Por Ana Prado
Você já deve ter sentido na pele o quanto nossas ideias pré-concebidas influenciam na tomada de decisões e nos impedem de ver as coisas com clareza. Além disso, nosso envolvimento emocional com certas questões também podem ser um obstáculo para a objetividade. É por isso que temos muito mais facilidade em resolver os problemas dos outros do que os nossos.
Mas nem sempre é assim. Segundo um novo estudo publicado na revista Psychological Science, existe um fator que pode aumentar nossa capacidade de tomar boas decisões: ter apego à virtude e à ética.
Sim: os pesquisadores descobriram que as pessoas que baseiam suas decisões em motivos éticos e virtuosos costumam ter menos dificuldade para tomar decisões sábias mesmo quando estão em jogo problemas que em tese poderiam comprometer sua objetividade e raciocínio por mexerem muito com suas emoções. “Nossas descobertas sugerem que essas pessoas podem raciocinar com sabedoria e superar os preconceitos pessoais observados em pesquisas anteriores”, explica um dos autores, o psicólogo Alex Huynh, da Universidade de Waterloo.
O estudo
Para chegar a essa conclusão, Huynh e seus colegas recrutaram 267 estudantes universitários como voluntários. Eles deveriam informar sua motivação em buscar a virtude, dizendo o quanto concordavam com declarações como “Eu gostaria de contribuir com os outros ou com o mundo” e “Eu gostaria de fazer aquilo em que acredito”.
Depois disso, essas pessoas foram aleatoriamente designadas para refletir sobre um conflito pessoal ou de um amigo próximo, imaginando que esse problema ainda não estava resolvido e descrevendo como pensavam e se sentiam sobre a situação. Por fim, cada um deveria analisar a utilidade de diferentes estratégias de raciocínio sábio (por exemplo, adotar uma perspectiva de fora) para abordar o conflito em questão.
O raciocínio sábio basicamente envolve ver a coisa sob o ponto de vista de outras pessoas e ter humildade intelectual. Esses dois fatores estão relacionados à consciência de que para entender o alcance total de um problema é preciso ir além de sua perspectiva pessoal. Ter consciência das suas limitações é sinal de sabedoria, embora muita gente pense o contrário.
Como era esperado, os participantes que pensaram sobre o dilema de um amigo conseguiram mostrar maior sabedoria do que aqueles que pensavam em um dilema pessoal, pois haviam considerado as estratégias mais sábias como sendo também mais úteis na solução de seu problema.
Mas não houve essa discrepância quando os voluntários se mostraram dispostos a buscar a virtude: mesmo quando tinham de achar um solução para seus próprios problemas, eles conseguiram perceber a importância das estratégias mais sábias e foram capazes de tomar decisões melhores, além de agir com mais tranquilidade e precisão.
“Os filósofos estavam certos”
Huynh lembra que todo mundo está propenso a ter uma visão míope dos problemas, enxergando só a sua própria perspectiva. Mas suas descobertas sugerem que a personalidade e motivação podem influenciar sua capacidade de abordar problemas pessoais de forma mais calma e sábia.
Agora, os pesquisadores querem entender se o treinamento de pessoas para valorizar motivos virtuosos (ou seja, para focar em seus ideais pessoais e contribuir com outros) aumenta sua capacidade de usar estratégias de raciocínio sábio.
“Esta é a primeira pesquisa de que temos notícia que associa empiricamente essa ligação da virtude com a sabedoria, uma conexão que os filósofos têm feito há mais de dois milênios”, diz Huynh. “Essas descobertas abrem novas possibilidades para que pesquisas futuras investiguem como aumentar o nível de sabedoria de uma pessoa”.
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