Os mais conhecidos registros fotográficos de hospitais psiquiátricos foram feitos de modo a denunciar a difícil vida daqueles que eram pacientes desses locais. O caráter cinza e desumanizado com que eram tratados tais pacientes era destacado nas imagens, sendo tais documentos utilizados como um modo de expor essa dura realidade, movimentando autoridades para a mudança nos sistemas de atendimento às pessoas com transtornos mentais.
A fotógrafa francesa Marylise Vigneau fez um ensaio com pacientes paquistaneses da Instituição Psiquiátrica de Lahore. Em “Herkules told me to stay in america”, ela capta detalhes que escapam aos olhos de muitos dos que convivem com esses pacientes: a simplicidade, alegria, sutileza, sensibilidade e o amor . Seu trabalho foi fruto de três anos de convivência dentro do hospital. Algumas fotos foram legendadas com frases dos pacientes, assim como o próprio ensaio.
O fotógrafo Paquistanês Aun Raza, nativo de Lahore, fez um ensaio também no mesmo hospital. Antes de adentrar a instituição, foi alarmado que os pacientes poderiam ser agressivos, ameaçadores ou violentos, o que não refletiu a realidade. Ele se deparou com pessoas sensíveis, abertas, verdadeiras e bons amigos. Durante quatro anos, ele documentou todas as nuances e detalhes da vida dentro dos muros da instituição.
As pessoas com transtornos mentais, desde muito tempo, são tratadas como sendo uma ameaça. Isso é demonstrado ainda hoje em larga escala por grande parte da sociedade. Basta perguntar à pessoas próximas, o que você entende por doença mental?
Eu trabalho com pacientes esquizofrênicos; quando digo isso a um leigo, ou até mesmo para estudantes de psicologia mais novos, escuto coisas como: “mas tu não tem medo?”, “meu Deus! e se ele te bater?”, “Deeeeus me livre! vai que ele vê alguma coisa em mim”, “essas doenças são tudo coisa do demônio!”, “e se uma voz tiver falando com ele e ele quiser te matar?”, “se fosse eu ia ficar doidinha(o), o homem falar que ta vendo o diabo em mim, e se ele surtar?”. Antigamente recebia essas indagações com um misto de dor, raiva, impaciência e devolvia alguma coisa bem humorada ou profundamente desaforada, mas sempre com um tom de ironia que demonstrava a imprecisão da interpretação dos meus interlocutores sobre transtorno mental. Depois de um ano atuando, comecei a aceitar a ideia de que as pessoas precisam mais de informação do que de minhas ironias. Tentar desconstruir estigmas (próprios ou de outros) sobre o transtorno mental é um papel de quem se propõe a dividir (multiplicar) o amor no mundo. Todos somos sensíveis ao contato com o outro, independente de transtorno psiquiátrico.