Por Danilo Ciconi de Oliveira
Recentemente, na última quarta-feira, 11/03/2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que estamos vivenciando uma pandemia de covid-19 (doença infecciosa causada pelo coronavírus, descoberta após o surto chinês em dezembro de 2019).
O número de casos e, inclusive, de mortos, cresceu exponencialmente nos últimos dias, em diversos lugares do mundo.
Diante da superexposição às notícias, muitas delas alarmantes, como manter a Saúde Mental?
Situações como esta despertam em nós uma série de emoções intensas – medos, inseguranças, ansiedade, dúvidas etc.
Coletivamente, temos uma tendência a catastrofizar riscos e possibilidades negativas. Catastrofização é uma distorção cognitiva (uma forma distorcida de enxergar a realidade) que nos faz, diante de uma situação-problema, imaginar (e ruminar) costumeiramente a pior coisa que pode acontecer, o pior desfecho possível para aquilo. O efeito disso é o despertar de emoções difíceis, como aquelas supracitadas.
Para manter a paz e a saúde, é preciso enxergar os problemas com as suas reais proporções.
Como?
(1) Informação e Educação.
Um primeiro passo é sempre buscar informação de confiança sobre o problema em questão. As redes sociais, por exemplo, são terreno fértil para as chamadas fake news, teorias da conspiração, textos alarmistas ou informações desencontradas.
Se você não está conseguindo controlar a própria ansiedade, convém tentar afastar-se um pouco das redes, durante situações de crise ou risco, como a atual.
Além disso, consultar materiais confiáveis ajuda a conhecer melhor o problema, a aprender estratégias de enfrentamento seguras e, por conseguinte, reduz a ansiedade e o estresse.
Afinal, o medo é sempre maior diante daquilo que não conhecemos muito bem ou que nos é apresentado de forma superestimada.
Algumas boas sugestões de leitura são a própria página da OMS sobre o coronavírus e a covid-19, o material informativo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o aplicativo Coronavírus-SUS, lançado pelo Ministério da Saúde para smartphones.
(2) Saber que fiz tudo o que estava ao meu alcance.
E isto significa simplesmente: adotar estratégias de prevenção e pequenas mudanças de hábito.
Quando temos ciência de que utilizamos todas as estratégias possíveis para lidar com o problema, tendemos a nos sentir menos ansiosos. Afinal, fizemos a nossa parte, nos empenhamos, estamos no caminho certo.
Prevenção está ligada sobremaneira a ações de higienização. E aqui cabe um cuidado ímpar: tais ações devem ser nossas aliadas, condutas que nos ajudam a sentir mais segurança; nunca podem se tornar comportamentos obsessivos. Se for isto que está acontecendo, cabe procurar ajuda especializada – psicólogo ou psiquiatra. Comportamentos obsessivos ou compulsivos são potencialmente ansiogênicos; não colaborarão em nada com a promoção de saúde e qualidade de vida. Higienização das mãos, por exemplo, feita com relativa frequência (o recomendado) é muito diferente do que lavar as mãos o tempo todo. Evitar aglomerações e lugares fechados é muito diferente do que trancar-se em casa e abandonar qualquer convívio social. Os extremos jamais ajudarão. Ao contrário, estando com a emoção a flor da pele, a capacidade de somatização (sintomas físicos atrelados a estados emocionais intensos) apenas se enleva.
Cabe destacar que tais ações de higiene não são necessárias apenas porque corremos o risco de infecção pelo coronavírus, mas sim, são atitudes recomendadas cotidianamente para evitar uma série de outros quadros infecciosos; e que, por muito tempo, temos negligenciado. A demanda da proteção contra a covid-19 apenas vem nos fazer recordar e nos atentar para práticas que devem mesmo ser acopladas ao nosso cotidiano.
Pequenas mudanças de hábitos também são bem-vindas: zelar por uma alimentação mais saudável e completa, por noites de sono de maior qualidade – tudo isto melhora a “resistência” do corpo, prevenindo-nos contra o coronavírus, mas também promovendo Saúde Mental.
Práticas de meditação ou mindfulness (atenção plena) também ajudam a acalmar e a redimensionar nossa percepção da realidade, ou seja, avaliar a situação como ela realmente é, sem alarde, sem exageros.
(3) Seguir os protocolos de atendimento.
Diante de sintomas que possam conotar indício de covid-19, há todo um protocolo médico a ser seguido, que será exposto pelos profissionais de saúde que estiverem nos acompanhando.
Até lá, só nos cabe prevenir.
Diante de um possível diagnóstico, tudo o que podemos fazer é seguir as recomendações.
Quando entendemos com mais clareza qual é a nossa responsabilidade, na prevenção ou no tratamento, percebemos que o que está ao nosso alcance é passível de ser realizado. Nosso senso de autoeficácia é validado – lidamos com tudo com mais tranquilidade.
Sintomas de cunho psicológico, se muito frequentes ou intensos, demandam atenção mais dileta. Procurar o auxílio de um psicólogo é protetivo quando, diante de sentimentos de ansiedade, ainda que fundamentados em noticias ou riscos potenciais, deixamos de cumprir as nossas rotinas, de estar com pessoas queridas, de planejar o futuro ou de experimentar verdadeira paz, esperança e felicidade ao longo dos dias.
Danilo Ciconi de Oliveira (CRP: 06/123683).
Psicólogo (USP), pedagogo (Claretiano), Mestrando em Psicologia pela UFSCar. Atua nas cidades de São João da Boa Vista – SP e São Carlos – SP.
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