Ele sonhava em ser um arquiteto, mas caiu e quebrou o pé, pronto foi o suficiente para desistir do seu sonho… Ela queria ser aeromoça, mas era tão complicado fazer o curso e atender os pré-requisitos que acabou se conformando e seguindo outro objetivo… Ora, não há nada de errado em mudar de opinião, descobrir que gosta de outra coisa completamente diferente, mas mesmo assim sempre fica aquela pergunta: por que nós, seres humanos, desistimos tão rápido dos nossos sonhos e objetivos?
Antes que você responda por si mesmo eu vou logo dizendo que sim, somos diferentes e as motivações para os nossos comportamentos também são distintas. Até aí, tudo bem. Mas será que existem justificativas mais gerais para alguns comportamentos? Sim, claro que sim, afinal é sobre isso que muitos pesquisadores e psicólogos se debruçam e estudam: para encontrar respostas e estratégias para compreender e interferir no comportamento humano.
Eu gostaria de destacar aqui algo que considero importante e acaba influenciando na nossa desistência… Quando temos pensamentos sabotadores.
Primeiro, quero deixar claro que estou partindo de um princípio: os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos estão relacionados e um influencia o outro mutuamente.
Então vamos lá entender que tipo de pensamento estou me referindo… Esses pensamentos parecem saltar de dentro da nossa cabeça e não temos controle sobre eles, geralmente estão distorcidos da realidade, mas quando aparecem num primeiro momento simplesmente interpretamos como verdadeiros, sem questionar, e como são inicialmente considerados verdadeiros logo que eles aparecem passamos a sentir emoções desconfortáveis. Esses pensamentos são tão comuns que já foram inclusive categorizados pela Terapia Cognitivo Comportamental, mas tem um tipo de pensamento que costuma influenciar bastante na persistência em alcançar os nossos objetivos. É o pensamento do tipo tudo ou nada.
Quando temos sempre esse tipo de pensamento tendemos a desvalorizar algumas coisas em detrimento de outras, vamos a um exemplo… Imagine a seguinte situação… Uma moça está fazendo dieta, ela está realmente interessada em mudar o seu estilo de vida iniciando pela alimentação, só que em algum momento acaba comendo um chocolate, o pensamento do tipo tudo ou nada entra em cena fazendo ela pensar que não adiantou todo o seu esforço, e já que essa moça já comeu um chocolate então, ela não precisa mais seguir a dieta, afinal a dieta já está arruinada mesmo… Daí a moça come toda uma caixa de chocolate.
Quer outro exemplo? Imagina você no trabalho, se dedica, se esforça, passa algum tempo e nada… Ninguém reconhece o seu esforço e num belo dia, você é chamado a atenção. Nessa hora o tipo de pensamento tudo ou nada pode interferir e fazer você ter um tipo de avaliação mais ou menos assim: não adianta o meu esforço, ninguém me reconhece e eu vou largar tudo e partir para outro emprego. Nesse momento foi desconsiderado o trabalho que você desempenha, o impacto dele na sua vida e na vida de outras pessoas, tudo isso por causa de um momento ou por não atender as suas expectativas ideais. Às vezes esse tipo de pensamento nos faz pensar que se não formos um sucesso total então não adiantou o nosso esforço. E isso nos leva a pensar como se na vida as coisas funcionassem em dois extremos.
Esse tipo de pensamento pode nos fazer desistir de algo no primeiro sinal de fracasso. Outro tipo de pensamento que costuma nos sabotar quando precisamos ter comportamentos focados em uma meta é o tipo de pensamento catastrófico. Esse é o tipo de pensamento que nos faz pensar que tudo será ruim, não importa o esforço que seja feito. Então, seguindo esse tipo de pensamento não adianta se esforçar e dar o melhor de si se no final nada ocorrerá da maneira como você queria. Ou seja, não adianta fazer dieta e ir à academia, por exemplo afinal você já tentou antes tantas vezes e não conseguiu…
Não adianta sair com os amigos, por que provavelmente vai ser chato mesmo e é melhor ficar em casa, se isolar um pouco e evitar essa frustração. Percebeu que nos dois exemplos pensamos como se estivéssemos usando uma bola de cristal? Estamos pensando como se pudéssemos prever o futuro, só que de uma maneira ruim, estamos desconsiderando que ainda que exista a possibilidade de algo ruim acontecer, também há a possibilidade de acontecer algo bom.
São vários os tipos de pensamentos que podem nos sabotar a atingir os nossos objetivos, nesse texto destaquei dois por que percebo eles com maior frequência nos atendimentos que realizo e sei o quanto eles atrapalham as pessoas. Caso você tenha se identificado como alguém com esses tipos de pensamento, ou tenha percebido que tem alguém próximo a você com esse tipo de pensamento não se preocupe, sempre há tempo e solução para reavaliarmos a maneira de encarar a vida e os nossos desafios.
Foto de Ana Francisconi, da Pexels