No DSM-V, o termo Hipocondria foi modificado para Transtorno de Ansiedade por Doença (onde a pessoa que sofre de Hipocondria não apresenta sintomas) e Transtorno de sintomas somáticos (a pessoa que sofre de hipocondria apresenta sintomas somáticos, como palpitações, dores de cabeça, dor no estômago, etc.). No CID-10, a Hipocondria é conhecida como Nosomifalia.
Em linhas gerais, a Hipocondria é um estado psíquico caracterizado por uma preocupação mórbida excessiva e apreensão contínua em desenvolver ou contrair algum tipo de doença grave.
O ponto central da Hipocondria são os pensamentos disfuncionais e obsessivos, caracterizados por uma percepção irreal e portanto distorcida dos seus sintomas físicos, bem como por constante comportamento de monitoração de seus sinais vitais, auto verificação e vigilância contínua do próprio corpo na busca de algum sinal ou sintoma de doença. A pessoa com Hipocondria está sempre buscando informações, pesquisando nas bulas de remédios, nos sites de saúde ou em quaisquer outros meios de comunicação acerca da doença que acredita ter desenvolvido ou contraído. Geralmente, tornam-se grandes conhecedores do assunto, sendo informados nos mínimos detalhes acerca das doenças e peregrinando de profissional em profissional, mesmo depois de verificação minuciosa através de exames clínicos precisos e posterior diagnóstico refutado e negativado da doença.
Geralmente a pessoa se convence que não tem mais aquela enfermidade que a angustiava e passa a se preocupar com outro órgão do seu corpo, com outro tipo de doença, reiniciando assim novos exames clínicos para comprovar um outro problema físico, visto que de acordo com o relato dos pacientes, as dores “migram” de um órgão a outro.
Interessante ressaltar que a pessoa que sofre de Hipocondria não está inventando, manipulando situações ou fingindo estar doente. Existe um sofrimento real e que precisa ser compreendido, respeitado, investigado e tratado corretamente. Por outras palavras, quem realmente sofre de Hipocondria, não simula uma doença, tampouco quer chamar atenção com suas dores ou “fugir de suas responsabilidades”, mas realmente acredita que é portadora de uma doença, sendo esta geralmente grave. Neste contexto, a pessoa muitas vezes desenvolve sintomas psicossomáticos por condicionamento mental. Embora os sintomas sejam mínimos, estes são percebidos pelo paciente de modo muito intensificado. Devido à constante verificação e pesquisa acerca do possível desenvolvimento de uma determinada doença que a pessoa acredita ter, esta perde muito tempo, prejudicando o desempenho de atividades importantes do seu cotidiano, bem como desgastando suas relações interpessoais, sejam estas familiares ou lavorativas.
No CID-10, a Hipocondria é conhecida como Nosomifalia.
Para quem sofre de Hipocondria, uma manchinha que aparece no corpo é percebida como sinal de uma doença séria, uma diarréia por conta de uma indisposição pode ser um sinal de câncer intestinal, uma dor de cabeça pode ser um tumor encefálico, uma taquicardia por conta de um esforço físico é decodificada como o início de um infarto, um incômodo no estômago interpretado como uma gastrite, um espirro pode ser traduzido como uma gripe ou algo pior, uma coceira no corpo por alergia é motivo para preocupação excessiva que pode tirar a pessoa do seu eixo, deixando-a apavorada.
Pessoas que sofrem de Hipocondria padecem de mal-estar e um medo excessivo e irracional da morte.
É indiscutível que quando aparece uma mancha no corpo, quando vem uma palpitação no peito, um prurido ou má digestão, precisamos investigar a(s) causa(s), do que se trata. Isto é autocuidado. Contudo, para quem sofre de Hipocondria, a pessoa tende a exacerbar a percepção dos sinais e dores somáticas que aparecem em seu corpo passando a associá-las a sintomas de doenças graves e sem que haja nenhuma evidencia médica.
A psicossomática é mais antiga do que podemos imaginar. Já diziam os antigos: “Mens sana in corpore sano”. Neste contexto, as dores físicas – e isto já é comprovado cientificamente- possuem uma interligação íntima com as dores emocionais, visto que as estruturas cerebrais responsáveis pela dor física são as mesmas das emoções, inclusive ativando as mesmas áreas e conexões neuronais. Sendo assim, como fator de risco para o desenvolvimento da Hipocondria temos a dor de uma rejeição, de traumas sofridos ou de uma perda mal elaborada como um luto, por exemplo. Geralmente, a pessoa com Hipocondria são poliqueixosas, sentindo mal-estares, desconfortos e dores que migram de uma parte do corpo a outra. Podemos inferir neste caso que a busca por medicação constante para dirimir as dores físicas possam estar diretamente relacionadas em medicalizar uma dor emocional que não foi devidamente tratada.
As causas ainda não foram bem esclarecidas, mas alguns fatores podem interferir no desenvolvimento da Hipocondria, tais como: genética, vivência com familiares que catastrofizam os acontecimentos, principalmente no que concerne a doenças, características de personalidade, doença e hospitalização durante a infância e morte de um familiar ou ente querido. A Hipocondria está diretamente relacionada aos transtornos ansiosos, principalmente ao Transtorno de Pânico, ao Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e ao Transtorno Obsessivo-compulsivo (principalmente nas tipologias de TOC de verificação e por medo de contaminação), bem como na Esquizofrenia.
Para o início de um tratamento, é imprescindível que a pessoa se conscientize que está doente. Contudo, quem sofre de Hipocondria dificilmente o reconhece, já que acredita que seu comportamento não é disfuncional, mas necessário e protetivo para a sua vida. O tratamento consiste na associação de medicação e psicoterapia. Em linhas gerais, no tratamento psicoterapêutico, a terapia cognitivo-comportamental(TCC) tem se mostrado muito eficiente nos transtornos ansiosos, sendo, portanto a mais aconselhada. A psicoterapia é parte essencial no tratamento da Hipocondria, pois trabalha através de técnicas especificas as distorções cognitivas acerca da exacerbação dos sintomas somáticos do paciente, seus pensamentos catastróficos, negativos e neurotizados, bem como de seus comportamentos disfuncionais.
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