Na contramão das típicas histórias de infância envolvendo coleções de figurinhas e passeios ao zoológico, Vic, uma mulher diagnosticada com Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), relembra uma juventude marcada por interesses pouco convencionais.
Sob o nome de usuário @victhepath no TikTok, Vic compartilhou um vídeo que rapidamente viralizou, no qual descreve suas fascinantes e incomuns escolhas de leitura e atividades quando criança. Aos oito anos, enquanto a maioria de seus colegas de classe preferia revistas em quadrinhos e histórias infantis, Vic comprou um livro sobre o Holocausto em uma feira do livro escolar. E em uma excursão a Washington D.C., sua escolha de visita foi o Museu do Holocausto, em vez de locais mais populares como o Smithsonian.
Outro exemplo que chama a atenção é o interesse de Vic pela última família imperial russa e a trágica história da Grã-Duquesa Anastasia. Esse tipo de fascinação por eventos históricos dramáticos e figuras desafortunadas é algo que ela admite ter cultivado desde cedo. Em um trabalho escolar, enquanto outros alunos optavam por temas mais leves, Vic mergulhava nas intrigas e tragédias dos Romanov.
As preferências literárias de Vic também foram marcadas por leituras distantes do padrão infantil. Ela era fascinada pelas histórias originais dos Irmãos Grimm — aquelas repletas de violência, abusos e finais macabros, muito diferentes das versões suavizadas pela Disney. O interesse se estendia também para a mitologia grega e as antigas civilizações Asteca e Inca, especialmente pelos aspectos mais sombrios dessas culturas, como os sacrifícios humanos.
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Interesses peculiares não indicam, por si só, um transtorno de personalidade. Contudo, no caso de Vic, eles acabaram se revelando manifestações precoces de um quadro clínico mais complexo. O Transtorno de Personalidade Antissocial, conhecido popularmente como psicopatia, é marcado por impulsividade, falta de empatia e dificuldades em seguir normas sociais. Embora frequentemente associado a comportamentos antissociais e até mesmo criminosos, essa condição também pode ser acompanhada por uma curiosidade inata por temas considerados socialmente inapropriados.
Estatísticas da organização de saúde mental Mind indicam que cerca de 3 em cada 100 pessoas são diagnosticadas com TPAS ao longo da vida. No entanto, a prevalência real pode ser ainda maior devido ao subdiagnóstico e à falta de conhecimento sobre o transtorno. Casos como o de Vic, que se abrem publicamente para falar de suas experiências, ajudam a desconstruir estereótipos e a promover uma compreensão mais aprofundada da condição.
A abordagem honesta e direta de Vic em compartilhar seus interesses “mórbidos” de infância e o impacto que eles tiveram em sua vida adulta desafia as percepções tradicionais sobre o TPAS. Ao falar abertamente, ela ilumina um aspecto pouco explorado da condição, mostrando que nem todo portador se encaixa nas representações sensacionalistas que dominam a mídia.