Esses dias li um belíssimo ensaio escrito pelo pai da Psicanálise Sigmund Freud intitulado “Sobre a transitoriedade”e refleti bastante sobre o quanto a beleza está relacionada com o tempo.
Nesse ensaio, Freud argumenta que o fato de o tempo ser algo limitado aumenta a beleza das coisas. Leia com bastante atenção esse pequeno recorte do ensaio citado.
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“Não deixei, porém, de discutir o ponto de vista pessimista do poeta de que a transitoriedade do que é belo implica uma perda de seu valor.
Pelo contrário, implica um aumento! O valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo. A limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição. Era incompreensível, declarei, que o pensamento sobre a transitoriedade da beleza interferisse na alegria que dela derivamos. Quanto à beleza da Natureza, cada vez que é destruída pelo inverno, retorna no ano seguinte, do modo que, em relação à duração de nossas vidas, ela pode de fato ser considerada eterna. A beleza da forma e da face humana desaparece para sempre no decorrer de nossas próprias vidas; sua evanescência, porém, apenas lhes empresta renovado encanto. Uma flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela.”
Sigmund Freud
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É muito verdadeiro tudo o que ele coloca nesse ensaio. A beleza não apenas da nossa vida, mas da natureza e de tudo que nos cerca, está ligada diretamente com o fato de que nada dura para sempre, e tendo essa consciência de finitude, podemos aproveitar melhor o tempo e fruir melhor cada uma de nossas experiências.
Ele cita as estações do ano. Há a primavera, verão, outono e inverno. E todos os anos se repete o mesmo ciclo de morte e renovação da natureza.
Há beleza em todas as estações, não existe uma estação melhor do que outra, o máximo que pode haver é uma preferência pessoal entre uma estação em relação à outra.
Assim como a natureza tem seus ciclos, nós também temos um ciclo de vida. Somos os únicos animais com a consciência da morte. Nascemos, crescemos, formamos uma família, envelhecemos e morremos.
Também há beleza em todas as fases da nossa vida, e como coloquei antes, não existe uma fase melhor do que outra. Em todas existem vantagens e desvantagens.
Infelizmente, vivemos numa sociedade que enalteceu tanto a juventude, que as crianças vivem pensando em quando serão adultas e os mais velhos vivem querendo esticar a juventude em todos os sentidos (inclusive através do esticamento da pele nas cirurgias plásticas). Já notou como isso é maluco?
Uma criança de 8 anos não pode ser igual a um jovem de 25. Uma senhora de 70 anos jamais será igual a uma de 30. Parece que não estamos conseguindo enxergar a beleza que existe em cada fase e sua transitoriedade.
A beleza da juventude é como essa flor que é exuberante num primeiro momento, mas que vai murchando e ganhando uma beleza diferente. Preste atenção nisso! A pessoa não deixa de ser bela, o que muda é a forma da beleza…
“As flores de plástico não morrem”, já dizia o Arnaldo Antunes em sua belíssima música da época da banda Titãs.
Muitos querem transformar a vida em uma flor de plástico, que não tem uma beleza real. É impossível perceber a passagem do tempo com elas. Do jeito que a flor é hoje, será daqui a 20 ou 30 anos, se não for destruída por ninguém.
Nessa hora eu lembro de um vídeo bem bonito do Flavio Siqueira que já assisti dezenas de vezes e mostra a vida de uma pessoa em pouco mais de 30 segundos.
É lindo perceber que vamos morrendo um pouquinho a cada dia e que nesse processo vamos nos transformando tanto externamente como internamente também. Deixo abaixo o link do vídeo caso queira assistir. São segundos de preciosa reflexão…
Se tudo fosse para sempre do mesmo jeito, seríamos acometidos por um tédio infinito, e como podemos ver beleza numa vida entediante? Não dá, concorda comigo?
Outro exemplo que acho fascinante são as lindas luzes de natal. Já pensou o quanto seria sem graça se essas luzes continuassem durante os 365 dias do ano? Não ficaríamos deslumbrados com a beleza que a iluminação diferente proporciona.
Inclusive eu sempre fico meio nostálgico com as luzes de natal. Elas me fazem lembrar meu tempo de criança, no qual eu brincava com meus primos e assistia as missas campais no interior da cidade de Aracati no Ceará.
São essas belezas que fazem nossa vida ganhar um sentido muito mais profundo, e nos fazem aproveitar melhor o nosso tempo que é muito limitado.
Concluo esse texto com outro lindo vídeo que traz a cena final do filme “Jack”, com o ator Robin Williams. Ele faz um belíssimo discurso na sua formação quando já está bem próximo de morrer e nos faz refletir sobre uma imensa verdade: A VIDA VOA…
Que aprendamos a enxergar as inúmeras belezas que nos cercam na transitoriedade da vida…
“Eu não tenho muito tempo, então eu serei breve, como a minha vida.
Ao chegarmos ao fim desta fase da nossa vida, nós tentamos lembrar dos bons momentos e esquecer os momentos ruins. E pensamos no futuro. E nos preocupamos, pensando: “O que eu vou fazer? Onde eu estarei em 10 anos?”
Mas eu digo: “Olhem para mim! Por favor! Não se preocupem tanto! Porque no fim, nenhum de nós tem muito tempo nesta terra!”
E a vida voa! E se estiverem aflitos, levantem os olhos pro céu e verão, quando as estrelas se espalham pelo céu de veludo e quando uma estrela cadente riscar a escuridão, transformando a noite em dia, façam um pedido! E pensem!
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