Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa

 

Por que muitas vezes preferimos permanecer em situações ruins, que não são mais satisfatórias ou prazerosas? O primeiro ponto corresponde àquela velha questão: se você continuar agindo da mesma forma, continuará tendo os mesmos resultados. Se quisermos crescer, se quisermos ser mais, precisamos fazer diferente, pensar e agir para além do que já vem sendo feito.

A importância do autoconhecimento está em entender quais foram os inputs, quais foram as questões que nos levaram a permanecer, a aceitar determinadas situações em nossa vida que não nos faziam mais felizes, que já estavam esgotadas. O que mais explica os padrões de comportamento intrínsecos dos seres é o que podemos observar no comportamento dos sapos em resposta a dois estímulos básicos. Sabe-se que, quando um sapo é jogado em uma panela de água fervente, sua reação é imediata no sentido de saltar para fora. No entanto, se colocado na panela fria que vai sendo aquecida lentamente, não é capaz de reagir e saltar para fora quando começar o perigo de morte. Ele perde efetivamente essa capacidade de reação, permitindo que a situação determine a sua morte.

Analogamente, é o que ocorre com o ser humano frente a um quadro agudo ou a um choque (em nível físico ou emocional), e frente a um quadro crônico ou quadros emocionais que estressam progressivamente o indivíduo. A correria do dia a dia, as loucuras dessa nossa busca desenfreada, enfim, são coisas tão sutis que nem nos damos conta do mal que nos fazem. Vamos agindo e reagindo no automático.

Precisamos saber enxergar o todo e nos enxergar diferente do que estamos sendo. Se nos projetarmos como mais um, seremos mais um. É fundamental trabalharmos o pensamento, nos projetarmos e criarmos oportunidades para que o que queremos aconteça.

Se determinadas situações não nos fazem bem, podemos começar nos visualizando fora delas. Como seria se fosse diferente? Se não estivéssemos ais ali? Como podemos nos conhecer melhor e não nos permitirmos estar numa panela de água fria que vai aquecendo aos poucos…

Para mudar qualquer situação precisamos saber perder, abrir mão. Precisamos deixar para trás padrões, crenças, necessidades e até pessoas que não fazem mais parte desse mundo que construímos ou queremos hoje. Para sermos mais, para sermos grandes, sejamos inteiros, como disse Fernando Pessoa. Mas sejamos também conscientes e desapegados.

Preferimos muitas vezes permanecer nas situações ruins ao desconforto da mudança. Pois a mudança é um salto no escuro. No entanto, a partir do momento que vamos superando os obstáculos do caminho, que vamos solucionando problemas, as luzes vão se acendendo, e, quando menos esperamos, ao olhar para o lado veremos refletidas as várias facetas do que somos e nem imaginávamos. Veremos aonde chegamos, e mais: veremos o que nos tornamos.

Ana Matos

Psicanalista Integrativa, Filósofa e Coach.

SINPESP 769

Ana Matos

Terapeuta psicanalista integrativa, filósofa, escritora e coach de carreira. Experiência de 10 anos em atendimento terapêutico. Trabalha questões de relacionamentos afetivos, conflitos existenciais, ansiedade, autoconhecimento, perdas, carreira, entre outras. Estudiosa do comportamento humano há 20 anos, dedica-se ao estudo da filosofia, à teoria psicanalítica, à terapia cognitiva, às terapias holísticas e ao existencialismo. Escreveu o livro – O caminho para o inevitável encontro consigo mesmo. Criou o método Personal Soul Care - uma abordagem flexível, focada na pessoa, no momento e na sua história.

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