DESTAQUES PSICOLOGIAS DO BRASIL

A incrível jornada de uma mulher para oferecer um lar a crianças que seriam enviadas para o orfanato

“Minha jornada de adoção começou quando eu tinha 28 anos. Minha melhor amiga dos tempos do colégio passava por momentos difíceis e me pediu para cuidar de seus dois filhos, que tinham 6 e 10 anos na época. Vamos chamá-los de Shadow e Sidekick. Eles vieram morar comigo, e assim, eu me tornei mãe provisória. Cerca de 3 meses depois, fiquei com medo de que eles fossem enviados para um orfanato, então meu parceiro e eu investigamos o que eu precisávamos fazer para que nos tornássemos oficialmente pais adotivos provisórios para essas duas crianças que eu tanto amava.

Shadow começou a me chamar de MoMa, porque para ele eu era “more mama” (mais mamãe, em inglês). Meu parceiro e eu decidimos fazer um curso para que pudéssemos oferecer um lar temporário a outras crianças que passavam por necessdade; começamos e terminamos as aulas em dois meses. No curso, aprendemos que oferecer um lar temporário a uma criança é mais do que amar e cuidar dela, é trabalhar na reconstrução de uma unidade familiar. Restaurar a família daquela criança é o objetivo final. E foi por isso que me inscrevi no programa.

Sidekick é o irmão mais velho e ele levava isso muito a sério, atuando sempre como um protetor para o caçula, mas também era uma criança muito doce. Enquanto esperávamos pelo processo de adoção, minha amiga sentiu que estava pronta para que suas crianças voltassem para casa. Shadow quis ir para casa, mas Sidekick decidiu ficar conosco, e assim foi. Ele passou a visitar a mãe e o irmão nos fins de semana.

Na sexta-feira, 20 de janeiro de 2017, por volta das 16h, chegou uma mensagem de texto de nosso especialista em adoção. ‘Isso é o que eu estava esperando’, pensei. ‘Uma criança que posso amar, cuidar e depois promover o reencontro com sua família biológica’. Ela era uma menina de 2 anos que estava vivendo com um membro da família fora do estado, mas o caso estava sendo enviado de volta para a Flórida. Ela tinha vivido em um orfanato desde os 10 meses de idade e agora estava morando com um membro da família, mas aquele não era um lar idela para a criança. Eu me lembro como se fosse ontem, eu estava tão nervosa. Eu estava cansado depois de uma longa semana e fiquei sentada esperando até adormecer. De 20h, virou para 21:00, de 21:00 para 22h. Ainda sem bebê. Ligamos para a orientação de adoção no condado para descobrir o que estava acontecendo. Eles não tinham ideia e presumiram que ela já estava conosco. Finalmente às 2 da manhã ouvimos uma batida na porta e lá estava ela, agasalhada e dormindo. Minha Bela Adormecida.

Ela chorou por uma hora e meu ex a embalou até que ela pudesse adormecer. Ela estava assustada, muito assustada. Esta bebê havia literalmente acabado de sair de um avião com um gerente de caso que ela nunca havia conhecido antes daquela noite, e disseram que ela iria ver sua mãe. E eu definitivamente não era sua mãe. Acho que não dormi. Ela acordou cedo, meu parceiro ainda estava dormindo. Éramos apenas eu e ela. Eu me perguntei se ela conseguia falar, se tinha aprendido a usar o penico… Eu não sabia de nada. Perguntei se ela queria café da manhã e fiz cereal. Ela não comeu nada e fiquei um pouco preocupada. Coloquei um filme e ela começou a falar. Ela falava – falava muito e não parava. Ela era doce, ela era linda, ela era a Bela Adormecida.

Entramos no carro e ela imediatamente perguntou se íamos ao Walmart. Eu disse que não, mas perguntei se ela gostava do Walmart. Ela disse sim! Gosto do Walmart. ‘Então fomos às compras e eu esperava que, enquanto estivesse no supermercado, ela visse algo que gostaria de comer. Aqui estou eu, uma mãe negra com um bebê branco no supermercado tentando encontrar algo para a criança comer. Mesmo na área de subúrbio (bairros residenciais de classe média nos Estados Unidos) onde eu morava fora de Tampa, havia muitos olhares enviesados para mim. Pensei comigo mesma: ‘Por favor, não comece a gritar ou chorar’. Enquanto empurro o carrinho, ouço sua vozinha doce dizer ‘molho de maçã’. Eu disse: ‘Você gosta de compota de maçã?’ E ela disse que sim. Peguei um molho de maçã que nunca tinha visto antes, chamado Go Go SqueeZ, e ela adorou. Corri de volta para a loja por dias depois para ter certeza de que ainda tinha aquele molho de maçã para a Bela Adormecida.

Depois de ler seu arquivo, descobri que ela tinha dois irmãos. Solicitei que eles fossem transferidos conosco para se juntarem a ela. Segunda-feira à tarde lá estavam eles, um de 5 e de 10 anos, ambos meninos. Ela ficou tão animada em vê-los. Um menino de 5 anos que chamaremos de “o chefe” era hiperativo e às vezes parecia precisar de seu próprio espaço. O menino de 10 anos que chamaremos de “Big Z” era apenas um irmão mais velho que passou a maior parte da vida cuidando dos irmãos mais novos. O gerente do caso nos contatou para nos informar que as crianças tinham uma visita naquela semana com seus pais, que não as viam pessoalmente há mais de um ano. Ele nos lembrou de não nos apegarmos às crianças, porque os pais só tinham mais uma exigência a atingir antes que as crianças pudessem voltar para casa. Eu estava animada por eles. A ideia de que esses bebês pudessem ir para casa logo me deixou feliz por toda a família. A primeira visita correu bem e construí um relacionamento com seus pais, enviando-lhes e-mails e até conhecendo parentes ao longo do caminho. Em fevereiro, estávamos vendo seus pais cada vez menos nas visitas e eles pararam de fazer as coisas que deveriam fazer para que seus filhos lhes fossem devolvidos em segurança. Ficou claro que Big Z se sentia muito desconfortável por estar com seus irmãos. Ele parecia desligado deles.

Logo foi iniciado o processo para que Big Z fosse transferido para outro estado para morar com sua avó. Por mais difícil que fosse ver essas crianças separadas, era o melhor para todas as partes. O chefe estava lutando – ele era agressivo, impulsivo e difícil de acalmar quando estava chateado. Seus acessos de raiva duravam horas. Depois de receber aconselhamento e utilizar algumas ferramentas que chamamos de sua caixa de ferramentas, ele aprendeu a se acalmar por conta própria, o que ajudou tremendamente. Parte da terapia do chefe consistia em separar-se de situações em que se sentia oprimido ou em que não conseguia lidar com a situação. Aos cinco anos, isso era muito difícil para ele e ele lutava diariamente. Ele tinha essas explosões que duravam horas e a maior parte de sua raiva era dirigida à sua irmã mais nova.

À medida que as visitas aos pais diminuíam, seus comportamentos se tornavam mais radicais. Aparecíamos para promover as visitas, esperávamos 15 minutos, 30 minutos e ninguém aparecia. O chefe simplesmente não entendia o que estava acontecendo. No dia seguinte, depois das visitas perdidas, era sempre o pior. Seu professor recebia o pior dele. O tempo todo, a Bela Adormecida parecia não se incomodar com o fato de seus pais não estarem aparecendo para as visitas. Mas, ao mesmo tempo, ela estava lidando com algo totalmente diferente, um problema de apego. Isso tornou muito difícil para mim deixá-la; ela gritava e chorava. Ela estava com medo de que eu não voltasse. Eu era a mãe dela, preta ou branca, não importava, eu era a mãe dela. Então eu apenas tentava não ficar muito apegada, porque o objetivo do orfanato é sempre a reunificação da família. Mesmo que os pais não comparecessem para as visitas, tudo poderia mudar a qualquer momento.

Quando maio chegou, o chefe estava prestes a se formar em seu programa voluntário de pré-jardim de infância. Eu estava atrasada e cheguei lá cerca de 15 minutos após o início do programa. Ele parecia tão triste e chateado. Ele estava apenas olhando para o chão. Ele olhou para cima e lá estava eu, acenando como uma idiota de empolgação e ele sorriu com o maior sorriso que eu já tinha visto desde o primeiro dia em que ele entrou na minha vida. Seu rosto mudou, e naquele momento eu sabia que tinha que fazer tudo ao meu alcance para garantir que estaria em sua vida para sempre, não importando o que acontecesse. Quando o verão começou, minha casa foi inundada com mais filhos adotivos, mais diversão, mais desafios. Minha casa estava cheia de alegria com oito crianças maravilhosas correndo por aí. E eu tinha uma ‘porta giratória’ de vários bebês, de 6 meses a 1 ano de idade, que ficavam por cerca de um mês e então encontravam lares com parentes. As visitas do chefe e da Bela Adormecida permaneceram as mesmas, com eles talvez vendo os pais uma vez por mês.

Em agosto de 2017, tive a sensação de que seria assim com seus pais. Os tribunais disseram que eles precisavam rescindir seus direitos parentais. Isso foi difícil para todos os envolvidos – difícil para mim porque eu havia construído um relacionamento positivo com os pais do chefe e da Bela Adormecida. Mas foi ainda mais difícil para o chefe, pois ele tinha muitas lembranças de seus pais. Não importa se essas memórias eram boas ou ruins, eles ainda eram seus pais e queria estar com eles. O ano passou e os tribunais determinaram que a Bela Adormecida e o Chefe seriam encaminhados para adoção. Como não havia família disponível para adotá-los, a justiça determinou que o melhor lugar para eles seria permanecerem sob meus cuidados, como estavam há dois anos e meio.

Lembro-me do dia em que descobri que seriam meus filhos e teriam meu nome. Lembro-me de uma conversa com o Chefe sobre ele ser adotado. Ele não estava feliz e chorou e gritou e me disse que não queria ser adotado por mim e que queria ir com seus pais. Eu não sabia o que dizer ou como explicar a ele que isso não poderia acontecer. Enquanto ele passava por isso, a Bela Adormecida tentava entender como ela podia se tornar negra como eu. Ela costumava perguntar ‘como é que eu sou dessa cor e você é marrom?’ e eu sempre respondia que foi assim que Deus nos fez. O Chefe estava sofrendo muito e seus comportamentos estavam piorando. Ele estava agindo mal na escola e se recusou a fazer seu trabalho porque simplesmente não entendia por que não podia voltar para casa com seus pais. Expliquei a ele que havia coisas que seus pais precisavam fazer para que ele voltasse a morar com eles e essas coisas simplesmente não aconteciam. Continuei usando essa resposta toda vez que ele perguntava, e parecia que da noite para o dia sua mentalidade havia mudado.

A papelada da adoção ficou na minha mesa pelo que pareceram meses até que finalmente meu parceiro olhou para mim e disse: ‘Vamos fazer isso ou não?’ Não havia nenhuma dúvida em minha mente – a resposta foi sim! Mas eu estava procrastinando, esperando que meu filho acabasse aceitando o fato de que seria sua mãe para sempre. Nossa data de adoção foi marcada para 26 de junho de 2018. Eles eram oficialmente meus filhos. Eles eram oficialmente meus.

Depois da adoção, decidi dar um tempo na adoção temporária para poder realmente me concentrar apenas na Bela Adormecida e no Chefe e em suas necessidades. A constância era muito importante para esses dois. A Bela Adormecida precisava saber que eu não iria embora. Arranjei tempo para ela à tarde, entre pegar meu filho mais velho e ir para casa. Ela adorava fazer compras de qualquer tipo, então ela era minha companheira de compras. Mesmo indo apenas ao supermercado para comprar mantimentos semanais, ela acordava cedo, como eu, e estava sempre comigo em todos os lugares que eu fosse. O Chefe era um jogador de futebol incrível, nadador e estava indo bem em seu programa depois da escola. Ele estava aprendendo a ser um ótimo irmão e estava usando sua ‘caixa de ferramentas’. Minha família estava completa, ou assim pensei.

24 de julho de 2019. Eu estava almoçando quando recebi uma ligação de um número estranho. Isso acontecia muito com o sistema de assistência social, então você responde aos números estranhos. Quando respondi, era alguém do Departamento de Crianças e Famílias procurando por mim. Eles perguntaram sobre meus filhos, o que foi estranho, mas respondi sim a todas as perguntas. Você é a mãe adotiva? Essas crianças residem atualmente com você? Você conhece os pais biológicos? Eu finalmente disse: ‘Sim, por que você está me fazendo todas essas perguntas?’ O cavalheiro ao telefone então me informou que um bebê nasceu no dia anterior e precisava de uma casa. O bebê era irmão biológico do Chefe e da Bela Adormecida. Fiquei de boca aberta. Eu não sabia o que dizer nem o que fazer. Eu estava em choque.

Ele me perguntou se eu estava aberta para a adoão deste bebê. Uma pequena garota. Sem hesitar, eu disse que sim. Ele disse que eu poderia pegá-la no hospital no dia seguinte. No dia seguinte ?! Justamente quando eu pensei que minha jornada de adoção temporária estava terminada, Deus tinha um plano diferente para mim e isso foi apenas o começo. Nunca tinha sido mãe de um recém-nascido antes e estava com medo e nervosa, então dormia mal. Ela foi a recém-nascida mais doce que já conheci. No momento em que a conheci, vi muito do Chefe e da Bela Adormecida em seu rosto. Agora, o que eu digo a eles? Peguei a Bela Adormecida no pré-jardim de infância voluntária de verão e disse a ela que tinha uma surpresa para ela. Isso não era nada novo para ela, porque tínhamos tantos bebês adotivos entrando e saindo de nossa família. Ela só queria uma menina, já que todos os bebês anteriores eram meninos. E ela realizou seu desejo. O chefe voltou para casa e ficou igualmente animado. Para minha surpresa, tudo o que ele conseguiu dizer foi: ‘Mãe, este pode ficar?’”

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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de Inspiremore.

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