Já ouviu falar em remédio para dores emocionais? Não me refiro a antidepressivos ou calmantes. Falo sobre o tempo. Sua indicação é feita para o tratamento de pequenas ou fortes tristezas. Utilizado também na cicatrização de algumas feridas. Composição: dias, meses ou anos. Não apresenta contraindicações.
Durante o caminhar de nossa existência somos surpreendidos por eventos que nos agridem da mesma forma que um monstruoso corte em nossa pele faria. O amor que foi embora. A demissão do emprego pelo qual tanto batalhamos. O pai carinhoso que partiu para um novo mundo.
Uma viagem para ver o mar após o fim de um relacionamento. O colo da família para suportar a morte de um admirável herói. Um curso de fotografia para colocar em prática o velho sonho de infância. É certo que doses destes momentos ajudam a cicatrizar os estragos que nos acometem. Mas a medicina da vida nos presenteou com um dos melhores medicamentos para estes casos.
Pílulas, drágeas ou cápsulas nunca me agradaram. Prefiro chás para aliviar gripes e sensações de mal-estar. É resistência minha, eu sei. Não entendo muito bem de fármacos. Porém, afirmo com convicção: o melhor dos remédios é o tempo. A dosagem deve ser feita proporcionalmente ao tamanho do sofrimento. O tempo é analgésico. Causa alívio.
Não é uma fórmula que tem o poder de excluir as memórias que causam incomodo aos nossos pensamentos e sentimentos. Nem tão pouco tem como função fazer com que um indivíduo esqueça suas derrotas ou frustrações. Penso que “esquecer” é uma palavra forte demais para o vocabulário de qualquer pessoa. Nós, seres humanos, somos formados por lembranças. O tempo não você faz esquecer, faz ressignificar. O tempo não destrói, atribui um novo sentido. Modela a dor.
No início você pode negar o fato, sem mesmo perceber. Sua mente está planejando um almoço em família, o prato favorito em cima da mesa, seus irmãos estarão reunidos, você já consegue sentir o gosto da sobremesa e o som do violão de seu pai. Pausa para organização destes pensamentos. O sábio anfitrião não está mais presente.
Semanas ou meses depois a raiva vai ao seu encontro. O destino será amaldiçoado por fazer tantas crueldades em sua vida. Voltas e mais voltas nos ponteiros e você vai aceitar. Tudo bem, afinal era para ser assim, não? A psicologia chama todo este processo de elaboração do luto. Que também necessita de comprimidos do tempo para sua execução.
Mas assim como em qualquer outro medicamento, o tempo também possui reação adversa. Deste modo, eventos indesejados passam a ocorrer. É neste momento que os minutos passam a regredir. Velhos sintomas surgem novamente. Os ponteiros parecem estar contra você. E o relógio mostra que é hora de procurar terapia.