Por Terri Coles
Quando a canadense Tracy Lamourie conversou com seu filho Cassidy sobre o Dia Mundial de Consciência do Autismo, comemorado em 2 de abril, percebeu que ele não ficou muito interessado nas ações que seriam feitas em sua escola, nem com o fato de que a Torre CN seria iluminada com uma luz azul em apoio à consciência do autismo.
“Comecei a refletir sobre o fato de que nossos filhos sempre são definitos por outras pessoas como autistas. Ouvem isso pelas costas ; ouvem seus cuidadores dizendo a pessoas que não entendem alguns de seus comportamentos: ‘É porque ele é autista’. O autismo sempre é mencionado como algo negativo”, diz Lamourie.
Ela percebeu que isso deve confundir as crianças que estão no espectro do autismo, como seu filho, que tinha 11 anos na época. E decidiu tentar mudar essa descrição.
“Eu queria chamar a atenção dele e fazê-lo se interessar em falar sobre autismo, porque era importante que ele entendesse que a finalidade desse dia é promover o amor e a aceitação”, disse Lamourie.
“Então falei: ‘Você é au…SOME! Hoje é dia mundial do AWESOME (incrível, maravilhoso). É o espectro do AWESOME!”.
Os olhos de Cassidy se iluminaram, e a família deles adotou o rótulo de “espectro do awesome” ou “espectro do incrível”, em tradução livre para o português.
Veja a seguir seis ideias comuns, porém incorretas, sobre o autismo.
Realidade: Muitas pessoas com autismo não falam, mas compreendem a linguagem plenamente. Apenas são incapazes de comunicar em palavras seus sentimentos em relação ao que estão ouvindo, explica a psicoterapeuta Natalie Moore, de Pasadena, Califórnia. “Com isso em mente, trate um indivíduo com autismo que não fala do mesmo modo como você trataria qualquer outra pessoa”, recomenda Moore. “Ou seja, não fale sobre ele como se ele não estivesse presente.”
Realidade: “Quer sejam relacionamentos românticos ou simples amizades, trabalhei com pouquíssimas pessoas no espectro do autismo que não quisessem ter pelo menos alguns amigos”, diz o psicólogo John Garrison. As pessoas no espectro do autismo podem ter dificuldade em interpretar sinais não verbais transmitidos por outras pessoas, em bater papo ou em compreender a linguagem corporal, mas essas dificuldades não significam que elas não tentem ou não estejam interessadas em ter vínculos com outras pessoas.
Realidade: Todas as pessoas, incluindo as que estão no espectro do autismo, possuem pontos fortes e fracos intelectuais. Alguns de nós somos melhores em matemática mas temos dificuldades com a leitura, por exemplo. Uma pessoa pode ter aptidão artística, enquanto outra é hábil em construir computadores ou consertar carros. A mesma coisa se aplica às pessoas no espectro do autismo, diz Annette Nunez, especialista em autismo e fundadora do programa Breakthrough Interventions, que oferece serviços de terapia a autistas em Denver, Colorado.
“Os indivíduos com autismo podem possuir a habilidade de concentrar-se fortemente sobre uma só coisa. Isso lhes permite aprofundar-se muito naquilo que desperta seu interesse”, diz Nunez. “Por exemplo, já tive vários clientes que se tornaram pianistas e cantores incríveis, graças ao fato de possuírem uma capacidade espantosa de decorar canções, notas musicais, etc.”
Realidade: O reverso do mito anterior talvez seja a ideia preconcebida de que todas as pessoas no espectro do autismo possuam uma área de habilidade ou conhecimento excepcional, como, por exemplo, uma aptidão espantosa de memorização e recordar coisas memorizadas. “Embora uma das características que definem o autismo seja o fato de a pessoa ter uma área de interesse circunscrita, nem todo o indivíduo com autismo possui essa aptidão especial”, diz Moore. “A melhor maneira de combater esse estereótipo é lembrar que o autismo se manifesta de várias maneiras e nunca é exatamente igual de uma pessoa para outra.” E, se a pessoa de fato possui uma aptidão incrível para certa coisa, esse é um aspecto bacana de quem ela é, e não um truque que devemos esperar que ela desempenhe quando lhe é pedido nem tampouco a única coisa nessa pessoa à qual devemos prestar atenção.
Realidade: Algumas pessoas imaginam que pessoas com TEA não podem ter relacionamentos românticos de longo prazo ou se casar, mas Garrison conta que já trabalhou com vários homens no espectro do autismo que eram bem casados. “Quem se casa com uma pessoa com TEA enfrenta desafios, assim como há desafios em qualquer relacionamento”, ele explica. “Mas já vi casais casados muito amorosos e íntimos em que uma pessoa está no espectro do autismo e a outra, não.” É um equívoco imaginar que teens ou adultos no espectro do autismo não queiram ter namorados ou não sejam capazes de ser bons parceiros.
Realidade: Essa é uma crença falsa e que já foi amplamente desmentida. Diversos estudos já comprovaram que não existe nenhum vínculo entre vacinação e transtorno do espectro autista. Especificamente, as pesquisas demonstram que não existe vínculo entre o conservante timerosal e o autismo ou entre a vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) e o transtorno do espectro autista. Foi descoberto que a pesquisa realizada pelo Dr. Andrew Wakefield que supostamente apontou para uma ligação entre vacinação e autismo foi intencionalmente fraudulenta, e ela foi objeto de uma retratação vários anos atrás.
Imagem de capa: Shutterstock/Nazarova Mariia
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST
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