Lancheira na mão, cabelinho penteado para o lado e uma bela cara de sono. É assim que começa nossa jornada pelo aprendizado, e é assim que saímos na calorosa foto do primeiro dia de aula, que toda mãe tira e guarda com orgulho do seu pequeno prodígio.
Tudo muito bonito, até a fatídica hora em que a “tia da escolinha” chega e o momento do adeus é anunciado pela primeira vez. Digo fatídica pensando principalmente na dor da mãe, essa que chora ao deixar seu bebê pela primeira vez na escolinha, e que ao mesmo tempo conta para as amigas com orgulho que o filhote a deixou a foi para os braços da professora com alegria. Dor essa que se tornou naturalizada, vindo muitas vezes acompanhada de uma aceitação do sofrimento, como se sofrer na ausência do filho já fosse algo intrínseco ao fato de ser mãe.
Essa cena bastante comum, que com certeza acontece aos montes por aí, deve ser alvo de, no mínimo, uma breve discussão. Como sabemos (nós todos, no senso comum nosso de cada dia), é fundamental que a criança se separe da mãe, crie laços com outras crianças e aprenda a lidar com a separação da mesma. Até mesmo as mães que choram no adeus sabem disso, mas justificam suas lágrimas pelo “amor incondicional” e acham que o correto é ser assim; creio que não é bem por aí. Se pensarmos um pouco, o que representa esse choro?
As lágrimas de uma mãe ao deixar o filho na escola podem vir do medo de perdê-lo, do medo que ele se machuque ou qualquer coisa ruim aconteça, ou até mesmo pode vir do orgulho de ver que o pequeno está crescendo.
Em alguns casos, pode vir de um sentimento egoísta, de perder algo que lhe pertence. Sim, é bastante comum pensar assim, não é? Toda mãe sente que o filho é “seu” e que nada pode acontecer com aquele que saiu de seu próprio ventre.
Mas será que o filho pertence mesmo aos seus pais? Afinal, um ser humano pertence a outro ser humano? Encerro com as palavras do poeta libanês Khalil Gibran “Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma…”