Por Nasser Najar
A sensação de que o que você está vivendo não é real, uma sensação estranha, como se seus olhos enxergassem um mundo sem verossimilhança. É sentir que você está vivendo dentro de um sonho ou filme. Esse é o principal sintoma de desrealização ou despersonalização. Uma doença que aflige inúmeras pessoas e elas nem sabem disso.
De acordo com o texto publicado pelo psiquiatra Galeano Alvarenga, “o indivíduo tem uma sensação de ser um observador externo dos próprios processos mentais e do próprio corpo. Há também o sentimento de anestesia sensorial […] e alteração na percepção” (as pessoas parecem “estranhas” ou “mecânicas”). O indivíduo se sente separado do próprio corpo, em outras palavras.
O distúrbio de despersonalização-desrealização ou “DP” é uma doença reconhecida pela psiquiatria e psicologia. A pessoa pode adquiri-la através de outros problemas como, depressão, transtorno bipolar e de personalidade, além de esquizofrenia. Ou pode adquiri-la naturalmente, com situações de ansiedade ou através de traumas vividos, tanto físicos quanto psicológicos. A mente pode simplesmente se dissociar da realidade, como um mecanismo de defesa no caso de um conflito interno muito intenso.
O desenvolvimento do DP é explicado em um artigo científico de psiquiatria da universidade de Coimbra: “O início do distúrbio pode ser súbito ou insidioso. Em certos casos, a despersonalização pode começar episodicamente, por meses ou anos e posteriormente torna-se contínua”.
Principais sintomas
Quem é despersonalizado costuma ter a impressão de que a realidade parece “errada”. Essa sensação acontece frequentemente, além do estado ser duradouro. É normal também apresentar sensibilidade a luz e ao som.
Em outras ocasiões o paciente sente que o próprio corpo aumenta e/ou diminui de tamanho, isso é conhecido como síndrome de Alice no País das Maravilhas (o nome é referente à história de Alice, que muda de tamanho durante todo o conto. Às vezes ela cresce e fica enorme, às vezes diminui a ponto de parecer uma miniatura, tudo depende do cogumelo que ingere).
O estado de apatia do despersonalizado é constante, ele tem um desligamento do mundo, fica introspectivo. Nesse caso, ele pode permanecer distraído, aéreo por longos períodos e nem se dá conta do tempo passar. Como se fosse um estado de limbo. Por exemplo, dirigir por um longo período e não se recordar do caminho ou estar em um ambiente e não lembrar-se de como foi parar lá. Além de tudo isso, objetos imóveis podem se mexer.
Agravantes
O consumo de drogas ilícitas como maconha e ecstasy e drogas lícitas como nicotina e cafeína aumentam os sintomas da despersonalização. Apesar de ser difícil, a pessoa deve evitar o isolamento constante e a introspecção. Situações de stress também agravam a agonia do transtorno.
As multidões incomodam, pois as massas são responsáveis por muitos estímulos visuais, auditivos, olfativos e táteis.
Situações fora de rotina e fora da zona de conforto também incomodam o despersonalizado, pois ele não sabe lidar em alguns momentos com pessoas ou situações sociais.
Atenuantes
É fortemente recomendada a prática de exercícios físicos regulares e moderados. A atividade traz benefícios à saúde e dá sensação de bem estar. Os esportes coletivos melhoram as relações sociais.
Caso o indivíduo estiver passando por um momento de desrealização intenso ou incomodo, ele pode provocar dor em si mesmo, como um beliscão, mas jamais a automutilação.
Outro atenuante é o sexo e as relações de amor e carinho. A experiência com outra pessoa ajuda a sentir a realidade. A sensação do toque, do sorriso é boa, além do estado de prazer que vem depois.
Álcool é um atenuante, porém o alcoolismo é um problema. O consumo moderado e não regular de álcool inibe o córtex pré-frontal e diminui os sintomas dissociativos. Beber uma cerveja com os amigos pode ser um bom alívio quando feito de um modo que permita se relacionar, se divertir e se sentir mais relaxado.
Dificuldade de se relacionar
Desrealização é realmente muito sério, os portadores do problema por mais que tentem não conseguem ter uma relação boa com o mundo ao redor, seja com estranhos ou com os mais próximos.
O despersonalizado sente dificuldade de mostrar carisma, sentimentos ou empatia com os outros, tornando as relações pessoais mais complexas e assim agravando a situação. Ele busca manter-se isolado, apresenta uma necessidade de refúgio e certo desespero com relações sociais pouco desejadas, como festas e gente desconhecida.
Em alguns casos graves o despersonalizado pode cometer suicídio de um jeito calmo e tranquilo por não compreender a realidade ao seu redor.
Questionários e tabelas são utilizados para diagnóstico
A desrealização pode ser mascarada por outros problemas ou vir associado a eles, tornando o diagnóstico mais complexo. Existem tabelas e questionários de auto-avaliação utilizados por especialistas. O método mais utilizado é a Escala de Despersonalização de Cambridge, que é um questionário que mede o nível dos sintomas do paciente. Os valores são bem aceitos pela comunidade científica. A escala possui 29 itens, cada um classificado de 0 a 10. Uma pontuação acima de 70 já sugere a presença de transtorno.
O tratamento não é específico. Em alguns casos recorre-se a farmacoterapia (remédios específicos), mas também é comum a psicoterapia, a terapia comportamental e a hipnose. A desrealização pode ser aliviada e até mesmo anulada. Entretanto pode ocorrer novamente.
A psicoterapia, em alguns casos, visa trazer o indivíduo a uma reflexão sobre seus objetivos de vida. O tratamento tem como intenção motivá-lo a buscar e descobrir seus desejos, suas vontades, e estimular essa busca para que a pessoa possa sair desse estado de distanciamento.
O hipnoterapeuta Lenilson Resende explica que o tratamento por hipnose é válido quando o paciente tem ligação do DP com problemas de ansiedade, de estresse contínuo ou pós-traumático. Ele não recomenda a hipnose com quem sofre de esquizofrenia ou abuso de drogas, pois o indivíduo necessita de uma autonomia.
Lenilson explica: “Nas técnicas de hipnose, o paciente é conduzido ao estado de transe. Este estado, por sua vez, leva o paciente a ter contato mais profundo com suas questões internas”. Ele frisa que o hipnólogo não é capaz de fazer o diagnóstico do distúrbio, pois isso fica a cargo de psiquiatras e psicólogos, mas em alguns casos o psicólogo encaminha o paciente para fazer a terapia por hipnotização. Ressaltando que esta técnica também é utilizada por médicos.
Principais sintomas:
Agravantes do DP:
Atenuantes do DP:
Fonte indicada: Diário da Manhã
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