Por Zachary Matheson
Durante muito tempo hesitei em responder a essa pergunta, porque a resposta não tem graça. Mas acho que a mundanidade revela algo importante e é algo que passa batido quando se fala em pais do mesmo sexo. Bill e Tim me adotaram quando nasci, em 1987. Bill era um advogado em início de carreira numa grande empresa imobiliária. Tim era psicólogo, o mais velho de nove irmãos. Tim parou de trabalhar para cuidar de mim. Bill continuou no emprego para pagar as contas e colocar comida na mesa.
Quando comecei a ir para a escola, Tim preparava meu lanche. Bill colocava terno e gravata e ia para o escritório. Tim era obcecado por saúde. Bill me levava ao cinema e ao McDonald’s. Tim me pegava na escola e preparava o jantar da família. Bill não sabia nem fritar um ovo. Ele viajava a negócios e sempre me trazia algum presente. Bill era estoico. Me abraçava, mas não era natural, como se o afeto fosse uma segunda língua aprendida depois de velho. Tim era fluente. Sempre me agarrava. Mexia no meu cabelo. Beijava minha testa.
Quando saí de casa e comecei a faculdade, Tim ficou triste que eu não ligava para casa com frequência. Não sei se Bill percebeu que eu não morava mais lá. Quando entrei para a Guarda Nacional e fui fazer o treinamento básico, Tim ficou chocado. Bill disse para eu me divertir. Quando o amor da minha vida me abandonou, Tim me abraçou como seu eu tivesse 10 anos de idade, e chorei no ombro dele. Bill me levou pra comer um burrito.
Então como é ser criado por dois pais? É sem graça. Não tão sem graça como ficar esperando a água ferver. Sem graça como o dia-a-dia, o cotidiano. Sem sal. Porque ser criado por dois pais é exatamente a mesma coisa que ser criado por um pai e uma mãe. Só que minha mãe por acaso era um cara.
Me perguntam como eu chamava meus pais quando era criança. Diferenciar os dois pais era difícil no começo. Se não me engano, comecei tentando chamar os dois de “papai”. Obviamente não funcionou. Então chamava-os pelo primeiro nome. Eles não gostaram muito. Finalmente decidimos por “Daddy” (Bill) e “Poppie” (Tim). É assim até hoje.
Está se perguntando quem é a “mamãe” da foto? É o da esquerda, me agarrando com toda a força.
Para quem quer saber o que Tim acha de ser chamado de “mamãe”. Perguntei e ele me contou uma história. Aparentemente, quando estava no ensino básico corri em direção a ele e disse, do nada: “Você é minha mamãe porque faz meu lanche e me leva para brincar na casa dos meus amigos”. Ele riu e disse: “OK, Zach”. O ponto é que ele sabe há muito tempo que o enxergo como uma mãe. Então, quando leu este post ele me disse que ser descrito como “mãe” não o incomodou nem um pouco.
Imagem de capa: Shutterstock/bzbz
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST