Ao contrário do que ocorre por volta do inicio do séc. XX quando as doenças infecciosas representavam a causa preponderante de mortalidade, os problemas de saúde mais sérios que a medicina enfrenta hoje são as doenças crônico-paliativas. Atualmente, que os índices de morbidade e de mortalidade estão cada vez mais presentes e relacionados aos comportamentos e hábitos de vida prejudiciais a saúde.
A Psicologia é a ciência cujo objeto de estudo inclui a análise, predição e a modificação dos fatores que afetam o comportamento. Visando a promoção e a manutenção da saúde física e emocional, a prevenção e o tratamento das doenças e a identificação de correlatos etiológicos e diagnósticos de saúde. Em um sentido mais amplo podendo promover algumas análise, formação e melhoria do sistema de saúde.
A própria inserção do psicólogo na unidade hospitalar é uma delas. Portanto, um dos objetivos do psicólogo que atua na área hospitalar é tentar minimizar o sofrimento do paciente e de sua família. O trabalho é focal, centrando-se no sofrimento e nas repercussões que o paciente sofre com a doença e a hospitalização, associado a outros fatores como história de vida, a forma como ele assimila a doença e seu perfil de personalidade.
Quando se fala de um paciente hospitalizado, não se devem excluir os processos emocionais e sociais na tentativa de compreender e diagnosticar a doença, desde sua instalação até o seu desenvolvimento para a medicina que tinha uma visão dualista que o corpo e mente eram identidades separadas. Da mesma maneira, uma doença física esta freqüentemente associada a distúrbios emocionais e psicológicos que, se não tratados podem contribuir para o seu agravamento ou até sua cronificação.
O que temos observado, ainda, é que algumas técnicas de diagnósticos fazem de alguns médicos grandes especialistas que não têm tempo mais de ESCUTAR seu paciente nas suas necessidades. Alguns profissionais devem manter a compreensão exata de algumas questões e avaliar dados subjetivos do paciente, podendo assim contribuir para que haja flexibilidade ao tratamento médico e que ele possa participar ativamente do processo de hospitalização. No processo de reabilitação do paciente, é preciso incentivá-lo a investir na qualidade de vida, mesmo que para isto seu hábito de vida tenha que ser modificado.
Não é possível atender a tudo mais devemos delimitar onde iremos atuar e com o tempo ampliar o campo de trabalho. Outra referencia sempre presente refere-se ao psicólogo cuidar da equipe multiprofissional. Isso é possível desde que ele não seja confundido com o psicólogo hospitalar.
Nem sempre o corpo clínico e administrativo tem noção do que pedir; e o psicólogo pode e deve pontuar adequadamente o campo.
O setting terapêutico na realidade hospitalar é peculiar. O psicólogo deve ampliar sua atuação visto que os espaços e demais condições hospitalares são muito diferentes do que é idealizado na atuação clínica, em consultório. O médico entra na enfermaria para avaliar o paciente, ao mesmo tempo, a enfermagem chama o paciente para um exame ultrassonografia, a família não quer sair do lado e temos de atender o paciente no meio de outros oito em uma grande enfermaria, onde há a impossibilidade de se manter o sigilo.
O importante é que para prestar assistência ao paciente, é preciso conhecer a doença, sua evolução e seu prognóstico, além da rotina pela qual ele vai ser submetido.
As notícias do estado de saúde dos pacientes, até mesmo a notícia do óbito são de responsabilidade do médico. O psicólogo deve estar disponível para acompanhar as reações emocionais que ocorrem durante e depois da notícia.
A ideia que ainda muitas pessoas têm é a de que o psicólogo tem um “bom papo”, ou que ele está ali para convencer o paciente a aceitar algum procedimento médico, ou para ajudar a família a convencê-lo do tratamento proposto.
O paciente traz além da queixa da doença, problemas pessoais, familiares e profissionais. Neste trabalho, o psicólogo deve ser continente ás queixas do paciente, deve procurar perceber se existem outros problemas além da doença que necessitem de cuidado e procurar fazer com que o paciente tenha condições de se readaptar chegando o mais próximo possível de condições normais de vida, com certa autonomia, tentarem fazê-lo aceitar a doença e não lutar contra ela e ajudá-lo a conviver com ela sem sofrimento adicional, além do necessário, é o desafio que temos todos os dias no acompanhamento do paciente. A doença pode ser utilizada ainda para se ter ganhos, que na maioria das vezes, traz problemas para aqueles que convivem com os pacientes.
Deve-se também de acordo com a necessidade e possibilidade, exercer o acompanhamento da família do paciente, ajudando-o a lidar com o problema da doença. Em relação à família é importante perceber se a família se une ao paciente, se houve uma redistribuição de papéis no contexto familiar, se há uma superproteção do paciente, que ocorre muitas vezes por questões de culpa, não só no caso adulto, idoso e criança. O psicólogo irá fazer o acolhimento com o paciente sua hospitalização, o que ela significa para o doente e para a sua família, além de tentar conhecer um pouco de sua história de vida e de sua doença. É ele quem irá procurar o paciente, oferecer ajuda a ele e ficará disponível também para sua família.
Na hospitalização, o paciente perde sua individualidade, sente uma brusca ruptura com o seu sofrimento, sente agredido pela rotina hospitalar e seu horário rígido, o que acaba por levá-lo ao conhecido processo de despersonalização.
O medo da invalidez permanente, de depender do outro, traz importante alteração em relação à sua auto-imagem, além da percepção de ser vulnerável e finito. O medo da dor física, da anestesia em casos de cirurgia e de retornar para casa após uma hospitalização trazem conseqüência para o seu estado emocional. O período de hospitalização incita o paciente a ficar mais introspectivo e passar para um processo de reavaliação de vida e valores. Se sua internação for eletiva, de emergência ou de repetição, tornará diferente a forma como ele vivencia a situação.
Por isso também cabe ao psicólogo ser o elo entre paciente/equipe/família. O trabalho do psicólogo na UTI é importante principalmente no pós-operatório, quando o vinculo formado entre eles é fundamental. A ajuda à família é tarefa do psicólogo nessa fase, inclusive determinando qual o membro da família tem condições emocionais de receber e transmitir informações aos demais.
O psicólogo deve ter atitude de interesse aberto, ou seja, estar totalmente disponível e agir de forma que promova a expressão espontânea do outro, atitude não de julgamento, que tudo ouve sem críticas, procurar não ser diretivo, mostrar intenção de realmente compreender o outro, de descobrir o universo subjetivo e sempre ser objetivo. Nossa linguagem também precisa ser compreensível ao paciente e saber se aquilo que foi dito ao paciente foi entendido por ele da forma adequada. Nem sempre o que é dito ao paciente fica retido em seu consciente.
O que se usa mais freqüentemente no hospital é a entrevista focal, quando tentamos compreender o nosso paciente levando em conta o momento pelo qual ele passa, ou seja, a sua doença e a sua hospitalização. Uma quantidade mínima de ansiedade é necessária para temos certeza de que o paciente está inserido na situação pelo qual ele passa e possa assim conseguir lidar com esse dado novo em sua realidade. Deve-se ser agente facilitador da angústia do paciente e dentro da possibilidade pontuar algumas situações para ajudá-lo.
É importante lembrar que a família, durante a entrevista, de preferência não deve ficar na enfermaria. Mas no ambiente hospitalar fica difícil que ela aceite deixar o paciente sozinho, muitas vezes pelo medo que há do que o psicólogo irá falar para o paciente. A perda de controle sobre o paciente assusta alguns familiares, e na medida do possível sua vontade deve ser respeitada.
O psicólogo foi o último profissional de saúde a entrar no ambiente hospitalar. Até hoje, sabe-se que é muito difícil se inserir na equipe de trabalho. Na realidade chega-se à conclusão de que cada profissional é dono de seu saber, mas isso não invalida o saber do outro. Sem sombra de dúvida, o trabalho em equipe visa tranqüilizar o paciente e família, além de avaliar e cuidar do paciente sob todos os aspectos: médico, enfermagem, nutricional, social, psicológico e fisioterápico, promovendo um atendimento que pretende cuidar do paciente como um ser total.
O trabalho deve ser realizado de maneira que haja consonância no tratamento, troca de informações, mesma linguagem e informações passadas ao paciente, enfim a atitude da equipe deve ser colaborativa e complementar. Deve-se ter a capacidade de escutar o outro e poder então, por meio da contribuição deste outro, repensar a sua própria visão do paciente e sua conduta futura.
Alguns casos específicos, como em outros permiti uma abordagem mais ampla com o paciente e um cuidado melhor. Portanto, nessa troca de informações e ajuda mútua, pudemos ajudar e compreender melhor o processo emocional do paciente. Essas questões, se bem abordadas, melhoram a relação equipe/paciente/família, fazendo com que o tratamento tenha uma eficácia maior, geram segurança aos familiares e ao paciente e principalmente promovem uma melhor aderência ao tratamento proposto.
Imagem da capa: Hush Naidoo on Unsplash
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