Quem não conhece alguém, ou até mesmo depois dessa leitura se identifique, com o arquétipo do adulto que se comporta igual a um adolescente? Esse comportamento não se restringe a visão de que se deve encarar a vida com regalias e humores desmedidos, ele vai aos confins do desapego afetivo, da desordem financeira, profissional e moral. Conhecido como Puer Aeternus, expressão Latina para Eterno Adolescente, esse comportamento traz grandes atrasos e impedimentos no desenvolvimento do sujeito.
A RELAÇÃO COM O MEIO SOCIAL
O Puer é praticamente um antisocial. Ele se vê na condição de gênio, de inatingível, de intelectual poderoso o qual ninguém está à altura de compreendê-lo. Isso faz com que se isole e por outro lado, as pessoas tendem a ignorar atitudes que se mesclam com a arrogância. Quando fala, se percebe os conflitos e revoltas que interagem no seu interior, quanto a esses sentimentos, vamos tentar convergir para uma única fonte causadora mais adiante.
A ESCOLHA DA PROFISSÃO DO PUER AETERNUS
No contexto profissional ele também sofre, e muito. Quando trabalha, é com dificuldade de adaptação e baixo rendimento, a preguiça é parte da sua sombra, reclamando sempre que não nasceu pra se submeter a nenhum chefe e que se contentaria em viver apenas com o mínimo desde que não precisasse trabalhar. A escolha da profissão é sempre um apoio para o seu comportamento. Uma das profissões que mais escolhem e a de aviador — que os mantém no mundo das nuvens e sem o contato com a terra que lembra a difícil realidade concreta — ou alpinistas — também ligados à extrema liberdade. Nota-se que a morte prematura é uma derivada das escolhas profissionais do Puer.
A FUGA DO CASAMENTO
A vida afetiva do Puer é carregada de infortúnios causados por ele mesmo. Em busca da perfeição que lembra a figura da mãe, ele busca em várias mulheres a sua satisfação. Porém, isso é algo muito difícil para ele sabendo que um relacionamento afetivo demanda responsabilidade, cuidado e apego. Tem sempre um cabelo na sopa, tem sempre um mas… que o impede de se aprofundar num relacionamento e em vão ele faz novas tentativas pois ao descobrir que as mulheres são seres errantes, desiste e não raro volta para a Grande-Mãe. Esta tem grande envolvimento nesse comportamento do Puer, geralmente é uma mãe dominadora, uma cruel devoradora que o mantém num cativeiro afetivo em nome da proteção, assim, o Puer é incapaz de andar com as próprias pernas, daí o fato de ser ausente em todos os aspectos da vida adulta e sem responsabilidades inclusive consigo próprio.
UM DOS MAIS CONHECIDOS PUER AETERNUS
Assim foi com o criador do “Pequeno Príncipe” Saint Exupéry. Um homem que se recusou a viver a vida adulta e fez do personagem suas projeções. Era aviador, teve alguns relacionamentos conjugais infrutíferos e uma mãe devoradora. Construiu o personagem que vem de outro planeta, que abandona uma rosa e deseja que seu último contato na terra seja com a morte. Seu pedido é atendido pela cobra que o morde após dar a garantia de que o principezinho estaria voltando para a Grande-Mãe. Saint Exupéry teve uma morte prematura num acidente de avião e morreu aos 44 anos. Também não raro encontramos pessoas que fazem desse livro sua bíblia, o que ocorre nestes casos é a identificação inconsciente com o personagem do pequeno com vestes de Napoleão.
O TRATAMENTO NA CLÍNICA
Para tratar do Puer na terapia, Jung — e ele próprio chegou a desconfiar do prognóstico ao ver que era extremamente simples — propôs que o melhor tratamento neste caso é o trabalho, através deste contato o sujeito tenderá a assumir as responsabilidades que o levarão a se desenvolver no mundo adulto, criando laços e trazendo segurança — item indispensável na remodelação desse Sujeito. É necessário que haja perseverança em algo que lhe traga independência e auto-aceitação, incorporando o sujeito adulto à sua consciência.
Referências: Puer Aeternus – A Luta do Adulto contra o Paraíso da Criança de Marie-Louise Von Franz