Quando pensamos em saúde mental e seus possíveis tratamentos, sabemos que mesmo estando cada vez mais presentes campanhas e informações sobre o tema, a carência por informações que possibilitariam se atingir um nível ideal de percepção de sintomas precocemente ainda está distante de ser alcançado. Até para aqueles que se sentem familiarizados com a saúde mental, um sintoma comum costuma passar despercebido nas constantes autoanálises: os pensamentos.
O que são sintomas cognitivos?
Sintomas cognitivos são todos aqueles se relacionam aos processos de cognição de nosso cérebro e de nossa mente: memória, raciocínio, percepção, atenção e principalmente, a qualidade e frequência de determinados pensamentos.
Sim! Pensamentos também podem ser considerados sintomas, mas costumam passar despercebidos pelo senso comum acreditar que possuímos controle sobre sua frequência e elaboração, considerando-os voluntários e opcionais.
Quais pensamentos podem ser indicativos para busca de cuidados?
Pensando nisso, elaboramos exemplos e explicaremos a seguir os pensamentos mais frequentes de quadros como depressão, ansiedade e outros transtornos frequentes.
Depressão
Frequentemente na depressão pensamentos relacionados a tristeza e ideação suicida persistem em grande parte do dia. Como exemplos da construção deste tipo de pensamentos podemos mencionar:
- “Se eu pudesse escolheria morrer para não precisar lidar com o que estou sentindo.”
- “O mundo seria um lugar melhor sem mim.”
- “Me sinto um peso para os meus amigos e familiares e sinto que se eu não estivesse mais presente seria um alívio para eles.”
- “Minha vida não tem sentido.”
- “Não me sinto mais o mesmo.”
Transtornos de ansiedade
Os pensamentos que são compreendidos como sintoma indicativo de quadros de ansiedade são marcados principalmente por seu excesso contendo conteúdos relacionados ao futuro reservando inúmeras possibilidades de fracassos ou prejuízos. Diante de um convite simples e objetivo, que não ofereça ameaças, o ansioso experimentará em uma breve fração de segundos uma sequência de pensamentos semelhante a esta:
- “Mas e se eu for e não gostar? Mas o que vão achar de mim se eu me comportar de alguma maneira estranha? Será que se eu expressar o que estou pensando vão me julgar? Será que entendi da maneira certa o que me falaram? Talvez eu esteja enlouquecendo e por isso não devo fazer nada a respeito. Acho que não vou aceitar o convite… mas talvez se eu não aceitar possam falar mal de mim. Melhor eu ir.”
Esquizofrenia
Um dos principais sintomas que antecede o surto da manifestação da esquizofrenia são nomeados pensamentos persecutórios. Mesmo que não existam estímulos ou razões para que estejam presentes, pensamentos sobre estar sendo seguido, espionado ou ainda, que esteja sendo alvo de conspirações são vividos intensamente pelo esquizofrênico sem serem interpretados como um possível sintoma da manifestação de algo grave que exige acompanhamento médico. Normalmente, tais pensamentos são compreendidos por amigos ou familiares como uma simples “cisma” ou um “comportamento estranho passageiro”.
Transtornos alimentares
Assim como na esquizofrenia, os pensamentos costumam ser indicativos do início da manifestação de quadros de transtornos alimentares como anorexia e bulimia. São frequentes, persistentes e desproporcionais e costumam estar relacionados a pensamentos sobre perda de peso, padrões de beleza e contagem de calorias.
TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo
Embora existam muitos quadros de TOC, a característica chave para o diagnóstico são os rituais e padrões que cada um apresenta. Neste sentido, não os cumprir por alguma razão faz com que a mente seja dominada por pensamentos intrusivos e persistentes sobre a necessidade de realização de algum comportamento, comprometendo qualquer atividade cognitiva ou bem-estar até que o mesmo seja realizado.
Por exemplo, pessoas que sofrem de TOC de limpeza e higienização, se são impedidas de realizar alguma atividade doméstica como lavar a louça antes de sair de casa, ficam recordando com sofrimento a pendência de louças sujas, ou então, para aqueles que possuem algum ritual que envolva uma quantidade de repetições, são dominados por dúvidas intrusivas e persistentes que se fazem presentes até que seja feita a verificação, como por exemplo, questionar-se ao longo do dia inteiro se trancou a porta de casa.
Síndrome do Pânico
Frequentemente, um dos indicativos da manifestação de um quadro de pânico são pensamentos intrusivos relacionados ao temor da morte. Mesmo sem a exposição ao falecimento de alguém ou uma trágica notícia, a mente é invadida por pensamentos do tipo:
- “Acho que estou tendo um infarto.”
- “Acho que estou prestes a morrer.”
- “Sinto que tenho alguma doença sem cura.”
- “Devo estar sofrendo de falência múltipla nos órgãos.”
Além destes pensamentos característicos de cada um dos quadros mencionados, muitos transtornos como depressão, transtornos de ansiedade ou transtornos alimentares levam a pensamentos de baixa autoestima que envolvem em sua construção:
- pensamentos de autocrítica sobre aparência, capacidade, desempenho e importância;
- comparações encontrando justificativas para demérito e auto depreciação;
- pensamentos de opressão e culpa.
Mas se tratando apenas de pensamentos, oferecem mesmo riscos?
A conscientização sobre a presença de tais pensamentos é extremamente necessária primeiramente para desmistificar que nossos pensamentos são totalmente voluntários, possibilitando que sejam considerados como possíveis sintomas importantes de algum quadro de saúde mental que exige cuidados.
Como mencionado, a qualidade e frequência dos pensamentos muitas vezes são as primeiras manifestações do início do desenvolvimento de um quadro, permitindo que este conhecimento permita intervenções e cuidados precoces.
Além das razões colocadas anteriormente, devemos considerar que a ausência de cuidados preventivos ou a busca por tratamento de quadros graves, pensamentos com este tipo de conteúdo e com alta frequência podem ser extremamente prejudiciais na funcionalidade do dia por comprometer atenção, raciocínio e memória além de interferirem na tomada de decisões do cotidiano.
Não deixe de procurar ajuda
Sempre que tais pensamentos sejam percebidos, é indispensável a busca por um profissional da saúde mental, seja um psicólogo ou médico psiquiatra para avaliação norteando a necessidade de um possível tratamento. Portanto, se você se identificou com algum dos exemplos mencionados, agende brevemente uma consulta.
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Maitê Hammoud
Psicóloga Clínica
CRP 06/112988