Uma das séries mais assistidas da Netflix nos últimos dias, a segunda temporada da antologia “Monstros” reacendeu o debate em torno do infame caso dos irmãos Menendez, que em 1989 tiraram a vida dos pais, José e Kitty Menendez, na mansão da família, localizada em Beverly Hills, Los Angeles. A produção mistura fatos e ficção para explorar tanto a perspectiva da acusação quanto a da defesa, revisitando uma história que ainda divide opiniões mais de 30 anos depois.
Ganância ou autodefesa?
Desde o início das investigações, o caso chocou o público. A acusação sustentava que Lyle e Erik Menendez agiram movidos pela ganância, na tentativa de se apossar da fortuna da família. No entanto, a defesa argumentou que os irmãos foram vítimas de abuso por parte do próprio pai e que o crime foi um ato desesperado de autodefesa.
Embora a série retrate o desenrolar das investigações e a condenação dos irmãos, um detalhe importante ficou fora da narrativa: uma carta escrita por Erik Menendez meses antes do crime, que a defesa considera uma peça-chave na tentativa de conseguir um novo julgamento.
A carta que pode mudar tudo
Oito meses antes do crime, Erik enviou uma carta ao primo Andy Cano, na qual relatava os abusos sofridos pelo pai. No texto, o irmão mais novo expôs seu sofrimento e o medo constante de novas agressões.
“Eu tenho tentado evitar o papai. Isso ainda acontece, Andy, mas é pior para mim agora. Não consigo explicar. Ele está tão acima do peso que não suporto vê-lo. Eu nunca sei quando isso vai acontecer e está me deixando louco. Toda noite, fico acordado pensando que ele pode vir”, escreveu Erik na carta em 1988. “Preciso tirar isso da minha mente. Eu sei o que você disse antes, mas estou com medo. Você simplesmente não conhece o papai como eu. Ele é louco! Ele me avisou cem vezes sobre contar a alguém, especialmente a Lyle. Eu sou um covarde? Não sei se vou conseguir superar isso. Eu consigo lidar com isso, Andy. Preciso parar de pensar nisso”.
Esse documento, descoberto recentemente, é apontado pelos advogados Mark Geragos e Cliff Gardner como uma evidência crucial que pode modificar a interpretação do crime. Em 2023, a defesa dos Menendez entrou com um pedido de habeas corpus no Tribunal Superior de Los Angeles, pedindo a revisão das sentenças.
“Não foi assassinato, foi homicídio culposo”
Para a defesa, a carta reforça que o crime não foi premeditado, mas sim resultado de anos de abusos e de uma reação emocional extrema. “O crime foi homicídio culposo, não assassinato. Essa tem sido a posição da defesa desde o primeiro dia, não que eles devam sair impunes, mas que sua punição deve ser proporcional ao que fizeram. Essas eram crianças que foram abusadas a vida inteira”, explicou o advogado Cliff Gardner à LA Mag. Segundo ele, a intenção não é que os irmãos sejam absolvidos, mas que a punição seja proporcional às circunstâncias.
O caso Menendez é um dos muitos exemplos de como traumas familiares podem transformar vidas de forma irreversível. Enquanto a nova temporada da série desperta o interesse do público brasileiro, as discussões sobre culpa, justiça e a complexidade das motivações humanas continuam em evidência.
Agora, a expectativa é saber se o tribunal aceitará o pedido de novo julgamento, oferecendo aos irmãos Menendez uma nova chance de apresentar sua versão completa da história.
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Fonte: Aventuras na História.