Não se fala em outra coisa nesta segunda-feira (28) que não seja a situação inusitada ocorrida na cerimônia de entrega do Oscar na noite de ontem. Will Smith, indicado como melhor ator, entrou no palco para agredir o apresentador Chris Rock, que havia feito uma piada sobre a cabeça raspada da esposa de Will, a cantora e atriz Jada Pinkett-Smith, que sofre com a queda de cabelo devido à alopécia, uma doença autoimune.
Diante da repercussão do caso, muitas pessoas tem manifestado nas redes sociais opiniões favoráveis ou contrárias à atitude de Will Smith. Entre os que reprovam, é quase unânime o argumento de que nada justifica a violência. Já entre os que o apoiam, ganha força a ideia de que a atitude do ator é uma resposta a um tipo de violência que é constante na vida de pessoas negras, a violência psicológica. Aquela quem pode surgir através de um comentário maldoso, uma humilhação gratuita, uma piada preconceituosa.
Para refletirmos juntos sobre o assunto, selecionamos um texto bastante lúcido escrito pela colunista Filipa Maló Franco, do portal de notícias Sapo, de Portugal. Confira abaixo:
“Claro que qualquer ato de violência é reprovável. E não é isso que se discute ou coloca em pauta, julgo eu, quando se compreende a atitude de Will Smith no seu ato irrefletido de amor. Não que o amor precise “destas coisas”, e muito menos, que a violência se justifique em prol dele ou que seja um ato de amor desejável, porque certamente existem atitudes muito mais bonitas. Mas também não podemos negar que quando alguém que amamos se magoa, a agressividade toma conta de nós. Por proteção. Por amor. Porque o olhar desamparado da pessoa que amamos nos magoa de tal forma que a raiva por quem a magoou nos invade. E num ato impulsivo, nem sempre agimos como gostaríamos, e sem desculpas, ultrapassamos o limite do razoável.
Mas vejamos: se por um lado a agressividade e os limites são cruciais para o nosso bem-estar e relações saudáveis, é quando passamos de agressividade a violência que tudo se complica. E qualquer ato violento deve ter consequências. Mas também é verdade que este pode ser compreendido, o que não significa que seja desculpável (colocando os pontos nos i’s).
Posto isto, confesso que me questionei bastante quando, ao ver as notícias do dia, me pareceu que é sempre mais fácil criticarmos a violência quando esta é física, porque é óbvia e não se esconde entre ditos e não ditos. A violência física não é mais grave do que a violência psicológica. Além disso, todas as pessoas têm o seu limite, e o humor também deveria ter. Bem sei que um “estou brincando” pode parecer a desculpa perfeita para se dizer o que se deseja, partindo da ideia de que, se é brincadeira, não ofende. E também sei que é assim que muitos vão drenando os seus rancores e raivas, sempre numa postura escondida e um pouco covarde, mas sem nunca emxeergar a dor do outro.
Mas questiono os limites do humor e se fazer piada com a condição de alguém sem o seu consentimento, não tendo em consideração o que pode significar para essa pessoa ou família, num ato despido de amor e empatia, também é violência. Daquela invisível para quem não quer ver. Mais ainda, quando não se tem em consideração que sendo público o caso de alopecia de Jada Smith (e principalmente por isso), se expõe em praça pública e deixa nua, imagino eu, uma dor inerente a uma doença extremamente dura e exigente a nível emocional, principalmente para quem trabalha com a imagem.
Nada justifica a violência física, é verdade. Mas nada deveria justificar qualquer tipo de violência. E se um dos casos foi premeditado e escrito, o outro foi impulsivo e por isso, irrefletido. Qual violência te assusta mais? Fica para pensarmos juntos…”
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Destaques Psicologias do Brasil, com inmformações de Sapo.
Fotos: Reprodução.