A bolha: o excessivo culto ao “eu”

A bolha é um mundinho em que certos indivíduos têm uma preocupação, exagerada, só com seu prazer, imagem e ganhos pessoais. É dentro dessa bolha social que alguns acreditam que são mais importantes do que outrem.

Podemos comparar a bolha como uma redoma, que é um recipiente de vidro em forma de curva para resguardar objetos delicados da poeira e ar. Por isso, que a expressão “meter-se em uma redoma” significa proteger-se excessivamente. No lado de dentro da redoma o espaço é limpo e puro, mas do lado de fora é sujo e poluído.

Os que vivem nas bolhas têm a certeza de que seu estilo de vida e círculo social é “asséptico”, onde exigem total atenção, mas desprezam o bem-estar dos outros. Eles se fecham no interior da redoma, para sentirem-se admirados pelos de fora.

Essas bolhas mostram o excessivo culto ao “eu”: meu clã, minha praia, etc. Por exemplo: moradores de um bairro de João Pessoa querem proibir pessoas com deficiências de irem à praia, com alegação que essa gente tira a beleza do bairro. E uma autoridade de Porto Alegre disse que é preciso tirar os moradores de rua para as pessoas passearem com seus pets, como morar na rua fosse um privilégio.

A criação de bolhas, mesmo que algumas não passem de estratégias mediáticas, estimulam comportamentos egoístas. É neste contexto que se consomem cada vez mais tranquilizantes e antidepressivos, que propiciam alívio, mas contribuem para o padecimento das relações humanas.

No entanto, para modificar essa realidade é necessário perceber que existem outros mundos, além das bolhas. E a melhor maneira de superar o preconceito é conviver com o diferente, aprendendo como os demais pensam e estar aberto para mudar de ideias e atitudes.

Então, não devemos aplaudir as condutas que nutrem a egolatria. Contudo, se fizermos isso, de acordo com o sociólogo Zygmunt Bauman, voltamos à tribo, ao seio materno, ao mundo cruel descrito por Hobbes, na qual o outro é uma ameaça, e a solidariedade parece uma espécie de armadilha traiçoeira ao ingênuo, ao incrédulo, ao tolo e ao frívolo.

Sabemos que nenhum ser humano é perfeito, mesmo incluso na sua redoma. Porém, devemos nos respeitar uns aos outros, porque não vivemos sozinhos neste mundo, de 7,7 bilhões de habitantes e num Brasil, de 210,1 milhões de gente de todas as diferenças físicas, culturais, étnicas, credos e classes.

Assim, precisamos aceitar que o universo é complexo e infinito, e que temos a chance de preservar a boniteza do mundo. Infelizmente, existem pessoas que são tão “pobres”, que a única coisa que tem é dinheiro, mas sentem um grande vazio existencial.

Portanto, podemos trabalhar juntos por um mundo melhor, todavia se estivermos fechados em bolhas sociais ficaremos isolados, que nos prejudicará como seres humanos. E nos adverte Bauman: “Estamos em uma situação de verdadeiro dilema: ou damos as mãos ou nos juntamos ao cortejo fúnebre do nosso próprio enterro em uma mesma e colossal vala comum”.

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Imagem de capa meramente ilustrativa. As imagens do ensaio “Bub ble Series” foram feitas pelo fotógrafo de moda Melvin Sokolsky para a coleção de primavera da revista Harper Bazaar, em 1963.






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista