Com as descobertas teóricas da Psicanálise e sua prática clínica, Freud chegou a afirmar que não acreditava no objetivo da Pedagogia. Para ele, era impossível alguém ser educado por outrem. Atrás dessa frase polêmica, o que o fundador da Psicanálise queria apontar era para os efeitos nefastos de uma má educação: uma pedagogia que alimenta preconceitos; leva a criança ou o adolescente a aceitar o discurso do adulto sem senso crítico; valoriza a passividade e a falta de iniciativa e apresenta uma versão mascarada da realidade.
A própria vida de Freud e de uma grande parte de seus seguidores levam-nos a valorizar, isso sim, uma pedagogia que estimula a criatividade e a curiosidade; ajuda a entender o que nos acontece emocionalmente; desperta a criança e o adolescente para o que acontece no entorno (cidade, estado, país, mundo); enfatiza o valor da pessoa humana e da sustentabilidade do planeta; vê o sujeito como único e original, dono de uma subjetividade rica que supera o que digam discursos religiosos ou afins, identificando e rejeitando o que aprisiona e escraviza.
A autêntica Psicanálise aponta como nefasta uma pedagogia que tenta dobrar a vontade da criança e do adolescente, desrespeitando o desejo de cada um e transformando o educando numa criatura meramente submissa e “obediente”, por meio explícito (ou não) do autoritarismo, da manipulação das consciências e da repressão. Pior ainda se tais meios forem utilizados de forma violenta, seja violência física, psicológica ou espiritual. Tapas, surras, murros, gritos, ameaças, chistes, discriminações, indiferenças, silêncios, assédios morais são exemplos vivos destes instrumentos de uma má pedagogia. Que começa em casa, no seio da família, e termina na escola que não dá atenção aos verdadeiros valores humanos.
Uma sociedade violenta como a nossa poderia perguntar-se qual a origem de tanta violência. A origem está em cada um de nós: o pai, a mãe, o parente, o professor ou qualquer figura de autoridade que se autoriza, em nome de Deus ou de uma “boa educação”, a humilhar a criança ou o adolescente. Violentá-los. Molestá-los. Abusá-los. Maltratá-los. E ainda, muitas vezes, convencendo-os (pois foram em si mesmos convencidos) de que agem assim porque os amam. Quem ama, cuida. Cuida com carinho. Carinho físico, inclusive. Cuida com afeto, amizade, estima, alegria, apoio. Nunca com qualquer rastro de crueldade.
Quando não trabalhamos nosso interior (o inconsciente), tendemos a repetir os padrões que nos foram passados por nossos pais ou figuras parentais. Essa espécie de má pedagogia violenta é passada de geração em geração, convencendo cada um de nós de que o que é feito o é em nome de Deus ou da boa intenção. Quantos de nós defendemos as surras e as humilhações sofridas nas mãos das pessoas que tinham a obrigação de nos amar, reconhecer, apoiar e compreender. Defendemos as posturas imperdoáveis de nossos pais ou educadores, porque eles mesmos nos ensinaram, com seu jeito de ser, a que reprimíssemos o nosso ódio em relação a tais métodos ou em relação a eles mesmos.
A Psicanálise sabe que a educação tradicional, que inclui castigos e humilhações diversos, leva à negação do sofrimento e dos sentimentos que nutrimos quando éramos oprimidos. A criança, melhor ainda que o adolescente, mas este também, utiliza a negação como mecanismo de defesa de sobrevivência emocional. Mas, como quase toda defesa, o que serviu para a criança atrapalhará o adulto, levando-o a fugir de vínculos afetivos autênticos e a procurar como parceiro(a) pessoas que continuem a agressão começada na infância e/ou na adolescência.
Exemplos piorados dessa educação absurda é o de tiranos. A psicanalista Alice Miller, em seus diversos livros sobre este assunto, afirma que na infância dos tiranos destrutivos o que se encontra é a crueldade dos pais e educadores, sem que tenha havido um só ser humano que os tenha amado e acolhido em sua singularidade. Os maus-tratos extremos, a idealização dos pais, a glorificação da violência como algo bom, a negação das dores e o desejo inconsciente de vingança tornam-se em crueldade extrema contra povos inteiros. É o caso de Hitler, Stalin e tantos outros, em menor grau.
Uma boa educação valoriza a participação ativa da criança ou adolescente: ensina-os a perguntar e a refletir; a comparar ideias e tirar suas próprias conclusões, aceitando novos jeitos de expressão. Aceita o sujeito como ele é e como ele deseja ser, valorizando o diálogo, os direitos humanos amplos e irrestritos e a cooperação de todos. As regras e os limites são colocados com autoridade, não com autoritarismo e nunca utilizando-se de meios violentos. Nunca estimula o preconceito, o fanatismo, o fundamentalismo, a hipocrisia, as ideias mesquinhas sobre Deus, o mundo ou o homem, muito menos a prática da injustiça em qualquer grau ou forma. A verdadeira educação alarga o raciocínio e ensina o amor com o exemplo daquele que ensina.
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