Por Marcel Camargo
Nada como ter um lar para voltar após um serviço extenuante, após enfrentar o dia que deu errado, as palavras que foram mal entendidas, as discussões que enfrentamos por nada, as decepções que tivemos.
Os dias muitas vezes se arrastam, as horas se demoram, o tempo para no tempo e os problemas se avolumam, as saídas não aparecem e a luz teima em escurecer, lá fora e aqui dentro de nós. Não é fácil viver um dia após o outro, não é fácil enfrentar a maldade de gente que não gosta de ninguém, não é fácil enfrentar a nós mesmos e tudo o que fizemos de nossas vidas, e tudo o que deixamos de fazer. Como é bom ter para onde retornar após toda dor, todo cansaço, toda vida de cada dia.
Nada como ter um lar para voltar após passar o dia todo em um serviço extenuante, que mina as nossas forças, que nos obriga a conviver com o pior do que o outro tem a oferecer. Não poderemos pedir demissão quando bem entendermos, precisamos sobreviver. Mas em nossa casa, junto de quem sorri ao nos ver, nosso recanto, nosso conforto, seremos capazes de reabastecer nossa luz e nossa força em continuar tentando. Todo dia.
Nada como ter um lar para voltar após enfrentar o dia que deu errado, as palavras que foram mal entendidas, as discussões que enfrentamos por nada, as decepções que tivemos com quem mais amávamos. O lar então será o nosso porto-seguro, a morada da calma, da clareza, do entendimento do que fica lá fora. O lar será o lugar onde poderemos refletir calmamente sobre nossa parcela de culpa em todas as dores que nos rodeiam. Sempre.
Nada como ter um lar onde encontraremos aqueles que nos amam, nos querem, nos olham, percebem, nos perguntam sobre o que sentimos, o que desejamos, o que sonhamos. Aqueles que nos entendem, que nos dão as mãos firmes, chacoalhando-nos e trazendo-nos de volta à realidade do bem que está em nós e caminha ao nosso lado. Aqueles que jamais desistirão de nós. Nunca.
Nada como ter um lar onde descansaremos, onde choraremos, onde aplacaremos as dores do corpo, da alma, deixando escorrer o gosto amargo da boca, da pele, do coração. Onde nossos medos não nos afundarão na escuridão da solidão, onde haverá para onde fugir, para onde correr, para onde voltar nossos olhos e nossas esperanças. Um lugar nosso, tão nosso que saberemos a preciosidade de quem permitiremos ali residir ao nosso lado, dormindo e acordando junto. Junto.
Teremos muito a enfrentar, teremos muita coisa à frente, muito do que nos orgulhar, do que nos envergonhar, muito a perder, a conquistar, a sorrir e a chorar. O amanhã é uma incógnita, incontrolável, imprevisível, surpreendente sempre. Sabermos, afinal, que teremos para onde voltar ao fim de cada dia, que haverá quem nos esperará com alegria, que haverá repouso e consolo no conforto do corpo e da alma, fará toda a diferença em nossas vidas, seja quando corremos para casa com a intenção de dividir felicidade, seja quando nos arrastamos para encontrar a guarida amorosa de nossos pesares.
TEXTO ORIGINAL DE CONTIOUTRA