sendo introvertidos. Na segunda, como se sentiam sendo extrovertidos. Depois, uma outra pessoa entrava na sala para assistir uma das entrevistas – que era escolhida de forma aleatória. Invariavelmente, todos os participantes, mesmo os mais tímidos, eram mais abertos com o estranho se eles acreditassem que a pessoa iria ver a ‘entrevista extrovertida’. O oposto também se mantinha – elas eram mais tímidas quando acreditavam que o estranho veria a gravação introvertida. Ou seja, a mudança nem sempre vem de dentro, mas das expectativas externas.
Você treme só de pensar naquela velhinha que entrou no metrô sentando no seu lado, suspirando e comentando sobre o tempo? Pois a ciência prova que conversar com estranhos pode ser extremamente bacana. Em uma série de estudos, voluntários deveriam conversar com estranhos e com seu parceiro romântico – mas, antes de conversar, deveriam dar uma nota que representasse sua expectativa em relação ao papo. Depois da conversa, deveriam dar outra nota final. Invariavelmente, a nota final da entrevista com o estranho era maior do que a nota da expectativa.
Em outro estudo, cientistas forçaram pessoas a sentarem sozinhas ou com um estranho em um ônibus. Os voluntários corajosos que resolveram sentar com pessoas desconhecidas acabaram descrevendo o trajeto de busão de forma mais favorável do que os #foreveralone.
Pesquisadores pediram que participantes de um estudo conversassem entre si durante 45 minutos, usando uma série de perguntas pré-estabelecidas – coisas como ‘quando foi a úlitma vez que você cantou em voz alta?’ e ‘quando foi a última vez que você chorou na frente de alguém?’. Os participantes foram divididos em dois grupos – o primeiro conversava com pessoas ‘compatíveis’, como se tivessem sido selecionadas através de um serviço online de namoro. O segundo teve uma distribuição completamente aleatória. E, estranhamente, nos dois casos, 90% dos participantes disse que a interação foi positiva.
Um editor da Wired decidiu replicar o estudo em 2011, usando empresários, executivos, etc. Os resultados foram os mesmos.
Pare de lembrar daquela vez bizarra em que chamou um/a pretendente pelo nome do/a ex. Ou de se apegar àqueles silêncios constrangedores entre um tópico e outro da conversa. A pessoa com quem você está falando também se sente ansiosa – e isso é completamente normal. Estudos mostraram que uma conversa normal contém cerca de 10 silêncios constrangedores por minuto – incluindo aqueles bugs em sua mente que fazem você ficar um tempão travado em um som como ‘aaaah’ e ‘eeeeh’. Todo mundo é estranho. Aceite isso e viva melhor.
Imagem de capa: Shutterstock/Aleutie
TEXTO ORIGINAL DE REVISTA GALILEU