O egoísmo é a atitude de quem dá predominância somente aos próprios interesses e juízos, sem considerar necessidades e ideias alheias. O adjetivo ‘egoísta’, desse modo, se aplica à pessoa que, de forma sistemática, põe interesses pessoais acima de qualquer circunstância e se recusa à troca benévola de ajuda e boa vontade.
A expressão egoísmo foi criada no século XVIII e, ás vezes, é utilizada como sinônimo de egocentrismo. Mas há diferença.
O egocentrismo é mais a falha na compreensão ampla da realidade que uma questão moral. O egocêntrico tem a compreensão deformada de perspectiva de mundo. Assim, ele sempre parte da visão pessoal na leitura de contexto, uma vez que acha que o mundo gira em torno de si.
Na evolução da linguagem infantil, o egocentrismo é forte no período dos cinco até, mais ou menos, oito anos. A criança não reconhece um interlocutor diferente dela. Não há a compreensão de que ela precisa se fazer entender, então seu discurso é voltado para si.
O egoísmo, por sua vez, é um aspecto do caráter pessoal, uma vez que não se limita à leitura egocêntrica da realidade. O egoísta põe seus interesses sempre acima das circunstâncias em detrimento do direito alheio. Ele ‘deforma’ a realidade para que nela caibam seus ganhos e vantagens.
Essa característica do egoísta no trato com as transações e relações com que se depara, o levam a manter relações objetais. Ou seja, pessoas são instrumentos para o uso dele, que se aproveita do afeto que nelas suscita para obter benefícios.
É bom anotar que todos, em algum momento, temos atitudes egoísticas, mas isso não nos faz egoístas patológicos. As pessoas empáticas, quando agem com egoísmo, sentem drama de consciência. Pedem desculpas. Reparam erros. Não é o caso do egoísta. Ele sente-se bem agindo como age. Acha-se esperto e julga bobos todos os seres empáticos.
Podemos afirmar que há uma gradação no egoísmo. Há pessoas egoístas que querem exercer supremacia e obter vantagens, mas têm algum freio moral e limitam suas investidas. Elas não agridem fisicamente, nem querem prejudicar diretamente o outro.
Mas há um nível mais deletério e cruel de egoísmo. Neste, não há freios. A sanha egoística usa até meios ilícitos e violentos para neutralizar obstáculos.
Não é fácil relacionar-se com uma pessoa egoísta, por isso, o egoísta tem dificuldades para manter relações duradouras. E a razão é simples: a reciprocidade, a confiança e a consideração mútua são requisitos relacionais para as parcerias e não se espera tais atitudes de alguém que vive embriagado de si mesmo.
As pessoas fogem dos egoístas. Elas sabem que na primeira situação em que haja o menor conflito de interesses, o egoísta vai desequilibrar a relação com atitudes de ingratidão, usurpação e mesquinhez.
Talvez por essa razão, quando nos lembramos de alguém que achamos egoísta, a primeira emoção que emerge é a raiva por sabermos que ele supõe ser justo manter relações tão assimétricas do ponto de vista da consideração.
Contudo, se olharmos friamente, veremos que os egoístas são pessoas com relações afetivas cercadas por desconfiança e suspeição e, portanto, emocionalmente pobres.
É notório. Os egoístas são seres isolados e desconfiados. Estão sempre à espreita. Habitam um mundo particular de espelhos facetados que refletem somente a eles próprios e seus interesses (geralmente materiais). E quando um destes espelhos se quebra, eles percebem a estreiteza e solidão de seu espaço afetivo.
Talvez se encontrássemos um egoísta na sua hora extrema e lhe segurássemos a mão, sentiríamos mãos rígidas, desajeitadas para o carinho, mas sedentas por recebê-lo.
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