Por Psicóloga Angelita Scardua
…Pensou?
Aposto que a maioria delas não envolve dinheiro ou status social, não implica pré-conceitos estéticos ou demonstrações melodramáticas de amor. As lembranças felizes da vida costumam girar em torno de coisas muito simples, vivências do dia-a-dia, aquelas “pequenas coisinhas” para as quais nós não damos a importãncia devida no decorrer dos dias.
Na maioria das vezes nós confundimos as coisas. Costumamos achar que a alegria que sentimos ao receber uma promoção ou concluir um negócio é devida as possibilidades financeiras que isso representa, bobagem! Ficamos alegres por nos sentirmos reconhecidos. Porque mesmo que o dinheiro continue a crescer na nossa conta, a felicidade não vinga se não pudermos constatar que o trabalho que realizamos faz diferença na roda da vida.
Quando alguém nos declara amor de forma ostensiva, tendemos a achar que nosso contentamento vem da dramaticidade da perfomance, do número de flores recebidas ou da extensão do poema recitado. Esqueça isso! Nós queremos compartilhar o nosso amor. Se as flores continuarem a chegar e os poemas continuarem a ser escritos mas a pessoa não estiver lá para dividir tudo aquilo que somos e podemos ser – nos momentos de fracasso ou nos de sucesso – a felicidade não vinga.
Ao conseguirmos comprar a casa sonhada, nos inclinamos à idéia de que podemos ser mais felizes porque teremos mais conforto ou mais status. Pode ser, mas se a casa for grande e bela e não houver com quem habitá-la – amigos, família e/ou amor – e se ela não representar para você a chance da segurança objetiva, que lhe permitirá correr atrás de outros sonhos, mas apenas a confirmação de seu progresso financeiro. Então, a felicidade não vingará.
Não deveríamos perder tanto tempo da vida investindo em coisas que não podem nos fazer felizes: como a busca desenfreada por dinheiro ou pela eterna juventude, a dedicação a uma crença que não confere significado a vida ou uma relação na qual não comungamos do amor. A vida é curta!
Eu sei disso, e você também. Então por que continuamos a viver como se tivéssemos todo o tempo do mundo? Nós não temos. A vida é agora! Pega o telefone e liga para aquela pessoa que você gosta tanto mas que há muito tempo não vê, agora! Diga “Eu te amo” a quem você pode dizer, agora! Faça alguma coisa decente por alguém – inclusive por você mesmo – agora!
Ser feliz implica na capacidade de entrar em sintonia com o fluxo da vida.
O fluxo da vida não nos espera, ele simplesmente flui! Em cada momento, em cada milisegundo do tempo que nossos relógios, calendários e células contabilizam. A vida passa, estejamos usufruindo dela ou não. Sendo assim, a felicidade configura-se numa combinação rítmica entre o que nós precisamos e o que nós desejamos, entre o que podemos viver e o que gostaríamos de realizar.
Podemos mesmo dizer que o potencial para a felicidade é, essencialmente, viver cada experiência como se fosse a última, porque pode ser. Seja a experiência ruim ou boa, prazerosa ou não, vivê-la integralmente nos ajuda a definir o que é realmente importante para nós em nossas vidas. Somente conseguindo identificar o que realmente queremos – mesmo que esse querer seja mutante – é que podemos priorizar e reconhecer aquilo com o que estamos dispostos a compartilhar nosso tão precioso tempo.
E quando conseguimos fazer isso, nos damos conta de que ser feliz é viver a vida que temos para ser vivida com todos os nossos recursos sensoriais. Porque o mundo da nossa vida é o mundo dos sentidos, é através deles que experimentamos o melhor e o pior daquilo que podemos ser. E se os sentidos são a porta para a experiência humana, então eles também são a porta para a felicidade terrena.
Assim, a felicidade pode ser vista como o fruto da experiência humana em sua totalidade, e não apenas momentos apoteóticos isolados no fluxo do tempo. A felicidade seria, portanto, um estado que se oportuniza pela nossa capacidade de usufruir da experiência. A felicidade não é o quê vivemos, mas como vivemos. Por isso a importância dos momentos mais ordinários da nossa vida, porque é nas situações mais confortáveis como àquelas as quais estamos habituados, ou nas mais duras, que podemos revelar toda a nossa capacidade de viver a vida.