A maternidade depois dos trinta anos

Por Sirley R. S. Bittú

A maternidade é percebida para algumas mulheres como o início de um novo ciclo, um marco diferencial que consagra de forma concreta a abrangência do papel feminino, e talvez seja por isso que a maternidade pode tornar-se uma dolorosa obsessão. Muitas mulheres desenvolvem dentro de si o desejo de ser mãe. A maternidade após os trinta ,   raramente é um erro de cálculo ou obra do acaso, trata-se na maioria das vezes de algo planejado, sonhado e muito desejado. Algumas vezes torna-se um objetivo de vida condição para sentir-se realizada no mundo.

A revolução do papel da mulher na sociedade, e sua conseqüente inserção no mercado de trabalho de forma cada vez mais competitiva modificou  consideravelmente as características da mulher atual. É claro que a liberdade sexual também ajudou, atualmente a mulher pode escolher a maternidade desvinculando-a da relação sexual. Historicamente somos herdeiras de uma educação onde o amor e o sexo formava um dueto inquestionável para uma mulher de “boa índole”, o prazer só era permitido relacionado com o sentimento mais sublime, o amor, desta forma mantinha-se uma visão da mulher, comparável apenas ao aspecto divino dos anjos e não aos seres  humanos.

A mulher, tanto como o homem, fazem parte da mesma espécie, por mais incrível que isso possa parecer para alguns, guardando obviamente diferenças entre si, não apenas físicas mas, emocionais e culturais, que se revelam em sua forma de se relacionar com o mundo. O ser humano, portanto, homens e mulheres, sentem, desejam e são capazes de amar de várias formas, cada um com suas peculiaridades.

A mulher está aprendendo a buscar seus desejos, a ter projetos outros além de casar, e ter filhos. Com o desenvolvimento emocional e cultural tanto da mulher como do homem e o aumento de sua autoconsciência, a maternidade está deixando de ser manipulada livremente pelos controles sociais de natalidade, ou mesmo pelos interesses políticos de alguns. O desejo feminino passou a ser mais aceito e reconhecido, numa sociedade tradicionalmente patriarcal.

Muito dessas mudanças estão acontecendo, como resultado do questionamento de fórmulas antigas e consagradas onde às idéias sobre sexo, sexualidade, prazer e amor eram associadas à sujeira, vergonha, medo, dor, repulsa e culpa. A mulher está tentando aprender com os homens a separar amor e sexo, enquanto o homem reciprocamente, tenta aprender a juntar as duas coisas.

Temos obviamente ganhos e perdas com essa revolução social. As dificuldades em estabelecer relações de intimidade, por exemplo, tornaram-se “favorecidas” nesse contexto uma vez que a diferença entre autonomia emocional e o medo de relacionamentos afetivos possuem entre si uma tênue divisão.

Um  dos resultados dessa reorganização social, que podemos considerar positivo, foi à maternidade estar tornando-se uma escolha cada vez mais consciente.

A maternidade após os 30 anos de idade passou a ser algo comum dentro desse cenário, pois freqüentemente é uma opção de mulheres que já construíram sua vida profissional e se sentem maduras e preparadas emocionalmente para assumir tal responsabilidade.

Com a gravidez “tardia” (na verdade não podemos pensar em hora certa, ou tempo certo, mas em nossa hora ou nosso tempo…), surgem dificuldades naturais do ponto de vista biológico, o corpo precisa se adaptar a nova necessidade para dar conta dessa demanda. O fantasma da infertilidade surge para muitos nesse momento quase como o expiador de suas culpas.

Aprendemos através do processo de autoconhecimento que a culpa surge muitas vezes, da dificuldade em assumirmos as escolhas e as opções que fazemos durante nossa vida. Ela é alimentada por  inseguranças internas, dificuldades em identificar nosso próprio

tempo/ritmo , e “temperada”  por nossos medos e desconhecimentos de nossos potenciais, tão necessários para lutar contra as dificuldades que surgem em nosso caminho.

Em sua evolução o ser humano está constantemente fazendo escolhas e com isso reescrevendo sua história, adaptando sua espécie as suas novas necessidades. Possuímos em nós um potencial criativo que nos possibilita esta transformação. Precisamos talvez focar nossa atenção aproveitando e direcionando essas mudanças, de forma a permitir o florescer do melhor em nós, quem sabe assim o repensar sobre o papel de ser mãe seja o início da revalorização da vida e traga consigo o redimensionamento da agressividade humana e do amor, como partes de um dueto que precisa reencontrar seu equilíbrio.

Sirley Bittu

Psicóloga Especialista Clínica, Psicodramatista Didata e Supervisora. Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA.

Recent Posts

Dicas para controlar os gastos e economizar nas compras

Você ama comprar roupas, mas precisa ter um controle melhor sobre as suas aquisições? Veja…

1 dia ago

Minissérie lindíssima da Netflix com episódios de 30 minutos vai te marcar para sempre

Qualquer um que tenha visto esta minissérie profundamente tocante da Netflix vai concordar que esta…

1 dia ago

Saiba o que é filofobia, a nova tendência de relacionamento que está preocupando os solteiros

Além de ameaçar os relacionamentos, esta condição psicológica também pode impactar profundamente a saúde mental…

1 dia ago

‘Mal posso esperar para ficar cega’; diz portadora de síndrome rara cansada de alucinações

Aos 64 anos, Elaine Macgougan enfrenta alucinações cada vez mais intensas conforme sua visão se…

2 dias ago

Pessoas que se sentiram ‘excluídas’ na infância costumam desenvolver estas 11 características na vida adulta

Segundo a psicóloga Drª. Alexandra Stratyner, “a infância é um período crucial para o nosso…

2 dias ago

Economia nos cuidados diários: como higienizar seu pet em casa corretamente?

Manter o ambiente limpo e uma boa higienização, além de idas regulares ao médico, são…

2 dias ago