Ao destacar o inconsciente, a psicanálise freudiana colocou em pauta os pressupostos da razão, que norteou novas formas de reflexão filosófica em busca da felicidade, como diz Pascal: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.
Há uma diálogo pulsante da psicanálise com a filosofia. O livro “A era da Loucura do filósofo “irlandês Michael Foley, é um exemplo dessa interlocução com o discurso freudiano, que mostra o processo de busca, às vezes insano, pela felicidade – em nosso mundo marcado pelos impulsos da loucura na modernidade.
No século 21 é impossível encontrar uma única pessoa que não esteja à busca do prazer e do conforto: a chamada felicidade. Mas o filósofo Michael Foley discute como o mundo ocidental tornou a felicidade uma meta quase impossível. Freud, respondeu essa contradição: “Que não é de admirar que os homens tenham se acostumado a moderar suas reivindicações de felicidade: Na verdade, o próprio princípio do prazer, sob a influência do mundo externo, se transformou no mais modesto princípio de realidade”.
Michael Foley crítica, por exemplo, a questão da transcendência nas religiões: “Transcendência é uma perda de si mesmo, uma imersão de si em uma unidade maior – e a sociedade moderna – prefere tomar o atalho à transcendência por meio de álcool e drogas.” Desta forma pega-se atalhos perigosos para atingir a felicidade.
A filosofia e a psicanálise têm pontos em comuns na questão da religião, no que tange também a promessa da felicidade no paraíso. Pois para Freud: “A religião surgiu de uma necessidade de defesa contra as forças da natureza, como todas as outras realizações da civilização. No indivíduo, ela surge do desamparo. Esse desamparo é inicialmente o desamparo da criança, e posteriormente, o desamparo do adulto que a continua”.
O novo infantilismo tem contribuído para uma sensação cada vez menor de autoconhecimento. O livro traz questionamentos quem no mundo ocidental não ficaria enlouquecido com um coquetel tóxico de insatisfação, desassossego, desejo e ressentimento? Quem não ansiou ser mais jovem, mais rico, mais talentoso, mais respeitado, mais celebrado e, acima de tudo mais amado? Quem não se sentiu merecedor de mais e ressentido quando esse mais não chegou?
Para responder esses questionamentos Sócrates, considerado o pai da Filosofia, orientou: “Conhece-te a ti mesmo?”. Muitos estudiosos depois dele, pensaram sobre essa pergunta, mas não temos dúvidas de que foi Sigmund Freud, que mais se debruçou sobre estes questionamentos propagados por Sócrates e por outros filósofos como Foley. Freud, conseguiu dar respostas profundas para tais interrogações, que para época eram o seu atestado de loucura e hoje são as maiores provas da sua lucidez e inteligência.
Michael Foley aponta que a depressão é muitas vezes o destino da personalidade moderna – ambiciosa – faminta por atenção e ressentida, sempre convencida de merecer mais, sempre perseguida pela possibilidade de estar perdendo algo melhor, sempre sofrendo pela falta de reconhecimento e sempre insatisfeita. Ou seja: numa busca constante pelos prazeres materiais, físicos e sensoriais que dão a sensação de felicidade.
Antes, prevalecia a teoria hipocrática que dividia a humanidade em quatro humores (líquidos corporais), o melancólico (bílis negra), o colérico (bílis amarela), o sanguíneo (sangue) e o fleumático (água). A melancolia proviria de um excesso da bílis negra circulando pelo corpo e ocasionando emoções negativas (infelicidade, apatia, tristeza, autopunição).
A melancolia é hoje definida como um estado psíquico de depressão sem causa específica, considerada pela falta de felicidade, falta de prazer nas atividades diárias e abatimento como reação a um estimulo agradável que em geral traria prazer.
Mas foi Sigmund Freud, em seus estudos sobre o superego, se descobriu com essa forma de depressão conhecida por melancolia que, conforme ele, diferia do luto em apenas um ponto: não havia basicamente uma perda para tais indivíduos manifestarem tristeza, senão uma perda narcisista.
Em seu famoso texto sobre a depressão, intitulado Luto e Melancolia, Freud investiga a melancolia, um estado patológico, a partir do paradigma do luto, um estudo que nos aponta o caminho para a cura da depressão. Isso é, o paciente pode compreender a si mesmo e ser sujeito de sua própria felicidade.
O filósofo irlandês descreve que é preciso coragem e a humildade de Sísifo, que não exige recompensa, mas transforma qualquer atividade em sua própria recompensa. Na mitologia grega, Sísifo era o mais astuto dos mortais, mestre da felicidade, entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses.
Foley finaliza, como sugestão para encontrar a felicidade em nossa era da loucura: “O objetivo da meditação não é a quietude e a indiferença, mas a consciência, a prontidão, a clareza de propósito”. E Freud defendia que todo indivíduo é movido pela busca da felicidade e para isso têm – que enfrentar com lucidez o mundo com suas ilusões e fracassos, assim poderíamos conseguir atingir a felicidade.