No mundo atual, a manipulação faz parte do dia a dia. Existe manipulação no poder, nos meios de comunicação e até mesmo nas relações interpessoais. Aliás, não é incomum nos depararmos com manipuladores natos no nosso dia a dia.
A manipulação é uma forma de chantagem emocional. Com ela, podemos induzir o outro a pensar, sentir ou agir da forma como desejamos. Tudo isso sem a pessoa se dar conta.
O grande problema da manipulação é justamente esse: ela é uma conduta velada e, por isso, a vítima nem sempre se dá conta do que está realmente acontecendo. É por isso que as pessoas acabam mordendo a isca e permitindo que os manipuladores façam o que bem entenderem.
“O instrumento básico para a manipulação da realidade é a manipulação de palavras. Se você consegue controlar o significado das palavras, pode controlar também as pessoas que se utilizam dessas palavras.”
-Philip Dick-
Por isso, é muito importante aprender a identificar as estratégias utilizadas pelos manipuladores.
Um manipulador nato usa e abusa constantemente da vitimização. Muito provavelmente, a pessoa terá um evento traumático para contar sempre que precisar se justificar por alguma atitude errada.
Uma “infância difícil”, os “filhos ingratos” ou o “azar” são algumas das opções favoritas. Eles exibem essas cicatrizes emocionais com um certo orgulho e acabam até se vangloriando delas. Pois é!
Por exemplo, você reclama da falta de consideração do manipulador e ele responde algo como: “Você se incomoda por eu não ser muito detalhista, mas tive que suportar o abandono do meu pai quando tinha só três anos de idade”. Aí você fica desarmado. Quem vai ter a coragem de reclamar das atitudes de uma pessoa que já sofreu tanto na vida? Esse é o jogo favorito de um manipulador.
Ameaçar de forma indireta é uma das táticas mais comuns entre os manipuladores. Desde os grandes líderes mundiais até os tiranos que vivem dentro de nossas casas, todos os manipuladores já usaram e continuam usando esta estratégia. Ela consiste principalmente em prever o pior resultado possível com base em alguma conduta sua.
“Se você continuar comendo desse jeito, vai ficar uma baleia”. O manipulador não quer que você coma e não tem nenhum argumento médico ou científico para corroborar esse desejo; ele simplesmente não quer e ponto.
Pode ser que ele fique irritado vendo a felicidade estampada no seu rosto ao tomar um sorvete. Ou, quem sabe, pense que você esteja gastando muito dinheiro no supermercado. No entanto, ele nunca vai dizer nada disso diretamente. Não! Ele prefere comparar o problema a uma guerra nuclear.
Se há algo que os manipuladores detestam, é a comunicação direta. Sabe aquela coisa de jamais chamar o outro de cachorro, mas sempre oferecer um osso como recompensa? Então, a regra geral é que eles adoram usar o sarcasmo para ridicularizar ou minimizar pensamentos, sentimentos e ações. O manipulador nato quer que as outras pessoas se sintam inseguras e inferiores.
Um exemplo disso é quando ele envia uma mensagem aparentemente amigável, mas que termina tendo um conteúdo bastante agressivo: “Se você lesse um pouco mais, poderia escolher melhor os seus amigos”. Nas entrelinhas, o que ele realmente quis dizer foi: “Você não tem cultura nenhuma e, por isso, só arranja amigos que não são ninguém na vida”.
A vítima do manipulador chega a acreditar que esse tipo de “conselho” seja bem-intencionado. Mentira! Quando alguém realmente quer nos ajudar, fala as coisas direta e sinceramente. Além do mais, só faz críticas construtivas e não nos menospreza em momento algum.
Os maestros da manipulação sabem que precisam elogiar bastante as suas vítimas. No princípio, tudo é agradável e maravilhoso. A pessoa é atenciosa, demonstra ter gostos excelentes e sabe conversar muito bem. Com isso, as suas expectativas ficam lá em cima.
Mas esse é apenas o primeiro capítulo. No segundo, as coisas começam a mudar. Quando você já está achando o manipulador muito legal e gente boa, as cobranças começam a chegar.
Ele lança uma espécie de rede de sedução sobre você e, com isso, você não consegue avaliá-lo com objetividade e clareza. A partir daí, você vai aprovar tudo o que ele fizer e, mesmo quando sentir uma pontinha de dúvida, a pessoa sempre vai encontrar uma maneira de convencê-lo de que “não dá para pensar mal de alguém tão perfeito”.
Sem saber como, o manipulador se torna uma espécie de “guia espiritual” para você. Uma pessoa desse tipo adora dizer aos outros como eles devem viver, embora ela mesma não ponha nada daquilo em prática. É o típico “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
Um manipulador nato ama dar conselhos e vive espalhando suas máximas filosóficas por aí. Ele diz, passo a passo, o que você precisa fazer. Se o resultado não sair como o esperado, o culpado é sempre você — como ele disse exatamente o que precisava ser feito, você com certeza fez algo errado e não seguiu as indicações ao pé da letra.
Um amigo verdadeiro jamais vai lhe dizer o que fazer. Ele provavelmente vai apenas ajudá-lo a descobrir qual caminho seguir, pois sabe que cada ser humano é diferente um do outro. A solução encontrada pela pessoa “A” nem sempre vai servir para a pessoa “B”. O respeito é liberdade, não dependência.
O manipulador nato geralmente é um mestre na arte da palavra. Ele adora se utilizar de discursos sofisticados e sempre tem um argumento inesperado e criativo, mesmo que mentiroso.
Por exemplo, se ele diz: “Está parecendo um pinguim com esse vestido”. Você provavelmente ficará chateada, mas ele logo vai responder: “Desculpa! Não pensei que fosse se ofender tanto com uma brincadeira”. Pois é, eles sempre ganham! Um manipulador sabe muito bem como se fazer de desentendido.
Ao ser confrontado, provavelmente não vai responder e vai preferir desconversar. Quando você se der conta, a conversa estará num assunto completamente diferente do inicial.
Quando menos se espera, o manipulador vira a mesa e transforma a vítima em culpado. Um exemplo muito clássico disso é quando a mulher descobre que o marido foi infiel.
Se ela encontra o recibo do motel, ele fica enfurecido por ter tido as coisas reviradas e vigiadas. O marido acaba dando um sermão na esposa sobre a importância da confiança dentro de um relacionamento e apresenta toda uma ladainha sobre o respeito à privacidade.
No final, a mulher se sente errada e acaba pedindo desculpas por ser tão “controladora”. Com isso, a traição se torna um mal-entendido que jamais deveria ter sido mencionado.
Imagem de capa: Shutterstock/Radharani
TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA
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