Nosso mundo anda carente. Estamos perdendo, aos poucos, a humanidade que compõe a nossa essência, por conta do contexto acelerado, frio e materialista que imprime agressividade, concorrência e violência à dinâmica do cotidiano. As aparências tomam o lugar dos escrúpulos, os abraços perdem espaço aos acenos, os diálogos somem sob mensagens virtuais desconexas. O mundo carece de amor. Precisamos ser mais gentis uns com os outros.
Ser gentil é colocar-se no lugar do outro, entendendo que cada um de nós possui uma história de vida pessoal e sente os acontecimentos à sua própria maneira. As pessoas são diferentes umas das outras e lidam com as experiências de vida de acordo com o que possuem dentro de si. Não podemos querer que sintam e reajam como nós, mas sim tentar compreender que o outro vem de lugares onde não estivemos e se tornou quem é após ter experenciado fatos que desconhecemos.
Ser gentil é demonstrar gratidão por tudo o que a vida e as pessoas nos trazem de bom, pelos aprendizados diários que temos a oportunidade de obter. Tudo o que nos acontece e nos fazem, seja positivo ou negativo, servirá para que possamos refletir sobre nossas atitudes e comportamentos, no sentido de que nos tornemos pessoas melhores e fortalecidas. Valorizar as vitórias e aprender com os fracassos determinará o rumo que tomaremos e a qualidade de vida que estaremos construindo em nossa jornada.
Ser gentil é torcer pelo sucesso alheio, deixar que todos brilhem, pois cada um de nós tem algo a oferecer ao mundo, algo que possa fazer a diferença na vida de todos. Ninguém irá tomar o que é nosso, ninguém rouba do outro aquilo que já lhe estiver reservado. Nossas capacidades e talentos se destacarão por si só, a despeito de quaisquer tentativas alheias de nos ofuscarem. Aprender a sentir contentamento com as conquistas dos outros nos libertará dos descaminhos do egoísmo e da distância afetiva.
Ser gentil é saber se colocar e expor pontos de vista sem grosseria, com firmeza e educação. A consistência e coerência daquilo que pensamos não será mais ou menos aceita de acordo com a veemência de nossas palavras, mas se firmará como verdade por conta da forma como se sustenta frente às opiniões contrárias. Persuadir por meio de atitudes coercitivas equivale a impor forçosamente algo em que o outro então apenas fingirá acreditar. A maneira como expomos nossos pensamentos determinará a veracidade e a aceitação por parte de quem os ouve.
Ser gentil é fazer com que as pessoas sempre tenham a certeza de as amamos, de que nos são importantes, de que precisamos delas em nossa jornada, para que possamos respirar com mais tranquilidade e enfrentar os dissabores de mãos dadas com quem está sempre ao nosso lado, haja o que houver. A certeza de sermos amados fortalece nossas verdades, dissipa dúvidas, ergue os ânimos, afaga a alma. O amor alimenta-se também de gentilezas sinceras. Não nos esqueçamos das palavras mágicas aprendidas no jardim de infância: “obrigado”, “por favor” e “com licença”.
Ser gentil é saber viver e conviver em sociedade, aceitando as diferenças e compartilhando conhecimentos e atitudes solidárias, concorrendo à harmonia dos ambientes onde transitamos. E isso depende de que aceitemos a nós mesmos, primeiramente, em tudo o que nos define, vivenciando o que move nossos desejos e sonhos, de forma plena e sincera. Somente vivendo o que somos, o que temos dentro de nós, estaremos prontos a aceitar os viveres alheios com compreensão e empatia.
O mundo já sofre com tragédias demais para que ignoremos o bem que podemos fazer, contribuindo a que a vida se torne menos fria e descolorida. A gentileza é, por isso, imprescindível, pois contagia, espalha-se, multiplica-se, cura, tornando-nos mais felizes, mais humanos, mais gente. Sorrisos sinceros, diretos de nossos corações, sempre serão um doce remédio em meio às atribulações cotidianas, pois nascem de nossa mais pura e íntegra verdade – e é disso que o mundo precisa.
Imagem de Moshe Harosh por Pixabay