Por Audrey Leme
Diferente da sexualidade instintual dos animais, a sexualidade humana é pulsional e admite variações em relação ao objeto e ao objetivo sexual.
Por isso existe a interdição do incesto, fenômeno que separa o homem do animal. A interdição coloca o homem em questão com a sua sexualidade e o aproxima outra vez do animal por meio do movimento da transgressão.
Podemos pensar que é necessário integrar o sexo à civilização, sendo que o sexo ultrapassa o mero significado de reprodução. Diante disso, temos a repressão, a sublimação e a perversão da sexualidade.
Relacionaremos a sexualidade com o erotismo e a pornografia.
A pornografia origina-se do grego “pornographos” e significa “escritos sobre prostitutas”, remetendo-se a hábitos e costumes ligados á prostituição. A pornografia está relacionada à devassidão sexual, ao que é considerado obsceno, indecente, sendo veiculada por meio de imagens, publicações, linguagem, gestos, etc. Relaciona-se com a agressividade, com a violência e com as relações de subordinação sexual.
Já a palavra erotismo deriva de Eros, que representava o Deus grego do amor e da paixão. O erotismo refere-se à sensualidade e as diferentes formas de se provocar excitação e desejo sexual, porém, ligados ao amor e não ao comércio, sendo instrumento de inspiração para as artes e a literatura. O erotismo é a poesia do sexo. O erotismo insinua, mas deixa espaço para a imaginação, enquanto a pornografia é explícita.
Na era contemporânea, caracterizada pela sociedade do consumo e do espetáculo, do gozo a qualquer preço, o objeto sexual é visto como mais uma mercadoria descartável a ser consumida. A pornografia é escandalizada nas mídias, nas músicas, nas roupas e em tantos outros objetos que acabam por incentivar a prática sexual cada vez mais cedo e de forma leviana na vida do sujeito, ou seja, sem compromisso e sem afeto.
Ao consentir e escancarar aquilo que antigamente era visto como proibido e que deveria ser ocultado e escondido, a sociedade atual aprova uma cultura pornográfica, principalmente após a massificação da Internet, na qual se encontra com facilidade a exposição de práticas sexuais diversas que pretendem instigar a libido do espectador.
A produção e venda de pornografia tornou-se, portanto, uma indústria lucrativa, sendo que conteúdos pornográficos estão entre os mais procurados nos sites de busca virtuais, transformando o sexo em produto de consumo.
Assim como as relações virtuais, o sexo virtual vem sendo incorporado ao comportamento de muitas pessoas e contribuindo, inclusive, para o surgimento de patologias (compulsões e perversões sexuais).
Para Psicanálise, a sexualidade humana é construída nas relações com o Outro, ao longo do desenvolvimento humano. Podemos dizer que o desenvolvimento da sexualidade humana pode estar em divergência com o desenvolvimento biológico, ou seja, existem sujeitos adultos com uma sexualidade infantil.
Logo, como tudo na vida é permeado de ambivalência, há nesse sentido a necessidade de separar o certo do errado, o lícito do ilícito, o erótico do pornográfico, o “normal” do patológico, de acordo com os diferentes contextos culturais e morais.
No entanto, quando se trata de psiquismo humano, a interpretação das regras é subjetiva e a formação dos sintomas precede de como cada sujeito aprendeu a lidar com o prazer e com os limites estabelecidos na convivência com o Outro.