6 características do assédio moral no trabalho- e como reagir

Durante cinco anos da minha vida trabalhei como psicóloga diretamente em um órgão regional chamado Centro de Referência em Saúde do Trabalhador- CEREST. Lá, dentre outras coisas, uma das grandes demandas que recebíamos era a de profissionais que sofriam assédio moral no ambiente de trabalho.

O assédio, entretanto, pode ser complexo e cheio de sutilezas. Como ele acontece ao longo do tempo, não é fácil identificá-lo, classificá-lo e, muito menos, provar que ele acontece. Para desmistificá-lo e ajudar as pessoas a identificarem seus sinais, listo abaixo sua definição e uma sequência de características que são frequentes em ambientes onde existe assédio. Em seguida, dou algumas orientações sobre como a pessoa que está passando por isso deve proceder para se fortalecer e reagir:

DEFINIÇÃO

O assédio moral é revelado por atos e comportamentos agressivos que visam a desqualificação, desmoralização e a desestabilização emocional do ofendido, tornando o ambiente desagradável, hostil e pernicioso, não raramente desencadeando na vítima um mal psicológico e físico.-  GUEDES, 2003.

CARACTERÍSTICAS

1- O assédio é realizado por profissionais despreparados para o cargo. Embora não seja regra absoluta, normalmente o assediador é um superior hierárquico. Entretanto, o assédio também pode acontecer entre colegas e de subordinados para a chefia;

2- A principal característica do assédio moral é a HUMILHAÇÃO E/OU PERSEGUIÇÃO DIRETA- ou INDIRETA- sofrida pela pessoa.

3-  É necessário que haja REPETIÇÃO dos atos do assediador, uma vez que situações isoladas não caracterizam assédio.

4- Por HUMILHAÇÃO podemos entender atos que INTENCIONALMENTE:

  • usem de brincadeiras (racistas, sexistas) e outros comentários fora de contexto e que visem denegrir a imagem do colaborador;
  • usem de ironia e descaso como ignorar um trabalho feito, desmerecer a inteligência, a formação, ou mesmo a presença do colaborador no ambiente de trabalho;
  • a não delegação de  trabalho ou delegar funções que estão aquém ou muito além do cargo para gerar constrangimento ou isolamento. Ex: Colocar o colaborador de castigo;
  • desvalorizar sofrimento físico ou emocional, mesmo mediante atestados médicos (dizer que a dor é frescura, que quem tem depressão não dá risada, etc);
  • não permitir que a pessoa fale ou que se defenda em uma argumentação;
  • punições desproporcionais às normas de conduta utilizadas pela empresa;
  • tom de voz alto, agressivo, depreciativo;
  • a alteração de horários do colaborador para isolá-lo dos colegas e impedir que socialize;
  • não permitir folgas, tratar de forma diferente do grupo;
  • pressão por cumprimento de metas com humilhações para quem não as atinge (dancinhas da garrafa, entre outras).

Nota: os tópicos acima não abrangem todas as possibilidades de humilhação e servem como exemplos para que a pessoa identifique alguns tipos de comportamentos que podem ser utilizados para humilhação e/ou perseguição.

5- A constância de situações de humilhação cria um isolamento progressivo do colaborador. Muitas vezes, os outros colegas de trabalho, embora presenciem as cenas, não apresentam posição ativa e de defesa do humilhado, gerando um sentimento ainda maior de injustiça e abandono. (na maioria das vezes o silêncio, tanto do abusado quanto dos cúmplices, está relacionado ao “medo de perder o emprego).

6- Progressivamente acontece uma fragilização emocional da pessoa que sofre o assédio e o aparecimento de quadros ansiosos e depressivos (ou mesmo outros quadros psiquiátricos, caso a pessoa possua propensão). Além dos quadros psicológicos, é comum o aparecimento de doenças psicossomáticas associadas que podem progredir até o afastamento do colaborador.

Nota: quanto mais doente fica a pessoa, mais o ciclo de destruição é alimentado, pois a fragilização é a prova de que os atos perversos estão surtindo todo o efeito desejado.

COMO REAGIR

Pense que você deve procurar ajuda primeiro perto das pessoas mais próximas e, só depois, se não houver opção, procurar outras esferas.

  • Informar-se sobre o tema- é importante que você saiba exatamente o que está acontecendo para poder argumentar e se defender. Às vezes sentimos que há algo errado, mas não sabemos explicar. Procure, pesquise, veja outras pessoas que já passaram por isso e tente entender um pouco mais sobre como elas agiram e quais as suas opções;
  • preste atenção se o alvo do assédio é apenas você, se é o grupo todo ou se é cíclico e, de tempos em tempos, o assediador escolhe uma pessoas para perseguir;
  • se for possível, fale com o seu superior direto: mesmo que o assediador seja o superior, é importante que um acordo de convivência seja buscado. Se isso não for possível, é possível falar com outras pessoas da empresa? O gerente de RH, por exemplo?
  • Procure um responsável do Sindicato de Classe ou do Ministério Público do Trabalho: os profissionais dessas áreas, quando disponíveis para atendimento ao público, podem oferecer informações valiosas e atuar diretamente com intervenções na empresa;
  • Busque apoio em profissionais de saúde mental, serviços de referência em saúde do trabalhador, famílias e amigos: aumentar a rede de apoio é fundamental. Lembre-se que você não tem que resolver nada sozinho e que aceitar ajuda é fundamental;
  • Em caso da necessidade de procurar ajuda jurídica, provavelmente o profissional pedirá provas. Mediante as sutilezas do assédio, é importante que a pessoa pense na possibilidade do depoimento de testemunhas, logo, procure estar sempre perto de outras pessoas no trabalho para que elas presenciem o que acontece com você. Guarde emails que podem indicar tratamento depressiativo, desvio de função, dificultação da escala de folgas, entre outras coisas.
  • Ou seja: INFORME-SE, ACEITE AJUDA- TRATE-SE- REAJA

Para finalizar, gostaria de lembrar que o assédio também é obra de um sistema que se torna perverso. Normalmente existe conivência das pessoas do entorno ou da direção para que aqueles atos continuem acontecendo. Por esse motivo, é fundamental que as pessoa reajam de maneira global. Se diversas pessoas reagem, tiramos uma única pessoa da posição de vítima e colocamos a força em um grupo que reivindica seus direitos de respeito e trabalho. Pensem nisso!

Imagem de capa: 13FTStudio /shutterstock






JOSIE CONTI é psicóloga com enfoque em psicoterapia online, idealizadora, administradora e responsável editorial do site CONTI outra e de suas redes sociais. Sua empresa ainda faz a gestão de sites como A Soma de Todos os Afetos e Psicologias do Brasil. Contato para Atendimento Psicoterápico Online com Josie Conti pelo WhatsApp: (55) 19 9 9950 6332