Por Lucy Rocha
Perversos são habilidosos na arte de culpabilizar. Quando o relacionamento chega na fase de desvalorização, aquela em que a ponta perversa da relação não precisa mais endeusar a outra e pode começar a mostrar suas verdadeiras cores, culpar o outro por absolutamente TUDO é uma constante.
Quando chega nessa fase, tudo o que tiver prometido a você não poderá se concretizar por que VOCÊ fez algo que impossibilitou a realização dos sonhos do casal. Da mesma forma, todas as suas “mancadas” deverão ser desculpadas ou toleradas com base naquela sua conduta que sempre põe tudo a perder.
Se você não tiver feito absolutamente NADA de errado, sossegue seu coração: a parte perversa vai encontrar algo, algum “podre” seu, e se não encontrar, vai inventar alguma coisa. Quando tiver na manga sua desculpa, a usará para torturar e inculcar culpa de forma tão insidiosa que, a um certo ponto, você se verá pedindo perdão por tudo o que nunca fez, mas que a você foi atribuído. É uma lavagem cerebral e a água de enxágue é a culpa. Há quem nunca, nem depois de anos de ruptura, se livre dela…
Depois de muito vasculhar a minha vida, não encontrou uma desculpa a qual se apegar. Eu não tinha filhos, ex-marido, coisas das quais me envergonhava de ter feito e tinha tido apenas um relacionamento importante ao longo da vida. Então CRIOU uma história sobre um tórrido caso de amor que eu teria tido com um professor casado da faculdade. E ali se apegou. Foram anos de torturas psicológicas e muita explicação em vão.
A um certo ponto parecia que vivíamos em três: eu, ele e o professor. Todas as suas mazelas eram justificadas assim:
“Eu tenho crédito com você. Meu jardim estava tão lindo, mas você o destruiu com seu caso de amor. Você queria estar com ele, mas ele não te quis e eu fui a segunda opção. Você gosta de homem casado. Eu vou começar de novo, vou encontrar uma mulher sem passado e tudo o que fiz para você, vou fazer ela, porque eu mereço ser feliz…”
Era um desespero absurdo a ideia de ser abandona pelo melhor homem do mundo simplesmente porque era impossível provar que aquilo nunca aconteceu. Como provar o contrário de uma criação da cabeça de alguém? Quando se cria, tudo se molda para que pareça sempre verdade. Era uma batalha sem fim. Me lembro de sair, 4 anos mais tarde, extenuada e dizendo:
“Eu sinto muito se estraguei tudo quando fiz algum comentário inadequado que possa ter levado você a pensar isso de mim e de um professor que não deve sequer lembrar de minha existência.”
Sim, a um certo ponto eu realmente achei que a culpa era minha.
Para sua referência, dar uma lista de ALGUMAS desculpas utilizadas por pessoas perversas. Elas podem ser reais ou inventadas.
Conheça alguns exemplos:
– Você tem filho, essa criança nos impede de ser feliz. Se você me amasse, deixaria essa criança para me seguir. Tudo o que planejei com você jamais será concretizado com essa criança entre nós.
– Você tem passado. Sim, você já teve outros parceiros e provavelmente ainda nutre sentimentos por essas pessoas e só está comigo como segunda opção.
– Durante os meses que lhe abandonei, por culpa sua é claro, você saiu com outra pessoa e isso me envergonha e me machuca, não posso superar.
– Você olha para todo mundo. Você não tem o “pescoço duro”. Eu sei que mais cedo ou mais tarde vai me trair.
– Você prefere sua família a mim, seus amigos a mim. Eu abomino sua família ou seus amigos.
– Você tem amantes. Sim, fulano de tal é seu/sua amante.
– Quando você descobre uma mentira ou traição fuçando em suas coisas, a culpa é sua por mexer onde não devia. Você traiu a confiança mexendo em suas coisas escondido, logo, não é mais possível confiar em você.
– Você me pressiona demais, me cobra demais, me ama de menos, tem passado demais, por isso eu fui obrigado(a) a trair você, mesmo te amando.
– Você mente. Você traiu minha confiança e você sabe bem o por quê. (essa quase sempre vem desacompanhada de explicação lógica ou concreta e acompanhada de um olhar de “eu te peguei!”).
– Usa também traumas, abusos sofridos ou mau comportamento seu confidenciados durante a fase em que era ouvinte.
Portanto, caros leitores, vocês que me escrevem perguntando se será que não é mesmo culpa sua as coisas não terem dado certo, prestem bem atenção nesse texto e respondam:
Você já viu esse filme?
Imagem de capa: Shutterstock/fizkes
TEXTO ORIGINAL DE CONTIOUTRA
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