A desilusão e a dor da ingratidão

A ingratidão é um erro medonho para quem comete e um sentimento doloroso para quem recebe essa ofensa injusta. Ela se transforma em ferida na alma, expressão da desilusão de quem carrega esse incontrolável mal-estar e, em situações não resolvidas, tende-se alongar pela vida. Não é por acaso que dramaturgos, poetas, eruditos e filósofos dramatizam a questão da ingratidão.

Muitas pessoas se queixam que investiram emocional ou financeiramente nas relações com os amigos, com os filhos ou familiares e foram sinceras e leais desde o primeiro momento até o último, uma vez que perceberam que foram enganadas pelas atitudes de ingratidão e também por sentirem-se magoadas por acreditar que essas relações eram verdadeiras.

O filho ingrato e cruel com o coração dos pais, incrédulo que não se abala com as dolorosas lágrimas dos pais, nem com as angústias árduas dos sentimentos paternos. Diante disso, é grande o número de pais que adoecem, numa procura inconsciente de atenção e cuidado dos filhos.

No que se refere aos amigos e parentes ingratos, as pessoas ficam confusas e às vezes numa busca cega por respostas para entender o que originou a ingratidão. Foi desamor? Houve falta de humildade pela auxílio que o ingrato recebeu? Onde ocorreu o desacerto? Johann Wolfgang Von Goethe, escritor, cientista, mestre de poesia, drama e novela, responde com agudeza essas perguntas: “Ingratidão é um forma de fraqueza. Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato.”

A alma e o coração das pessoas generosas reagem muito mal à ingratidão, sentem-se desconsideradas e tratadas como objetos. Mas a maturidade emocional, mesmo sendo tardia, ensinará que as pessoas necessitam sair desse ciclo de danos que a ingratidão causou e admitir que isso faz parte das adversidades da vida.

Não se pode conceder generosidade esperando receber reconhecimento, seja de um amigo, filho ou parente. Assim, esperar gratidão pelos gestos de solidariedade é negar que existe gente inescrupulosa. A sabedoria das palavras do renomado escritor e filósofo russo, Leon Tolstoi, diz que: “Se seu coração é grande, nenhuma ingratidão o flecha, nenhuma indiferença o cansa.”

A capacidade de ser grato e de expressar gratidão é uma das qualidades mais valorizadas pelos seres humanos que recebem a generosidade de coração. E quem dá a gratidão não pode ser de maneira infantil ou nem como uma postura de superioridade. Então, o gesto de gratidão pode seguir o prudente ensinamento do líder espiritual tibetano, Dalai Lama: “Cultivar estados mentais positivos como a generosidade e a compaixão decididamente conduz a melhor saúde mental e a felicidade”.






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista