O que estamos assistindo nas mídias sociais, que se reproduz em nosso cotidiano, é uso das palavras de baixo calão, um vocabulário repleto de termos chulos, impróprios, ofensivos, rudes, obscenos e agressivos, que atestam a falência moral de certos indivíduos.
A palavra é um instrumentos poderoso, mas se usada para o mal contribui com a propagação de uma linguagem venenosa, tomada pela grosseria e vulgaridade, que se expressa em um linguajar antissemita, xenófoba, racista, homofóbica, machista, misógina etc.
É por isso que cresce a paixão pelo discurso autoritário, que utiliza uma língua venenosa, para destruir a reputação e a imagem de pessoas e grupos. Aliás, é uma fala, que não mede as consequências em manifestar seus preconceitos sem nenhuma preocupação ética e estética
Esse linguajar virou modismo na Internet e clichês nos discursos políticos e religiosos, que se repetem de forma corriqueira no meio de gente pobre ou rica, religiosa ou não, escolarizada ou analfabeta, anônima ou famosa. Isso se transforma em hostilidade em relação aos seus semelhantes, que são vistos como inimigos a serem rebaixados ou eliminados.
A linguagem venenosa está contaminada pelo prejulgamento e carregada de ódio contra a diversidade humana, onde os sujeitos fantasiam serem detentores de uma “moral ilibada”, que lhes dariam o direito de humilhar aqueles que são diferentes.
Sigmund Freud diagnosticou que essa é uma linguagem que se originou no desenvolvimento psicossexual mal-resolvido na infância, que continua sendo reprimido ou neurotizado na vida adulta. Já Sidarta Gautama, o Buda, alertou que uma fala baseada na crueldade, nos gritos, nas calúnias e nas maldições se transforma em veneno para si mesmo e para os outros.
O Apóstolo Paulo, que foi um dos mais influentes escritores, teólogos e pregadores do cristianismo, escreveu em suas epístolas sobre os perigos do linguajar inapropriado. “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes“. Ele está citando um provérbio grego, que utiliza o termo “homiliai”, que significa “companhia” e “fala”.
Em outras palavras, Paulo está dizendo que as más companhias e a linguagem suja corrompem a reputação de uma pessoa, notadamente, aquela que se diz cristã, que ao usar um linguajar profano desonra o nome de Deus, revelando o que ela é por dentro.
Portanto, os indivíduos para não morrem como veneno da sua própria língua devem se libertar dos seus preconceitos e aceitar a existência da diversidade humana, pois é como disse o livro dos Provérbios: “A língua tem poder sobre a vida e sobre a morte; os que gostam de usá-la comerão do seu fruto”.
Jackson Buonocore
Sociólogo e psicanalista
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