“O homem nunca produziu um material tão resiliente quanto o espírito humano.” Bern Williams
No universo de ligas e de transformação de materiais da físico-química, a resiliência é sinônimo de elasticidade. O aço, que é uma liga metálica, é altamente resiliente. A combinação de elementos diferentes, em proporções variadas, faz com que o aço seja capaz de suportar condições extremas de calor, de frio e de pressão sem perdas significativas das características intrínsecas que o originaram. O aço não é tão raro como o ouro, nem tão ordinário como o ferro. Diferentemente desses metais, o aço não pode ser encontrado na natureza pronto para uso.
O aço é obra do engenho humano, da capacidade da nossa espécie de se adaptar às condições ambientais, aproveitando os recursos disponíveis para superar as dificuldades e realizar o seu potencial criativo. Para atender às suas necessidades de habitação, de locomoção e de fabricação de instrumentos a humanidade desenvolveu um material forte como o ferro e maleável como o ouro. Um material que, como a própria humanidade, se caracteriza por uma combinação de elementos que lhe confere capacidade de resistência e de transformação frente ao risco de ruptura.
A história humana é marcada pelo risco. A forma como os seres humanos enfrentam e sobrepujam os desafios do mundo é uma demonstração inequívoca de vocação resiliente. A resiliência refere-se não apenas ao desenvolvimento de habilidades necessárias para o enfrentamento do risco, mas a capacidade de resistir às condições negativas subsequentes. É assim que a resiliência exemplifica o inegável potencial humano para a aprendizagem.
Em sua trajetória, a humanidade tem demonstrado que a dificuldade, a tragédia, o fracasso e o desapontamento podem servir como um impulso para a mudança e o crescimento. Assim, a resiliência não pode ser entendida como sinônimo de invencibilidade, mas de possibilidade de enfrentamento, adaptação e superação. Tal qual o aço, nós também podemos encontrar a ruptura caso a pressão seja maior do que nossos recursos para suportá-la. Se a combinação de ferro, carbono, cobre e níquel é necessária à resiliência do aço; os recursos pessoais, ambientais e relacionais são indispensáveis para que sejamos resilientes. Em ambos os casos, nada que não possamos construir juntos.
A construção de uma sociedade mais resiliente implica resgatar as potencialidades da natureza humana. A Psicologia Positiva tem buscado o entendimento dos fatores que apontam para o fortalecimento e a formação de competências nos indivíduos e nos grupos. A resiliência, por suas características, é um dos conceitos essenciais para a formulação dessa nova abordagem psicológica. O maior ganho que obtemos ao estudar a resiliência é trazer à luz a força dos processos saudáveis que fomentam a riqueza vivencial do espírito humano. Uma riqueza que não vem do privilégio da exclusividade daquilo que é raro e finito como é o ouro, mas do compartilhamento do que é comum, embora não tão suscetível à ação das intempéries, como é o ferro: a nossa insistência em recriar a natureza para garantirmos novas e melhores formas de estar no mundo… o que nos levou a criar o aço.
Por Psicóloga Angelita Scardua