Por Joelma Pimenta
A ansiedade é considerada um catalisador para o surgimento de doenças e um gatilho capaz de aliar-se a uma predisposição genética. Pela ótica da medicina tradicional chinesa, os sintomas causados por ela são vistos como uma desarmonia entre corpo, mente e espírito. Neste contexto, a acupuntura atua como prática terapêutica que busca o equilíbrio da energia através dos cinco elementos (fogo, terra, metal, água e madeira), a fim de restabelecer a harmonia do organismo.
A ansiedade está presente na vida de todas as pessoas e pode até ser considerada natural, visto que prepara o organismo para uma situação nova e compreendida como perigosa. Quando sua intensidade é desproporcional ao estímulo que a provoca, no entanto, é classificada como prejudicial. Um exemplo comum é a preocupação de mães quando os filhos saem de casa. A apreensão a que algumas mães se submetem pode ser que não corresponda ao “risco” de o filho não estar dentro de casa.
Mais água, menos fogo
Em excesso, a ansiedade pode provocar sintomas como inquietação, cansaço, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e perturbação do sono. Para a medicina chinesa, estes sintomas são provenientes especialmente do desequilíbrio entre os elementos água e fogo. “A ansiedade do coração está baseada no medo do rim”, afirma Jeremy Ross, autor do livro Combinações dos pontos de acupuntura: a chave para o êxito clínico. Sob a visão ocidental, Ross quer dizer que o excesso de medo e a insegurança a respeito do que está por vir são a causa real da ansiedade.
Neste caso, deve-se aumentar a água tonificando o rim e diminuir o fogo harmonizando o coração. Ao equilibrar a energia destes elementos e órgãos, é possível obter uma mente mais tranquila e sossegada. Alguns pontos que harmonizam estes elementos estão localizados na região interna do antebraço, em especial próximo ao punho e na região do tornozelo, na fossa interna entre o pé e a perna. A automassagem nestes locais também pode trazer benefícios, acalmando a mente e o coração.
Agulhas de acupuntura
Um estudo de caso realizado na Universidade Federal do Paraná pelo psicólogo e pesquisador André Luiz Picolli mostra a eficácia do tratamento de ansiedade pela acupuntura. Neste trabalho o autor faz um comparativo entre a visão ocidental, descrita pela psicologia, e a visão chinesa.
A seleção dos pontos para diminuir a ansiedade foi feita com base na investigação da paciente e na análise dos pulsos e língua da mesma, a fim de equilibrar a energia de todo o corpo. De acordo com a medicina tradicional chinesa, é possível identificar a qualidade da energia dos órgãos através de um exame minucioso destas microrregiões. A partir da quarta sessão o autor observou uma melhora significativa da paciente, com relato do alívio dos sintomas a partir da sexta sessão de tratamento.
Em geral, as sessões de acupuntura devem ser realizadas semanalmente e, para um bom resultado, é sugerido o mínimo de dez sessões. O reestabelecimento do equilíbrio do corpo ocorre por um processo gradual e contínuo, levando em conta que cada organismo responde a seu tempo. A técnica pode ser também mantida de forma preventiva a fim de manter a energia vital em harmonia.
Acupuntura facial
Como complemento à acupuntura no tratamento da ansiedade, a medicina tradicional chinesa recomenda incorporar frutas vermelhas, como a lichia e a pitanga, que beneficiam o coração. Recomenda ainda incluir na dieta sementes pretas como feijão e arroz preto, que tonificam o rim. Outra dica simples que pode trazer bons resultados é o consumo abundante de água. Este elemento diminui o “fogo” do organismo e impede que ele deixe a mente agitada e inquieta.
Contraindicações
Em alguns casos o uso da acupuntura pode ser contraindicado. Pacientes que possuem áreas infectadas ou com tumores e portadores de marcapasso devem optar por um método que não utilize as agulhas. Outra contraindicação antes de se iniciar um tratamento através desta terapêutica é quando não há um diagnóstico estabelecido ou quando não tenha sido feito uma tentativa honesta de determiná-lo. Isto evita que a acupuntura mascare ou altere os sintomas clínicos que podem levar ao diagnóstico.
Idosos também devem ser avaliados com cautela antes de iniciar um tratamento para que não se exija deles uma movimentação de energia vital capaz de sobrecarregar o corpo. Aqueles que têm medo de agulhas também têm outras opções para se beneficiarem da medicina chinesa.
Sem agulhas
Para aqueles que não se identificam com as agulhas, há a opção de fazer o tratamento com cores, sementes e até mesmo com as mãos.
A cromoterapia utiliza luzes de diferentes cores para tonificar ou sedar determinados pontos e é capaz de promover resultados semelhantes ao das agulhas. A cor azul em especial pode ajudar na redução da pressão arterial, tendo efeito calmante, anestésico suave e refrescante. No campo emocional, ajuda a reduzir a ansiedade, o estresse, a dor e pode ser induz ao relaxamento e ao sono.
A acupuntura auricular ou auriculoterapia, terapêutica que estimula os pontos do corpo através da inserção de sementes na orelha, também apresenta bons resultados. Estudo realizado pelas enfermeiras Juliana Miyuki do Prado, Leonice Fumiko Sato Kurebayashi e Maria Júlia Paes da Silva na Universidade de São Paulo (USP) apresentou uma redução de 20% dos níveis de ansiedade moderada e alta em estudantes de enfermagem.
A massagem, em especial o shiatsu, prática que promove pressão no trajeto dos meridianos (canais por onde circula a energia vital) utilizados na acupuntura também podem trazer resultados positivos em casos de ansiedade, uma vez que promovem relaxamento, tonificam os órgãos e promovem o equilíbrio entre os elementos.
Seja com agulhas, com sementes, com cromoterapia ou com as mãos, a acupuntura e as técnicas advindas da medicina chinesa podem ser consideradas aliadas do equilíbrio corpo e mente e diminuir a ansiedade. Praticadas com a devida cautela, auxiliam na harmonização dos sintomas advindos da ansiedade como irritabilidade, tensão muscular e perturbações no sono, atuando de forma preventiva para outros desequilíbrios.
Imagem de capa: Shutterstock/Andrey_Popov
TEXTO ORIGINAL DE NAMU