A nossa sociedade líquida tem dificuldades de escutar, tudo é apressado. Alguns profissionais não mostram boa vontade para escutar, como por exemplo: comunicadores de rádio e televisão que falam aceleradamente, entrevistadores que respondem pelos entrevistados, religiosos que acham que Deus é inaudível, psicoterapeutas que divagam ao perceber voz dos pacientes, professores que se incomodam com a fala dos alunos, empresários que abreviam a conversa com os funcionários e políticos que depois de eleitos ignoram a locução dos eleitores.
Há outras situações, como aqueles maridos que não prestam atenção nas palavras das esposas, pais que se irritam ao escutar os anseios dos filhos, amigos só querem desabafar ao invés de escutar. Essa coisa da “tagarelice” tem elementos narcísicos e neuróticos, tendo a origem no ritmo alucinante das nossas cidades, com superdoses cotidianas de informações e obrigações, que afetam a saúde emocional e mental de muitas pessoas.
Essa “doidice” urbana, associada a falta de escuta, produz mal-estar na comunicação. A vida seria mais tranquila se as pessoas escutassem ao contrário de ouvir de modo superficial. Para escutar, torna-se imprescindível o uso de um mecanismo especial: saber dar atenção. Demanda, de uma escuta mais cautelosa, pois quem escuta, ouve, mas quem ouve não necessariamente escuta. Ou como diz o ditado popular: “entrou por um ouvido e saiu pelo outro.”
As pessoas que ouvem de maneira diluída têm dificuldades de se envolver num processo autêntico de comunicação. Escutar é mais que ouvir, gente que escuta dá atenção ao contexto da conversa, entende o assunto, percebe o que foi dito, reconhece as palavras. Mas não é um ouvinte passivo, sabe distinguir o que é falso e verdadeiro, sem julgar.
O neurologista auditivo Seth S. Horowitz publicou um artigo publicado no New York Times, onde avaliou que ouvir de forma passiva é uma consequência do nosso sistema auditivo. Segundo tal cientista, a distração digital e sobrecarga de informações – estariam se tornando uma epidemia num mundo, que está trocando conteúdo por conveniência e significado por velocidade.
Mas para Seth escutar é uma ação ativa, uma arte que – requer habilidade e foco, que pode ser cada vez mais melhorada. Compatível com o pensamento do líder espiritual, do budismo tibetano, o Dalai Lama, que nos ensina: “a arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância”
Nesse mundo barulhento, somos tensionados a falar rápido e ouvir o mínimo possível, escutar não entra na lógica da aceleração. Porém, arte de escutar é um sábio conselho milenar – que os grandes mestres nos deram: Freud, Sócrates, Buda e Jesus Cristo, pois para eles uma comunicação perfeita e sem ruídos nos transforma em pessoas melhores e bons ouvintes, no sentido correto da audição.
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