As empresas de tecnologia como Netflix, Google, Dextra Sistemas, Acesso Digital, Dell foram eleitas as melhores empresas para se trabalhar, segundo seus próprios trabalhadores. Essa realidade pode parecer uma cultura organizacional estrangeira, mas só parece. Com exceção da streaming de vídeo, todas as outras têm sede no território tupiniquim ou são legitimamente brasileiras.
Compostas principalmente por jovens, essas empresas conseguiram captar um elemento há muito esquecido pelas instituições de trabalho, que sempre caíam no erro da cristalização de sua equipe devido aos processos burocráticos. Este elemento, que urgiu como sinônimo de empenho e motivador do jargão “vestir a camisa”, se chama desejo.
O desejo na psicanálise é um termo técnico presente em todas as suas intervenções analíticas. Na análise pessoal, o desejo do sujeito é um elemento crucial para seu desenvolvimento. É ele quem deseja estar, ir ou sair da análise, e este é o local onde seu desejo encontra as vias da responsabilidade. O sujeito é responsável pelo que deseja.
No trabalho, esse elemento tem a mesma importância, afinal, manter o trabalhador por que ele deseja estar na instituição é largamente diferente de mantê-lo por necessidade. Com a necessidade, o trabalhador perde a capacidade de escolha sobre seus desejos para tornar-se alienado às imposições do mercado. No âmbito psíquico, isso é padecedor.
Desejo é diferente de necessidade.
Dar voz ao desejo não é uma utopia, como vimos nas empresas supracitadas, e também não significa ofertar ao trabalhador felicidade plena. A falta é inerente ao ser humano, e é devido a esta falta que a busca nos movimenta: você deseja, consegue, e logo após alcançar esse feito, a causa do desejo muda. A grande questão do objeto perdido da psicanálise, o objeto a, não é a existência de um objeto certo para manter o sujeito satisfeito, mas sim a causa do desejo. Como Freud disse, o objeto é indiferente.
Sobre o trabalho deve flutuar um sentimento de prazer, e este, por sua vez, é alimentado pelo desejo. Se você é um empresário, deve estar se perguntando como despertar o desejo de seus trabalhadores. Ora, a única fórmula eficaz para isso sai apenas de um lugar: da boca de seu próprio cooperador. A melhor forma de dar voz ao desejo é dar voz ao trabalhador.
Para o empresário, faz-se necessário a ética de não desconsiderar o inconsciente do trabalhador, isto é, não impedi-lo de exercer seu papel enquanto sujeito desejante. Para o trabalhador, sujeito pelo qual a causa do desejo orbita, a análise pessoal organiza essa tal causa e seus objetos passageiros, objetos que, inclusive, podem ser fontes de mal-estar para o sujeito e, portanto, um empecilho para manter-se desejante para o trabalho.
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