Por Marina Lemos

A interface da psicologia com a Defesa Civil vem sendo construída, no Brasil, há alguns anos, especialmente através da produção de conhecimentos sobre o tema, o que vem sendo possível porque, desde 2005, a Secretaria Nacional de Defesa Civil (SNDC) estimula organizações que se dedicam aos desastres.

O documento Brasil (2010) informa que a Defesa Civil no Brasil está organizada sob a forma de sistema, o Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC), e consiste em um conjunto de ações de prevenção e de socorro, assistenciais e reconstrutivas, destinadas a evitar ou minimizar os desastres, preservar a integridade física e moral da população, bem como restabelecer a normalidade social. O SINDEC prevê: avaliação de riscos de desastres e a preparação de mapas temáticos relacionados com ameaças, vulnerabilidades dos cenários e com áreas de risco intensificado; promoção de medidas preventivas estruturais e não estruturais para reduzir riscos de desastres; elaboração de planos de contingência e de operações, objetivando a resposta aos desastres e de exercícios simulados, para aperfeiçoá-los; treinamento de voluntários e de equipes técnicas para atuarem em desastres; articulação com órgãos de monitoração, alerta e alarme, com o objetivo de otimizar a previsão de desastres; organização de planos de chamadas, com o objetivo de otimizar o estado de alerta na iminência de desastres.

Este documento revela que a I Conferência Nacional de Defesa Civil e Assistência Humanitária apresentou mesas e palestras sobre saúde mental em várias frentes e, também, acerca da mobilização social para a prevenção de desastres, considerando a participação da psicologia, uma vez que psicólogos e outros agentes que integram o SINDEC devem atuar tanto na preservação da saúde mental das pessoas em situações de desastre quanto na garantia da proteção e da segurança. É consenso que a atuação deve ser multisetorial e ocorrer de forma integral, nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), a partir de uma ampla participação comunitária.

Ressalta ainda que, no Município, ambiente mais próximo dos desastres, podem ser considerados como atores sociais estratégicos: Prefeito, Secretário Municipal de Saúde, Presidente de Associação de Amigos de Bairro, Presidente de Associação Comercial e Comunitária, diretores de escolas, benzedeiras, representantes de entidades profissionais, representantes de conselhos tutelares, agentes de saúde, entre outros. É possível, ainda, mobilizar crianças, jovens, idosos, mulheres, todos atuando de acordo com os seus perfis e características pessoais. A identificação dos sujeitos sociais, dos seus respectivos perfis e dos recursos disponíveis pode resultar na mobilização e articulação em rede e no registro destes atores de acordo com a capacidade de mobilizar os recursos e de interferência no desenvolvimento das ações. A identificação e a mobilização dos atores precisam garantir a integração entre eles uma vez que antes atuam no mesmo território mas isolados, e, depois, passam a atuar conjuntamente, construindo práticas alternativas na forma de gestão. A mobilização desses atores possibilitará a articulação necessária para promover a sustentabilidade e a eficácia de programas em Defesa Civil. Portanto, é fundamental a identificação dos agentes locais e a sua preparação para a continuidade das ações de forma participativa.

Os psicólogos, segundo o documento citado, são profissionais relevantes no processo de sensibilização dos atores sociais sobre a redução de riscos de desastres e a importância de se integrarem nas ações de Defesa Civil. Para tanto, é necessário criar espaços de encontro onde sejam abordados temas relativos à cultura de redução de riscos, ampliando a percepção de risco das comunidades. A sensibilização caracteriza-se, portanto, pela produção coletiva de conhecimento sobre redução de riscos de desastres e sobre as vulnerabilidades frente aos riscos. Para estimular a ampliação do olhar dos atores sociais sobre o risco, o Psicólogo pode propor saídas de campo para: caminhar pela comunidade; exercitar o “olhar”, buscando registrar por meio de imagens (fotografias, desenhos, imagens mentais) a realidade da comunidade, que representarão as percepções dos atores sobre o contexto em que estão inseridos; realizar perguntas sobre o que observam, sentem, o que há de novo que não haviam visto antes e quais os riscos visíveis.

Finalmente, o documento ressalta que, após o desastre, vem a fase de desmobilização, quando os profissionais e, especialmente, os psicólogos já identificaram o grau de envolvimento no conflito, tanto dos atingidos como das testemunhas presenciais, das equipes de saúde e emergência, equipes de resgate e voluntários, e, também, da rede de suporte no Município. Todos os recursos empregados devem ser desmobilizados a partir de planejamento gradual, proporcional à reabilitação dos cenários afetados. Esse é um momento de transição dentro da fase de recuperação e reconstrução, quando o Psicólogo pode atuar a partir de ações que previnam, fechando o ciclo das fases: prevenção e preparação, resposta e reconstrução.

 

Marina Lemos

Marina é de Salvador, Bahia, e morou em Londres por 5 anos. É psicóloga e concluiu o Mestrado em Gestão de Riscos e Desastres, em Londres. Deixou a cidade Londrina em agosto de 2015 para seguir outro sonho: tornar-se uma psicóloga nômade digital e morar em vários países da Ásia por um longo período de tempo. É amante da leitura, de viagens, da natureza e de psicologia. Atualmente, empresária proprietária da TOP Terapia Online, empresa especializada na prestação de atendimento psicológico online para brasileiros que moram em qualquer parte do mundo.

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